O que é o relativismo ético?
O relativismo ético é a doutrina que ensina que não há verdades absolutas na ética. Os proponentes desta doutrina dizem que o moralmente certo ou errado varia de pessoa para pessoa, ou de sociedade para sociedade. Este princípio ou ideia filosóficos podem ser rastreados até Heródoto, o historiador grego do Século V a.C.
O relativismo ético pretende libertar o homem da “cadeia” (assim considerada por muitos) do Dogmatismo e torná-lo independente de Deus. O relativismo ético é um eco da primeira tentação dos nossos primeiros pais (Génesis 3:4-5): «A serpente então alegou à mulher: “Com toda a certeza não morrereis! Ora, Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e vós, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal!”».
Isto é o que os relativistas morais querem: que cada um seja deus para si mesmo – por outras palavras, que sejamos o deus de nós próprios –, cabendo-nos, exclusivamente, a capacidade de determinarmos o que é certo e errado. É claro que numa sociedade em que cada um decide o que é certo ou errado para si mesmo, apenas poderá ocorrer a anarquia e o caos.
O relativismo ético gerou muitas doutrinas éticas divergentes, sendo que todas rejeitam a moralidade intrínseca às nossas acções. Estas são algumas delas:
ÉTICA DA SITUAÇÃO –“A ética da situação sustenta que o bem e o mal morais resultam da situação ou realidade em que a pessoa se encontra. Por isso, se diz que o acto não pode ser julgado de forma isolada, mas apenas tendo em conta as circunstâncias em que ocorreu. Também é denominada de ética circunstancial”.
“Por exemplo: John decidiu não se embebedar na sexta-feira à noite, porque ia conduzir; mas no sábado embebedou-se, porque estava em casa e ninguém se poderia magoar (sair ferido…) com a sua acção. Ao pensar que agiu dentro da moralidade por não ter conduzido embriagado, John ignorou [mal intrínseco] a própria embriaguez” (A. Fernandez e J. Socias, “A Nossa Vida Moral em Cristo” – “Our Moral Life in Christ”).
A ética da situação acabaria por ser refutada pelo Papa Pio XII.
CONSEQUENCIALISMO –“O termo ‘consequencialismo’ está intimamente relacionado a outros dois: utilitarismo e proporcionalismo. Uma teoria ética é consequencialista se afirmar: Escolha aquela acção que produzirá as melhores consequências (ou o menor número de consequências más), a longo prazo” (Enciclopédia da Doutrina Católica, pág. 140). Um exemplo deste princípio são aqueles casais que optam por abortar uma gravidez, porque à criança – ainda no útero – foi diagnosticada uma deficiência grave.
Há pelo menos dois erros nesta decisão:
– Ignora o princípio estabelecido por São Paulo: Nunca pratiquemos o mal para que nos sobrevenha o bem (Rm., 3,8). Trata-se do dito popular: “O fim não justifica os meios!”.
– “Pode-se colocar a questão: o bem que resulta de um acto é bom para quem? Pode acontecer que os defensores do consequencialismo considerem que as consequências são boas para eles, mas más para outras pessoas ou para a sociedade. Assim, os defensores deste sistema ético podem usar meios ou recursos imorais, por forma a obter ganhos pessoais no imediato… O facto de também ser conhecida como ética da intenção torna ainda mais clara a sua falha nos fundamentos, pois boas intenções não justificam actos imorais. Além disso, quem pode medir a intenção de um indivíduo?” (A. Fernandez e J. Socias, “A Nossa Vida Moral em Cristo” – “Our Moral Life in Christ”).
PROPORCIONALISMO –Os proporcionalistas argumentam que a bondade ou maldade de uma acção deve ser determinada pela comparação da proporção de bem e mal nas alternativas de escolha. Isto é, o que pareça ser um bem maior ou um mal menor determina aquilo que se deve fazer.
Neste caso, o problema em questão é como medir essa proporção, dado que geralmente muitos bens estão em jogo e pessoas diferentes pesam as coisas de diferentes maneiras. A ausência de um ponto de referência objectivo torna as decisões morais arbitrárias.
Pe. José Mario Mandía