O que é a Liturgia?
Na terceira semana da série “TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ” vimos que podemos definir a religião através de um conjunto de verdades (sobre Deus, o homem e o mundo) e preceitos (de como o homem se deve comportar em relação a Deus, outros homens e o mundo), os quais o homem pode descobrir à luz natural da razão. Isto para além dos ritos, ou cerimónias, por meio dos quais rezamos a Deus. Podemos resumir tudo isto em três palavras: credo, código (moral) e culto (ver TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ nº 76).
Desde o início desta série falámos sobre o CREDO, no qual Deus falou Dele próprio, sobre nós próprios (quem somos, de onde viemos, porque estamos aqui, o que é suposto termos de fazer e como aqui chegámos) e sobre o mundo. Antes de falarmos sobre o código da moral, abordemos o terceiro item da lista acima: o CULTO.
Podemos dividir o CULTO em duas partes: (a) SACRAMENTOS e LITURGIA, e (b) ORAÇÃO.
Seguindo o esboço do Catecismo da Igreja Católica, examinemos os SACRAMENTOS e a LITURGIA, em que exploraremos o maravilhoso intercâmbio que ocorre entre Deus e o homem.
O QUE É A LITURGIA?
A palavra “Liturgia” vem do Grego “Leitourgia”, o que originalmente significava “trabalhos públicos” ou um “serviço em nome de outrem”. Na tradição cristã tal significa a participação do Povo de Deus na «obra de Deus» (João 17:4). Através da liturgia cristã, o nosso redentor e os seus altos sacerdotes prosseguem o trabalho da nossa redenção, através da Sua Igreja (CIC nº 1069).
Da palavra “Leitourgia” aparece a palavra “Leitourgos”, uma pessoa que faz trabalhos ou deveres públicos, um servo ou funcionário público. Na tradução grega do Antigo Testamento (a chamada Septuaginta), a palavra “Leitourgia” era usada para mencionar o serviço público que os sacerdotes da Antiga Lei executavam no Templo (ver, por exemplo, o livro do Êxodo). Este significado continua com o Novo Testamento. Por exemplo, Lucas (1:23) diz-nos que Zacarias voltou para casa quando «os dias da sua liturgia se acabaram» («ai hemerai tes leitourgias autou»).
Em Hebreus 8:6, Jesus Cristo, o Sumo Pontífice da Nova Lei, «terá obtido uma melhor leitourgia» (traduzido para o Latim como “ministerium” – “ministério”). Jesus Cristo, o Sumo Pontífice da Nova Ordem, realiza um tipo de serviço público religioso melhor do que se efectuado no Templo.
Assim, no uso cristão corrente, “Liturgia” significa o serviço público oficial da Igreja (Nova Lei). Por meio da liturgia, a obra da redenção (realizada principalmente por intermédio da Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão de Jesus Cristo – também chamada de Mistério Pascal) é proclamada, celebrada e concluída (os frutos são depois distribuídos).
A distribuição dos frutos da redenção confere Graça (vida, luz, força) aos fiéis para que estes possam dar testemunho da Vida, Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão de Cristo no mundo, nos lugares onde vivem, trabalham e se relacionam com outras pessoas (CIC nº 1068).
A liturgia não é apenas proclamação e celebração. Quando bem compreendida e realizada, resulta na transformação de cada pessoa que nela participa. A liturgia tem o poder de transformar cada um dos seus participantes na imagem de Cristo, cujo sinal mais importante é a caridade.
“No Novo Testamento, a palavra ‘liturgia’ é empregada para designar, não somente a celebração do culto divino mas também o anúncio do Evangelho e a caridade em acto. Em todas estas situações, trata-se do serviço de Deus e dos homens. Na celebração litúrgica, a Igreja é serva, à imagem do seu Senhor, o único ‘Liturgo’, participando no seu sacerdócio (culto) profético (anúncio) e real (serviço da caridade)” (CIC nº 1070).
Pe. José Mario Mandía