É correcto cometer pecado venial?
Quando um pecado é venial?Um pensamento, palavra, acção ou omissão pecaminosa que careça de um dos três elementos de um pecado grave ou mortal (matéria grave, pleno conhecimento e consentimento deliberado) é um pecado venial (cf. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica nº 396).
Quais são as consequências de cometer um pecado venial?O CCIC ensina no ponto 396: “O pecado venial não quebra a aliança com Deus, mas enfraquece a caridade; manifesta um afecto desordenado pelos bens criados; impede o progresso da alma no exercício das virtudes e na prática do bem moral; merece penas purificatórias temporais”.
Então, é o pecado venial algo de correcto?O Catecismo da Igreja Católica (CIC) adverte-nos no ponto 1863: “O pecado venial deliberado e não seguido de arrependimento, dispõe, a pouco e pouco, para cometer o pecado mortal”. E, no mesmo ponto, Santo Agostinho é citado: “Enquanto vive na carne, o homem não é capaz de evitar totalmente o pecado, pelo menos os pecados leves. Mas estes pecados, que chamamos leves, não os tenhas por insignificantes. Se os tens por insignificantes quando os pesas, treme quando os contas. Muitos objectos leves fazem uma massa pesada; muitas gotas de água enchem um rio; muitos grãos fazem um monte. Onde, então, está a nossa esperança? Antes de mais, na confissão” (Santo Agostinho,In epistulam Iohannis Parthos tractatus,1, 6).
Sendo o pecado venial um enfraquecimento da caridade, pode ser perdoado com actos de caridade como a oração, a mortificação e a penitência, o serviço ao próximo e a recepção dos Sacramentos, especialmente da Sagrada Comunhão. No entanto, a Confissão permanece como um bom meio para obter o perdão, porque não só perdoa como também confere a graça necessária para evitar o pecado venial de que se arrepende.
A 15 de Outubro de 2005, o Papa Bento XVI teve uma audiência com crianças que tinham acabado de receber a Primeira Comunhão. Em vez de fazer um discurso, o Santo Padre pediu aos organizadores que deixassem as crianças fazerem perguntas. Uma das crianças perguntou: «Devo-me confessar sempre que recebo a Comunhão, mesmo tendo cometido os mesmos pecados? Porque eu sinto que são sempre os mesmos».
Divertido com a pergunta, Bento XVI explicou: «Vou dizer-lhe duas coisas. Primeiro, é claro que nem sempre têm que se confessar antes de receber a Comunhão, a menos que tenham cometido pecados tão graves que precisem ser confessados… Por outras palavras, se tiverem cometido um pecado grave, é pois necessário confessarem-se antes da Comunhão. Este é o meu primeiro ponto».
«Segundo ponto – continuou o Papa –ainda que, como disse, não seja necessário confessar-se antes de cada Comunhão, é muito útil confessar-se com alguma regularidade. É verdade: os nossos pecados são sempre os mesmos, mas também limpamos as nossas casas, os nossos quartos, pelo menos uma vez por semana, mesmo que o sujo seja sempre o mesmo, para assim vivermos num ambiente limpo a fim de recomeçarmos uma nova semana. Caso contrário, o sujo pode não ser visto, mas vai-se acumulando. Algo semelhante pode ser dito sobre a alma, e digo-o para mim mesmo: se eu nunca me confessar, a minha alma será negligenciada e, no final, estarei sempre satisfeito comigo próprio, mesmo que não trabalhe afincadamente para melhorar, para fazer progressos. Pelo contrário, o Sacramento da Confissão não me deixa perder a noção de que devo continuar a trabalhar no sentido de ser melhor. É, pois, esta purificação da alma que Jesus nos dá no Sacramento da Confissão; ela ajuda-nos a tornarmos as nossas consciências mais alertas, mais aberta e, portanto, a amadurecermos espiritualmente como pessoas».
O pecado venial faz o nosso amor esfriar – tornamo-nos mornos. «E, por este motivo, porque és morto, não és frio nem quente, estou a ponto de vomitar-te da minha boca» (Apocalipse 3, 16).
Embora não possamos evitar o pecado venial não deliberado (pecado venial cometido sem consciência ou por fraqueza), devemos tentar evitar o pecado venial deliberado.
Santa Teresa de Ávila, no “Caminho da Perfeição”, refere: “De qualquer pecado, por menor que seja, mesmo cometido com pleno conhecimento, Deus nos livre, especialmente porque pecamos contra tão grande Soberano e percebemos que Ele está connosco. Isto parece-me um pecado de malícia premeditada; é como se alguém dissesse: ‘Senhor, embora isso te desagrade, eu o farei. Eu sei que vós vedes isso e eu sei que vós não gostaríeis que eu o fizesse; mas, embora eu o entenda, prefiro seguir o meu próprio capricho e desejo, do que a Sua vontade’. Se cometermos pecado desta maneira, por menor que seja, parece-me que nossa ofensa não é pequena, mas muito, muito grande”.
Pe. José Mario Mandía