TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (200)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (200)

A Nova substitui a Antiga Lei?

No texto nº 174 desta coluna, falámos sobre a Lei Positiva Divina, a Lei que Deus proclama, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento.

No Antigo Testamento, lemos como Deus entregou os Mandamentos a Moisés (Êxodo 20, 2-17). Esta lei é reiterada em Deuteronómio 5:6-21.

A fórmula tradicional que usamos na Catequese é a seguinte:

1. Eu sou o Senhor teu Deus; não terás deuses estranhos diante de mim.

2. Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão.

3. Lembra-te de santificar o dia do Senhor.

4. Honra teu pai e tua mãe.

5. Não matarás.

6. Não cometerás adultério.

7. Não roubarás.

8. Não darás falso testemunho contra o teu próximo.

9. Não cobiçarás a mulher do teu próximo.

10. Não cobiçarás os bens do teu próximo.

Sobre a numeração dos Mandamentos, o Catecismo da Igreja Católica explica, no ponto 2066: “A divisão e a numeração dos mandamentos variou no decurso da história. O actual catecismo segue a divisão dos mandamentos estabelecida por Santo Agostinho e que passou a ser tradicional na Igreja Católica. É a mesma das ‘confissões’ luteranas. Os Padres gregos procederam a uma divisão um tanto diversa, que se encontra nas Igrejas ortodoxas e nas comunidades reformadas”.

Há alguns que interpretam mal as palavras de Nosso Senhor quando Ele parece dizer que está a mudar a lei: “Vos ouviram o que foi dito…” (Mateus 5: 21, 23, 31, 33, 38, 43) “mas eu digo-vos…” (Mateus 5: 22, 28, 32, 34, 39, 44). O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, no ponto 434, esclarece esta questão, ao recordar a história do jovem que um dia perguntou a Jesus o que devia fazer para ganhar a vida eterna. “Ao jovem que lhe faz esta pergunta, Jesus responde: ‘Se queres entrar na vida, observa os mandamentos’, e acrescenta: ‘Vem e segue-me’ (Mt., 19,16-21). Seguir Jesus implica observar os mandamentos. A Lei não é abolida, mas o homem é convidado a encontrá-la na pessoa do divino Mestre, que em si mesmo a cumpre perfeitamente, lhe revela o pleno significado e atesta a sua perenidade”.

O Decálogo (Divino Direito Positivo) é uma declaração explícita daquilo que o Direito Natural exige de nós. Portanto, abrange não apenas católicos ou cristãos, mas todos os homens. Jesus Cristo confirma os Mandamentos da Antiga Lei, mas revela agora mais exigências aos Seus seguidores: «Não penseis que vim destruir a Lei ou os Profetas. Eu não vim para anular, mas para cumprir» (Mateus 5:17). Jesus estabelece, pois, um padrão mais alto, como vimos em TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ nº 183. «Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos Céus» (Mateus 5:20).

Algumas pessoas pensam que Jesus ensinou as Bem-aventuranças (cf. Mateus 5, 3-12) para substituir os Mandamentos. No entanto, se examinarmos de perto as 8 (oito) Bem-aventuranças, descobriremos que estas não podem ser postas em prática sem os Mandamentos. As Bem-aventuranças não substituem os Mandamentos e não tornam os Mandamentos “antiquados”. Na verdade, as Bem-aventuranças reforçam o dever de cumprirmos os Mandamentos. Reforçam os Mandamentos e exigem mais de todos nós.

Escreveu o Papa João Paulo II na Encíclica Veritatis Splendor: “Jesus mostra que os mandamentos não devem ser entendidos como um limite mínimo a não ultrapassar, mas antes, como uma estrada aberta para um caminho moral e espiritual de perfeição, cuja alma é o amor (cf. Col., 3, 14)” (nº 15).

Também na mesma encíclica, o ponto 18 acrescenta: “Ao contrário, quem é animado pelo amor e «caminha segundo o Espírito» (Gál., 5, 16) e deseja servir os outros, encontra na lei de Deus o caminho fundamental e necessário para praticar o amor, livremente escolhido e vivido. Mais ainda, ele percebe a urgência interior — uma verdadeira e própria «necessidade», e não já uma imposição — de não se deter nas exigências mínimas da lei, mas de vivê-las em toda a sua «plenitude». É um caminho ainda incerto e frágil, enquanto estivermos na terra, mas tornado possível pela graça que nos outorga a posse da plena liberdade dos filhos de Deus (cf. Rm 8, 21) e, portanto, de responder na vida moral à sublime vocação de ser «filhos no Filho»”.

Pe. José Mario Mandía

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