Que Religião?
O Homem anseia pelo infinito, e esse anseio está expresso na religião. Mas há tantas religiões… Poderemos apenas escolher uma que gostemos mais? Se sim, como poderemos ter a certeza de que é a correcta? Existe alguma religião que tenha um selo de garantia de Deus nas suas doutrinas ou ensinamentos? O próprio Deus estabeleceu uma religião? Ou, por outras palavras, há alguma religião que reclame que tenha sido fundada pelo próprio Deus?
Tanto a fé judaica, como a fé católica, reivindicam terem sido estabelecidas por Deus. A fé católica reclama ser o cumprimento da promessa feita por Deus ao povo Judeu, em continuidade de uma viagem que começara com Abraão. No Novo Testamento, a Carta aos Hebreus (1:1-2) diz: «De muitas e variadas maneiras Deus falou do antigo aos nossos pais através dos profetas, mas nesses últimos tempos Ele falou-nos através de um Filho». Deus falou-nos: primeiro, de uma maneira indirecta aos judeus, por intermedio dos profetas; e depois, directamente aos primeiros cristãos, pessoalmente. O Antigo Testamento faz parte da História da Cristandade.
O Catecismo da Igreja Católica (CIC, 60) explica a relação entre os dois: “Os descendentes de Abraão seriam os fiéis depositários da promessa feita aos patriarcas, o povo escolhido, chamado a preparar o dia em que Deus reuniria todos os Seus filhos na unidade da Igreja. Eles seriam as raízes às quais os Gentios seriam incorporados, assim que começassem a crer”.
É por isso que “[os] patriarcas, profetas e algumas outras personagens do Velho Testamento são, e sempre serão, honradas como Santos em toda a liturgia tradicional da Igreja Católica” (CIC, 61).
Antes de continuarmos, deixem-nos examinar a base do nosso conhecimento da fé judaica e cristã: a Bíblia. Para os nossos propósitos actuais deixem-nos examiná-la como um registo histórico. Quão fiável é esse registo histórico. Como não temos um original, como poderemos saber se não foi alterado? Como é que podemos determinar se o que temos presentemente está conforme o original?
A IMPORTÂNCIA DOS MANUSCRITOS. Nos tempos antigos (nos tempos bíblicos) não havia “scanners”, nem máquinas de fotocópias. Todos os documentos eram copiados à mão (daí deriva o termo “manuscrito”). Em tempos idos as cópias eram feitas em papiros (feitos com fibras de papiro – uma planta aquática de rio) e mais tarde em pergaminhos (feitos com peles de animais) que eram enrolados numa base de madeira. Eventualmente, os pergaminhos foram substituídos por códices (os protótipos dos livros modernos).
Há três características importantes nos manuscritos para que possam ser considerados úteis na autenticação dos textos existentes, nomeadamente: 1– o número de manuscritos: quantos mais manuscritos tivermos, maior o número de referências que teremos para comparar com o texto que possuímos;
2– a concordância dos manuscritos entre eles: havendo pequenas diferenças entre eles, torna-se mais fácil determinar se o nosso texto realmente segue os originais;
3– as datas em que os manuscritos foram feitos: quanto mais aproximadas são as datas das compilações em relação aos acontecimentos, maior é o rigor no registo desses eventos.
Comparemos o número e as datas de três ensaios antigos: a Ilíada de Homero, os escritos de César, o Antigo Testamento e o Novo Testamento.
TRABALHO ORIGINAL: A Ilíada foi escrita cerca de 900 anos antes de Cristo (a.C.); escritos de César, entre 100 e 44 a.C.; o Antigo Testamento, entre 1400 e 400 a.C., o Novo Testamento, entre 40 e 100 depois de Cristo (d.C.).
DATA DOS MANUSCRITOS MAIS ANTIGOS EXISTENTES: A cópia mais antiga da Ilíada foi feita em 400 a.C. (500 anos depois do original); o “Trabalhos” de César, cerca de 900 d.C. (mil anos depois do original); o Antigo Testamento em 250 d.C. (algumas copias cinquenta anos depois do original); o Novo Testamento em 300 d.C. (cópias completas trezentos anos depois do facto original).
NÚMERO DE MANUSCRITOS EXISTENTES: Há 635 da Ilíada, dez dos “Trabalhos de César”, dez mil do Antigo Testamento e 29 mil 664 do Novo Testamento.
Agora, sente-se, e reflicta sobre estes números!
Pe. José Mario Mandía