O que é a Falácia do Termo Médio Não Distribuído?
Hoje vamos falar de duas regras relativas ao termo médio.
Regra n.º 3: O termo médio não pode aparecer na conclusão. O termo médio é a única ponte que nos permite fazer a ligação entre o termo menor (S) e o termo maior (P). Ele não pode ser envolvido na conclusão. Embora isto seja bastante óbvio, muitas vezes acontece confundirmos o termo médio com os outros dois termos. Por exemplo:
Aristóteles era um filósofo.
Aristóteles era pobre.
Logo, Aristóteles era um filósofo pobre.
“Aristóteles” é o termo médio, e não é suposto aparecer na conclusão.
Regra n.º 4: O termo médio tem que ser universal (ou distribuído) em pelo menos numa das premissas.
Antes de continuarmos, relembremos novamente os quatro tipos de proposições categóricas.
A (afirmativa universal): Cada homem é mortal / Todos os homens são mortais. uS + pP
E (negativa universal): Nenhum homem é um anjo / Todos os homens não são anjos. uS – uP
I (afirmativa particular): Alguns humanos são machos. pS + pP
O (negativa particular): Alguns humanos não são machos. pS – uP
Vejamos o seguinte exemplo:
Todos os fantasmas são imaginários. (uS + pM)
Todos os sonhos são imaginários. (uS + pM)
Logo, todos os fantasmas são sonhos. (uS + pP)
Qual é o termo médio (M)? “Imaginário”.
O que está errado nisto? Na premissa menor “Todos os fantasmas são imaginários”, o termo médio “imaginário” é particular (ou não distribuído). Ele não se refere a todas as coisas imaginárias, mas apenas a algumas. O mesmo acontece com a premissa maior “Todos os sonhos são imaginários”: aqui, “imaginário” também é particular (ou não distribuído). A regra define que “imaginário” deve ser universal (ou distribuído) tanto na premissa menor como na maior. O que aqui não é o caso.
Um outro exemplo:
Todos os seres humanos são mortais. (uP + pM)
Todos os peixes são mortais. (uS + pM)
Logo, todos os peixes são seres humanos. (uS + pP)
Qual é o termo médio? “Mortal”. Em ambas as premissas ele é particular ou não distribuído. Assim não podemos chegar a uma conclusão correcta.
Podereis perguntar: Haverá algum caso em que o termo médio é particular em ambas as premissas, e mesmo assim a conclusão seja correcta? Sim. Se bem que sejam excepções. Exemplo:
Todos os seres humanos são mortais. (uP + pM)
Todos os americanos são mortais. (uS + pM)
Logo, todos os americanos são seres humanos. (uS + pP)
Neste caso, a conclusão é verdadeira, ainda que o raciocínio seja deficiente.
A seguir temos um exemplo de uma falácia do termo médio, aparentemente mais sofisticada, que tem aparecido no ciberespaço (se souberem a sua origem digam-me). Palpite: o termo médio é “sofrer menos ataques de coração”.
Os japoneses comem muito pouca gordura e sofrem menos ataques de coração do que os britânicos ou os americanos.
Os franceses comem bastantes gorduras e sofrem menos ataques de coração do que os britânicos ou os americanos.
Os italianos bebem quantidades excessivas de vinho tinto e também sofrem menos ataques de coração do que os britânicos ou os americanos.
Logo, comam e bebam o que quiserem. O que vos mata é falar Inglês.
Pe. José Mario Mandía