E quanto à Bíblia?
O Primeiro Concílio do Vaticano define a Bíblia no capítulo dois da Constituição Dogmática “Dei Filius” (“Filhos de Deus”) como sendo uma colectânea de livros, os quais “foram escritos por inspiração do Espírito Santo, tendo Deus como seu autor, e como tal confiados à Igreja”.
Esta definição inclui duas importantes características:
1– A Bíblia procede do próprio Deus. As Sagradas Escrituras são uma carta de amor de Deus para os Homens, por intermédio do que se designou “Inspiração Divina” – graça que foi concedida a alguns homens para escreverem os conteúdos das Sagradas Escrituras. Deus falou com os Homens recorrendo à linguagem humana. Mais tarde falaremos sobre o que consiste esta inspiração.
2– A Bíblia foi entregue à Igreja como um “presente” para ser estimado, explorado, interpretado e transmitido aos outros.
Como podemos saber quais os livros que formam esta colectânea? Como a Bíblia foi entregue à Igreja, foi a Igreja que determinou quais os livros inspirados e incluídos no Cânone das Sagradas Escrituras. O Cânone é a lista oficial dos livros escolhidos.
O Catecismo da Igreja Católica (nº 120) diz-nos: “Foi a Tradição Apostólica que levou a Igreja a discernir quais os escritos que deviam ser incluídos na lista dos livros sagrados. Esta lista integral é chamada ‘Cânone’ das Escrituras. Comporta (inclui), para o Antigo Testamento, 46 (45, se se contar Jeremias e as Lamentações como um só livro) escritos, e, para o Novo, 27”. Este ponto do CCC lista os livros como se seguem:
“Para o Antigo Testamento: Génesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronómio, Josué, Juízes, Rute, os dois livros de Samuel, os dois livros dos Reis, os dois livros das Crónicas, Esdras e Neemias, Tobias, Judite, Ester, os dois livros dos Macabeus, Job, os Salmos, os Provérbios, o Eclesiastes (ou Coelet), o Cântico dos Cânticos, a Sabedoria, o livro de Ben-Sirá (ou Eclesiástico), Isaías, Jeremias, as Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Nahum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
Para o Novo Testamento: Os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João; os Actos dos Apóstolos; as epístolas de São Paulo: aos Romanos, primeira e segunda aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, primeira e segunda aos Tessalonicenses, primeira e segunda a Timóteo, a Tito, a Filémon: a Epístola aos Hebreus; a Epístola de Tiago, a primeira e segunda de Pedro, as três epístolas de João, a Epístola de Judas e o Apocalipse”.
John Salza lembra-nos que “a Bíblia diz-nos que é a Igreja, não as Escrituras, ‘o pináculo e a fundação da verdade’ (I Timóteo 3:15), o árbitro final nas questões sobre a Fé Cristã (Mateus 18:17). É por intermédio da autoridade dos ensinamentos e da Tradição Apostólica (II Tessalonicenses 2:15; 3:6; I Coríntios 11:2) nesta Igreja, que é dirigida pelo Espírito Santo (João 14:16,26; 16:13), que nós conhecemos a inspiração divina das Escrituras, e a infinita sabedoria de Deus (Efésios 3:10)”.
Então como é que a Sagrada Tradição e as Sagradas Escrituras se relacionam uma com as outras?
1– Têm uma fonte (origem) em comum. Portanto, “a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e interligadas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem para o mesmo fim” (“Dei Verbum”, 9 – “A Palavra de Deus”, 9).
2– Ambas formam um depósito único da Revelação entregue à Igreja por Jesus Cristo. “A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito sagrado da palavra de Deus, confiado à Igreja” (“Dei Verbum”, 10 – “A Palavra de Deus”, 10).
Pe. José Mario Mandía