Última Eucaristia foi Celebrada há Quinze Anos

Missa pode voltar às Ruínas de São Paulo.

A celebração eucarística deverá realizar-se num dos últimos sábados de Outubro, no âmbito da comemoração do mês missionário extraordinário. A concretização da iniciativa está, no entanto, dependente da autorização do Instituto para os Assuntos Municipais.

Década e meia depois de terem acolhido pela última vez uma cerimónia de natureza católica, as Ruínas de São Paulo deverão voltar a servir de palco a uma missa. A informação foi adiantada a’O CLARIMpelo padre Manuel Machado, chanceler da diocese de Macau.

A eucaristia poderá ter lugar em Outubro, no âmbito do mês extraordinário da missionação, caso o recém-criado Instituto para os Assuntos Municipais não coloque entraves aos planos do Paço Episcopal. «Pedimos ao antigo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais autorização para organizar duas iniciativas, uma na Praça do Tap Seac e outra nas Ruínas de São Paulo», explicou o padre Manuel Machado. «Já fizemos alguns contactos informais e o que nos disseram foi que, em princípio, não haverá grandes problemas. Como houve esta mudança, com a criação do Instituto para os Assuntos Municipais, teremos de esperar. De qualquer maneira, queremos fazer alguma coisa nas Ruínas de São Paulo. É um lugar emblemático», complementou o sacerdote.

Caso o programa com que a Igreja Católica do território tenciona homenagear os muitos missionários que passaram por Macau ao longo dos séculos não sofra grandes alterações, a Praça do Tap Seac deverá receber no início de Outubro um certame festivo, com o qual a Diocese se propõe ilustrar as actividades que desenvolve no território. «Gostávamos de organizar uma espécie de carnaval na Praça do Tap Seac, com o objectivo de permitir que as pessoas fiquem a conhecer as paróquias, as escolas e os organismos que integram a estrutura da Igreja. O objectivo passa por ter música e alguns espectáculos, com o intuito também de atrair a juventude», referiu.

O ponto alto das celebrações do mês missionário extraordinário – iniciativa com a qual a diocese de Macau responde ao pedido formulado pelo Papa Francisco de colocar em destaque a dimensão missionária da Igreja – deverá, no entanto, materializar-se num dos últimos sábado de Outubro, com a celebração, nas Ruínas de São Paulo, de uma missa vespertina. «A carta que a Diocese enviou ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais foi escrita por mim e eu sublinhei que a celebração, a ocorrer, seria conduzida num sábado, mais para o final da tarde, de modo a não prejudicar muito a actividade turística», explicou o responsável, salvaguardando que «a resposta ainda não chegou e por isso ainda está tudo em aberto».

É preciso recuar quinze anos para encontrar o momento em que uma missa foi pela última vez celebrada na antiga Igreja da Madre de Deus. Em 2004, a escadaria das Ruínas de São Paulo acolheu o evento religioso, precisamente no ano que a Igreja dedicou à Eucaristia. «A última vez que se fez lá uma celebração a nível diocesano foi em 2004, no Ano da Eucaristia. Muitas coisas mudaram entretanto. Nesse ano, ainda assim, a celebração foi conduzida num Domingo e as demais eucaristias foram canceladas. O resultado foi uma enchente. O altar estava situado ao fundo da escadaria, para que os degraus pudessem servir como banco, e a verdade é que as escadas estavam cheias», lembrou o padre Manuel Machado.

O mês missionário extraordinário com o qual a Santa Sé pretende assinalar o centésimo aniversário da promulgação da carta apostólica Maximum Illud, documento com o qual o então Papa Bento XV procurou impulsionar à época a actividade missionária, é uma das duas grandes iniciativas que a Igreja Católica do território se propõe levar este ano a bom porto. A outra – o triénio que a diocese de Macau consagra às expectativas da juventude – já está em curso desde o início de 2019 e prolonga-se até final de 2021.

No corrente ano celebram-se também duas efemérides de vulto, ainda que o programa de comemoração de ambas ainda não tenha sido decidido pela Diocese. A 1 de Maio a igreja de São José Operário – o último templo católico a ser construído no território antes da transferência de administração de Macau para a China – comemora vinte anos de existência. E a Santa Casa da Misericórdia de Macau, organismo fundado em 1569 por iniciativa do primeiro epíscopo do território, D. Melchior Carneiro, completa 450 anos de existência.

CAIXA

D. João Paulino quis reerguer a Mater Dei

Ex-líbris do território e referência incontornável da história de Macau, o espaço agora conhecido como Ruínas de São Paulo foi palco de várias celebrações eucarísticas depois de um voraz incêndio ter reduzido a Igreja da Mater Dei e o colégio contíguo de São Paulo a escombros na fatídica noite de 26 de Janeiro de 1835.

A 4 de Dezembro de 1904, o então bispo D. João Paulino oficiou a celebração de uma eucaristia nos destroços da Igreja da Madre de Deus, numa cerimónia que culminou com o lançamento da primeira pedra do que se anunciava como a desejada empreitada de reconstrução do templo, numa missão que tinha como principal dinamizador o pároco de Santo António, padre António José Gomes.

O episódio é recordado pelo monsenhor Manuel Teixeira na obra “Toponímia de Macau”. O sacerdote e historiador foca o teor apaixonado da homilia então proferida pelo pregador responsável pela paróquia de Santo António, que convidou todos os presentes a jurar que se comprometiam a devolver a Igreja da Madre de Deus ao seu antigo esplendor. Com o beneplácito da Diocese foram promovidas quermesses, organizaram-se lotarias e dinamizaram-se festas com o propósito de angariar o financiamento necessário para levar a obra a bom porto, mas o desejo de fomentar a reconstrução do mais emblemático dos templos de Macau ficou-se no plano das intenções.

Marco Carvalho

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