Há forma de evitar o Purgatório?
Em que consiste o “fogo” do Purgatório?
Na encíclica Spe salvi, o Papa Bento XVI responde: “Alguns teólogos recentes são de parecer que o fogo que simultaneamente queima e salva é o próprio Cristo, o Juiz e Salvador. O encontro com Ele é o acto decisivo do Juízo. Ante o seu olhar, funde-se toda a falsidade. É o encontro com Ele que, queimando-nos, nos transforma e liberta para nos tornar verdadeiramente nós mesmos. As coisas edificadas durante a vida podem então revelar-se palha seca, pura fanfarronice e desmoronar-se. Porém, na dor deste encontro, em que o impuro e o nocivo do nosso ser se tornam evidentes, está a salvação. O seu olhar, o toque do seu coração cura-nos através de uma transformação certamente dolorosa ‘como pelo fogo’. Contudo, é uma dor feliz, em que o poder santo do seu amor nos penetra como chama, consentindo-nos no final sermos totalmente nós mesmos e, por isso mesmo totalmente de Deus” (Spe salvi46).
Algumas pessoas pensam que aqueles que estão no Purgatório serão sempre condenadas ao Inferno. Não é o caso. Até porque é precisamente o contrário: as almas do Purgatório estão à espera de entrar no Paraíso. Na realidade, a grande diferença entre o Purgatório e o Inferno é que o sofrimento do Purgatório está cheio de esperança.
Há pois forma de evitar o Purgatório? A resposta é simples: Há muitas!
Conforme já vimos anteriormente, temos a possibilidade de escolher entre sermos purificados nesta vida ou na vida depois da morte (no Purgatório).
Nesta vida, podemos fazer a limpeza (1) de forma activa, por nossa própria iniciativa; ou (2) de forma passiva.
De forma activa, purificamo-nos por meio de sacrifícios ou mortificações. A Igreja prescreve algumas mortificações, como o jejum e a abstinência em determinados dias do ano. Contudo, não podemos jejuar e praticar abstinência todos os dias, pois temos de recuperar as nossa energias de modo a bem cumprirmos as nossas obrigações. Então, como seguir as instruções de Jesus a fim de carregarmos a nossa cruz diária (Lucas 9:23)? De facto, a cada dia, temos muitas oportunidades de oferecer mortificações a Deus, sempre que cumprimos com amor, afã, competência e perfeição as tarefas em casa, no trabalho e na sociedade. Logo, não são necessárias outras acções, que não as já referidas, ou adoptar comportamentos invulgares, para nos purificarmos. Os nossos deveres ou obrigações diárias constituem, por si só, uma lista quase interminável de acções propícias à purificação.
Também nos podemos exercitar em levar a cabo pequenos actos de desprendimento pelas coisas materiais e imateriais que atraem a nossa imaginação – pequenos actos de abnegação – dizendo “não” ao que consideramos ser “bom”, mas que decidimos rejeitar. São João Crisóstomo ensinou-nos: “Deixe as mãos jejuarem, permanecendo limpas do roubo e da ganância. Deixe as pernas velozes, evitando caminhos que conduzam a visões pecaminosas. Deixe que os olhos vejam, não se fixando em rostos bonitos e não observando a beleza dos outros. Deixe a sua audição também abster se. O jejum de ouvir é não aceitar falar mal dos outros e difamações astutas. Deixe a boca jejuar de palavras vergonhosas e abusivas”.
Além disso, nesta vida também podemos aproveitar as indulgências parciais e plenárias que a Igreja concede. Falaremos sobre isto noutra ocasião.
Já de forma passiva, somos purificados por Deus através das dores e dos sofrimentos que Ele nos envia. As provações que sofremos são, na verdade, dádivas da misericórdia de Deus – tal como esmolas dadas a um mendigo – porque por intermédio destas Ele purifica-nos e torna possível chegarmos mais cedo ao Céu. Quando aceitamos as provações com alegria, generosidade e gratidão, conseguimos reduzir o tempo no Purgatório ou até mesmo evitá-lo.
Neste âmbito, o ponto 211 do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica refere: “Em virtude da comunhão dos santos, os fiéis ainda peregrinos na terra podem ajudar as almas do purgatório oferecendo as suas orações de sufrágio, em particular o Sacrifício eucarístico, mas também esmolas, indulgências e obras de penitência”.
Por outras palavras, tudo o que fazemos na terra para nos purificarmos pode ser oferecido a Deus em nome e beneficio das almas sagradas do Purgatório.
Pe. José Mario Mandía