Poderá apenas a Fé salvar-nos?
Martinho Lutero (1483-1546) afirmava que a fé, só por si (sola fide), é suficiente para a Salvação. Esta doutrina defende que uma pessoa recebe o perdão de Deus por meio da fé, excluindo todos os outros “trabalhos”. Lutero argumentava que “o pecado original é uma corrupção da natureza”, o que impossibilita o Homem de se salvar a si mesmo. Os católicos, por seu lado, acreditam que o pecado original feriu a Natureza Humana, mas não a corrompeu, como defendia Lutero.
Martinho considerava que bastava acreditar no perdão de Deus para o Homem se salvar. Na realidade, os católicos também acreditam nisso. Mas as Sagradas Escrituras afirmam igualmente que para além de acreditar (ou crer), o homem deve comportar-se de acordo com as suas crenças. Veja-se, por exemplo, esta passagens:
«Nem todo o que Me diz “Senhor, Senhor” entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de Meu Pai que está no Céu (Mateus 7:21)»; «Porque Me chamais “Senhor, Senhor”, e não fazeis o que Eu digo? (Lucas 6:46)».
Deus «retribuirá a cada um conforme as suas obras: para aqueles que não perseverarem na prática do bem, procuram a glória, a honra e a incorruptibilidade, será a vida eterna; para aqueles que, por rebeldia, são indóceis à verdade e dóceis à injustiça, será ira e indignação (Romanos 2:6-8)»; «Não são os que ouvem a Lei que são justos diante de Deus, mas os que praticam a Lei (Romanos 2:13)».
«De facto, se pecamos deliberadamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, não nos resta nenhum sacrifício pelos nossos pecados, mas somente a terrível espera do julgamento e o ardor de um fogo que se prepara para devorar os rebeldes (Hebreus 10:26-27)».
«Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, nada sou (I Coríntios 13:2)».
São Tiago escreveu: «De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome”, mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta. Mais ainda: poderá alguém alegar sensatamente: “Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me então a tua fé sem obras, que eu, pelas minhas obras, te mostrarei a minha fé. Tu crês que há um só Deus? Fazes bem. Também o crêem os demónios, mas enchem-se de terror”. Queres tu saber, ó homem insensato, como é que a fé sem obras é estéril? Não foi porventura pelas obras que Abraão, nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaac? Repara que a fé cooperava com as suas obras e que, pelas obras, a sua fé se tornou perfeita. E assim se cumpriu a Escritura que diz: Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe contado como justiça, e foi chamado amigo de Deus. Vedes, pois, como o homem fica justificado pelas obras e não somente pela fé (Tiago 2:14-24)».
No entanto, algumas pessoas referiam Efésios 2:8-9: «Porque é pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie». A resposta a isto é simplesmente continuar a ler o mesmo capítulo, até ao versículo 10, que pede para que se façam boas acções: «Porque nós fomos feitos por Ele, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas obras que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos».
Pe. José Mario Mandía