Antecedentes de um país que poucos conhecem
No dia 19 de Dezembro de 2015, a irmã Maria da Guadalupe Rodrigo, missionária da Congregação do Verbo Encarnado, situada em Aleppo, na Síria, falou sobre a situação real que se vive naquele país, a convite da diocese de São Sebastião, em Espanha (www.elizagipuzkoa.org). Nas próximas semanas, com a devida autorização da diocese de São Sebastião, O CLARIM trará aos seus leitores, em alguns capítulos, uma transcrição do seu relato.
O meu nome é Maria da Guadalupe Rodrigo. Sou cidadã argentina. Maria de Guadalupe é o nome religioso que recebi quando vesti o hábito. O meu nome de baptismo é Excimena porque o meu avô é espanhol. Ele nasceu em Tudela…
Estou muito agradecida por me terem convidado a vir aqui prestar este testemunho que, na realidade, não é um testemunho pessoal, mas sim o testemunho dos cristãos perseguidos, nossos irmãos e irmãs da Síria e do Iraque. Irei falar em particular sobre a Síria.
Juntei-me à família religiosa do Verbo Encarnado quando tinha 18 anos ainda na Argentina. Depois de anos de preparação, formação, sabendo que poderia ser enviada para qualquer lugar nos cinco continentes, onde trabalhamos, os meus superiores ofereceram-me – propuseram-me – o Médio Oriente como primeira missão.
Primeiro fui para a Fundação de Belém, na Terra Santa, em Belém, com um grupo de irmãs e padres. Podem imaginar a sensação gloriosa de estar ali. Foi uma dádiva. Foi um grande consolo que o Senhor nos deu nesses dois anos, como um incentivo para o que haveria de vir. Foram anos maravilhosos na Terra Santa. Dedicámo-nos a estudar a língua árabe. O que necessitou de bastante estudo intensivo – dois anos e meio a estudar a língua. Dali fomos para o Egipto, onde estive doze anos. Foi um belo apostolado, uma missão muito intensa.
Durante os anos de trabalho no Egipto foram-me concedidos cargos dentro da Congregação, como directora regional/provincial, o que me obrigou a viajar para vários lugares, despendendo o meu tempo com as diferentes comunidades existentes no Médio Oriente. Este facto deu-me a oportunidade de conhecer as diferentes realidades que temos na Terra Santa, em Israel, Palestina, Jordânia, Iraque, Síria, Tunísia, e no próprio Egipto.
Ao fim de doze anos no Egipto a minha saúde deteriorou-se consideravelmente. Sentia-me exausta. Foi quando os meus superiores sugeriram que escolhesse um lugar tranquilo onde pudesse descansar e recuperar durante alguns anos.
E foi assim que pedi para ir para a Síria. Estávamos em Janeiro de 2011. Um mau ano para escolher tal local para descansar. Mas quero sempre frisar este facto, para que as pessoas compreendam o que a Síria era antes desta guerra: era um lugar que qualquer um poderia escolher para descansar. Na Síria havia algo fora do comum, que eu nunca vira noutros lugares do Médio Oriente: os cristãos e os muçulmanos viviam bem juntos.
Nós cristãos somos uma minoria no Médio Oriente, mesmo sendo a nossa terra. Somos uma minoria que é mais ou menos perseguida, dependendo das circunstâncias e/ou de cada lugar. Mas na Síria podia ver-se um grupo de amigos constituído por cristãos e muçulmanos. Extremamente raro!
Talvez este facto fosse favorecido pelo Governo laico de Bashar Al-Assad, que sucedeu a seu pai, Hafez Al-Assad – pertencem a uma dinastia, a uma tribo, que é das mais moderadas entre todas as facções do Islão, denominada Alawites. Foi por essa razão que nunca impuseram a Lei Islâmica como lei civil do País. Por isso existia um Governo laico e alguma liberdade religiosa. As minorias gozavam de alguns direitos. Mesmo se levarmos em conta que se vivia sob um regime ditatorial. Esse facto contribuiu para uma maior paz social. Além disso também fomentou a prosperidade e o bem estar de que o País gozava.
(Tradução: Pe. José Mario Mandía e António R. Martins)