Por que a Liturgia precisa de sinais e símbolos?
Por que razão cada um de nós não pode rezar a sós, como que apenas guiados pelo coração? Por que razão precisamos de sinais externos e de gestos na liturgia?
O homem é corpo e alma. Não é como alguns filósofos haviam pensado: uma alma apresada num corpo. O corpo é parte do ser humano. Tanto o corpo como a alma percepcionam a realidade. Sentem tudo o que é material e imaterial, isto é, palpável e não palpável, exteriorizando o homem essas sensações por meio de palavras; estas são o instrumento utilizado para expressar pensamentos.
O Catecismo da Igreja Católica explica:
1– “Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais através de sinais e símbolos materiais” (CIC nº 1146).
2– “Como ser social, o homem tem necessidade de sinais e de símbolos para comunicar com o seu semelhante através da linguagem, dos gestos e de acções. O mesmo acontece nas suas relações com Deus” (CIC nº 1146).
3– “Deus fala ao homem através da criação visível. O cosmos material apresenta-se à inteligência do homem para que leia nele os traços do seu Criador (Sabedoria 13:1; Romanos 1:19; Actos 14:17). A luz e a noite, o vento e o fogo, a água e a terra, a árvore e os frutos, tudo fala de Deus e simboliza, ao mesmo tempo, a sua grandeza e a sua proximidade” (CIC nº 1147).
4– “Enquanto criaturas, estas realidades sensíveis podem tornar-se o lugar de expressão da acção de Deus que santifica os homens e da acção dos homens que prestam a Deus o seu culto. O mesmo acontece com os sinais e símbolos da vida social dos homens: lavar e ungir, partir o pão e beber do mesmo copo podem exprimir a presença santificante de Deus e a gratidão do homem para com o seu Criador” (CIC nº 1148). Na aula 109 de FILOSOFIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ, falámos dos benefícios do homem que são expressos através das coisas visíveis.
AJOEHAR– O Papa Bento XVI, antes da sua eleição como Pontífice Romano, deu exemplos de actos realizados quando o homem ora a Deus – ajoelhar é um deles. Escreve o ainda cardeal D. Joseph Ratzinger: “O gesto corporal é em si portador do significado espiritual, que é precisamente o da adoração. Sem a adoração, o gesto corporal não teria sentido, enquanto que o acto espiritual deve, pela sua própria natureza, por causa da unidade psicossomática do homem, expressar-se no gesto corporal.
Quando o gesto de ajoelhar se torna meramente externo, um mero acto físico, passa a não ter qualquer significado. Por outro lado, quando alguém tenta levar a adoração de volta aos valores puramente espirituais e se recusa a dar-lhe uma forma corporificada, torna o acto impróprio. É que tudo o que é puramente espiritual atenta contra a natureza do homem. A adoração é um dos actos fundamentais da vida do homem. Daí que dobrar os joelhos diante da presença do Deus vivo é algo que não podemos abandonar.
O acto de ajoelhar deve ser redescoberto, de modo a que nas nossas orações estejamos em comunhão com os apóstolos e mártires, em comunhão com todo o cosmos; na verdade, em união com o próprio Jesus Cristo” (capítulo “A Teologia da Genuflexão” do livro “O Espírito da Liturgia”).
O CRUCIFIXO– Outro exemplo dado pelo cardeal Ratzinger é a posição do Crucifixo nas Missas. “Virado para leste, estava ligado ao ‘sinal do Filho do Homem’, com a Cruz que anuncia a Segunda Vinda do Senhor. É por isso que desde muito cedo, o leste foi associado ao sinal da Cruz. Quando é impossível ser virada para leste, a Cruz pode há mesma simbolizar o ‘leste’ interior da fé. Deve ficar no meio do altar e ser o ponto comum de foco para o sacerdote e a comunidade que reza. Desta forma, obedecemos ao antigo chamamento para rezar: ‘Conversi ad Dominum’ (Voltem-se para o Senhor). Assim, olhamos juntos para Aquele cuja morte rasgou o véu do Templo – Aquele que está diante do Pai por nós e que nos envolve nos seus braços para de cada um fazer um templo novo e vivo.
Deslocar a Cruz do altar para um dos lados, com o intuito de permitir ao padre ter uma visão limpa da Assembleia, é algo que considero um dos fenómenos verdadeiramente absurdos das últimas décadas. A Cruz atrapalha durante a Missa? Será o padre mais importante que o Senhor? Este erro deverá ser corrigido o mais depressa possível; tal pode ser feito sem grandes intervenções a nível do altar. O Senhor é o ponto de referência. Ele é o sol nascente da história” (capítulo “O altar e a Direcção da Oração Litúrgica” do livro “O Espírito da Liturgia”).
Pe. José Mario Mandía