TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (49)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (49)

E Deus, importa-se connosco?

As criaturas existem porque Deus, o Supremo Ser, lhes concede “serem”. “Deus está presente no mais íntimo das suas criaturas: «É n’Ele que vivemos, nos movemos e existimos» (Actos 17, 28)” (Catecismo da Igreja Católica nº 300).

Tal, no entanto, não significa que Deus se torne parte da sua criação ou que a totalidade da Criação seja Deus (este é o erro do Panteísmo). “Deus é infinitamente maior do que todas as suas obras: «A vossa majestade está acima dos céus» (Salmo 8:2)” (CIC nº 300).

São Agostinho refere esta dupla verdade quando afirma que “Deus está acima do que em mim há de mais elevado e é mais interior do que aquilo que eu tenho de mais íntimo” (CIC nº 300).

Além disso, as criaturas não se podem manter em existência, a menos que Deus as apoie e sustente. O (CIC nº 301) ensina-nos: “Depois da criação, Deus não abandona a criatura a si mesma. Não só lhe dá o ser e o existir, mas a cada instante a mantém no ser, lhe dá o agir e a conduz ao seu termo. Reconhecer esta dependência total do Criador é fonte de sabedoria e de liberdade, de alegria e de confiança: «Vós amais tudo quanto existe e não tendes aversão a coisa alguma que fizestes: se tivésseis detestado alguma criatura, não a teríeis formado. Como poderia manter-se qualquer coisa, se Vós não quisésseis? Como é que ela poderia durar, se não a tivésseis chamado à existência? Poupais tudo, porque tudo é vosso, ó Senhor, que amais a vida» (Sabedoria 11:24-26)”.

Nosso Senhor Jesus Cristo falou muitas vezes de como o Pai cuidava da Sua criação: «Olhem os pássaros do céu: eles nunca semeiam, nem colhem ou guardam em celeiros, e mesmo assim o nosso Pai celestial os alimenta. Não são vós mais valiosos que eles? Considerem as flores nos campos, como elas crescem; elas não trabalham nem tecem; ainda assim eu vos digo, mesmo Salomão em toda a sua glória não era tão organizado como um desses» (Mateus 6:26-29). «Mesmo os cabelos da tua cabeça estão todos numerados» (Lucas 12:7).

Apesar de Deus cuidar de cada um, de forma imediata, também usa as suas criaturas para executar os Seus planos de Providência. São Tomás dizia que Deus é “Causa Primária e Principal”, mas que as criaturas eram “Causas Secundárias”. O CIC nº 306 acentua: “Deus é o Senhor soberano dos seus planos. Mas, para a realização dos mesmos, serve-Se também do concurso das criaturas. Isto não é um sinal de fraqueza, mas da grandeza e bondade de Deus omnipotente. É que Ele não só permite às suas criaturas que existam, mas confere-lhes a dignidade de agirem por si mesmas, de serem causa e princípio umas das outras e de cooperarem, assim, na realização do seu desígnio”.

O nº 307 do Catecismo da Igreja Católica ainda diz mais: “Aos homens, Deus concede mesmo poderem participar livremente na sua Providência, confiando-lhes a responsabilidade de «submeter» a terra e dominá-la (Génese 1:26-28). Assim lhes concede que sejam causas inteligentes e livres, para completar a obra da criação, aperfeiçoar a sua harmonia, para o seu bem e o dos seus semelhantes. Cooperadores muitas vezes inconscientes da vontade divina, os homens podem entrar deliberadamente no plano divino, pelos seus actos e as suas orações, como também pelos seus sofrimentos (Colossenses 1:24). Tornam-se, então, plenamente «colaboradores de Deus» e do seu Reino (I Coríntios 3:9; I Tessalonicenses 3:2; Colossenses 4:11)”.

Quando estamos conscientes que Deus conta connosco, isso faz-nos ver que nós temos sempre que contar com Ele. Não podemos construir um mundo melhor sem Ele. “A verdade de que Deus está a trabalhar em todas as accões das suas criaturas é inseparável da fé em Deus, o Criador. Deus é a causa primária que opera em e através de causas secundárias. «Porque Deus está a trabalhar em vós tanto na vontade quanto para trabalhar para o seu bom prazer» (Filipenses 2:13; I Corinthios 12:6). Longe de diminuir a dignidade da criatura, este facto aumenta-a. Poder, Sabedoria e Bondade, vindo do nada pelo poder de Deus, nada se poderá fazer se for separado da origem, porque sem o Criador, a criatura desaparece” (Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, 36, 3). Menos ainda pode uma criatura alcançar seu fim último sem a ajuda da graça de Deus.

Pe. José Mario Mandía

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