Não fora outro acontecimento de grande relevância para a sociedade portuguesa, eu diria que a passada semana marcou mais um sensacional episódio da marcha “impiedosa” da justiça portuguesa. Refiro-me naturalmente a dois casos que, na sua continuidade processual, tiveram mais um inesperado procedimento da justiça.
Um deles foi o caso do ex-deputado do PSD Duarte Lima (na foto) que, julgado por um Tribunal de primeira instância sobre o caso que o envolveu com o famigerado BPN, foi condenado a dez anos de prisão por burla qualificada e branqueamento de capitais, tal como outras diferentes penas aplicadas aos seus “associados” no esquema.
O interessante desta decisão judicial, à qual o arguido ainda pode interpor recurso continuando em liberdade, é o “peso” desta sentença, situação a que não estávamos habituados sempre que um político é apanhado nas malhas da justiça.
A outra, não menos interessante, foi aquela que envolveu dez procuradores e 200 inspectores da Polícia Judiciária numa busca à sede, às instalações informáticas e às casas e escritórios dos ex-administradores do Banco Espírito Santo, na procura de mais elementos que possam ser associados ao inquérito em curso a este banco.
Um dos factos curiosos é o de só agora se proceder a esta mega-operação, após várias semanas decorridas depois da acusação a Ricardo Salgado, que se mantém em liberdade após ter pago uma caução de três milhões de euros. Situação que nos pode levar a pensar que, se havia alguma coisa importante a esconder ou destruir, isso já aconteceu.
Outro elemento consequente desta enorme busca foi o Ministério Público (MP) ter constituído arguidos vários directores do Novo Banco, a chamada parte “boa” do antigo BES. Afinal, ao que parece, as “maçãs podres” continuavam dentro do cesto…
Estes e outros processos do passado recente, bem como aqueles que continuam a ser conduzidos pelo “Batman” do MP, o juiz Carlos Alexandre, dá-nos a ideia de que a justiça portuguesa está finalmente a funcionar para todos. No entanto, estranho a mudança e o súbito “apetite” por estes casos tão mediatizados. Prefiro aguardar pelo cumprimento integral e perfeitamente legal desta “nova” justiça, antes de formar uma opinião definitiva.
Um outro tipo de assunto que no passado fim de semana mereceu a particular atenção dos portugueses foi o congresso do Partido Socialista.
Portugal assistiu à consagração de António Costa como Secretário Geral do Partido Socialista, num momento particularmente difícil para os seus militantes e simpatizantes, a braços com sentimentos contraditórios após a prisão do seu anterior líder, José Sócrates.
Mas Costa soube conduzir magistralmente todo o congresso:
– Conseguiu levar os congressistas a separarem os afectos da política, apesar do coro de jornalistas que, como vespas, picavam todos os presentes com perguntas sobre Sócrates e raramente se referiam aos trabalhos do Congresso;
– Soube estabelecer as fronteiras que separam o PS da política neo-liberal da actual maioria, tentando erradicar a impressão, tantas vezes referida pelos cidadãos, de que não existem diferenças entre os partidos do “centrão”;
– Afirmou as grandes orientações estratégicas do partido, evitando a personalização do poder partidário e respeitando as futuras decisões dos órgãos de direcção do partido acabados de eleger, e não cedeu à tentação das suas oposições em conhecer, antes de tempo, as propostas concretas do partido para a governação do País;
– Fez um último discurso político arrebatador, falando de pessoas às pessoas, introduzindo uma lufada de ar fresco numa sociedade em que o cidadão tem sido tratado apenas como um número estatístico, e soube estimular os portugueses à reflexão e participação no modelo de sociedade que querem construir.
Mas um congresso, apesar da sua importância, é ainda um congresso e os portugueses, que tanto se têm afastado da política e dos políticos nacionais, precisam de muito mais para poder voltar a acreditar.
Se alguns políticos querem de facto voltar a aproximar a nossa população dos seus objectivos e conseguir níveis razoáveis da sua participação política, terão de analisar e corrigir os motivos que os levaram a afastarem-se dela.
Um trabalho a longo prazo que vale a pena iniciar, para bem da própria sobrevivência do regime….
Luis Barreira