SÍNODO DOS BISPOS: CONCLUSÕES DA FASE DIOCESANA JÁ SÃO CONHECIDAS

SÍNODO DOS BISPOS: CONCLUSÕES DA FASE DIOCESANA JÁ SÃO CONHECIDAS

Católicos de Macau querem Igreja mais dialogante

Uma Igreja mais aberta, mais inclusiva e mais disponível para o diálogo. O padre Cyril Law, chanceler da diocese de Macau, apresentou no último Domingo as conclusões da fase diocesana do processo sinodal que se desenrola até ao próximo ano, e entre as muitas recomendações recolhidas pelas equipas que tomaram o pulso às expectativas dos católicos de Macau uma há que sobressai: a percepção de que uma Igreja que ouve é uma Igreja mais consciente das suas limitações e mais dialogante.

Dos dez tópicos inicialmente propostos para discussão pela diocese de Macau, o tema “Ouvir”, escolhido pela comunidade católica de língua portuguesa, foi também o núcleo temático eleito pela maioria dos grupos de acção envolvidos no processo sinodal.

No relatório apresentado no fim-de-semana, a diocese de Macau reconhece que “ouvir é o passo fundamental para melhorar a ideia de que a Igreja está desconectada com o mundo moderno” e salienta que “levar em conta as vozes do público em geral” é essencial para remover os obstáculos que desencorajam e afastam as gerações mais jovens.

O CLARIMdesafiou o padre Fernando Azpiroz, SJ, actual Superior da Companhia de Jesus em Macau, a analisar as conclusões do processo de auscultação conduzido ao longo do último ano. O missionário argentino destaca, desde logo, a forma como a imperatividade do diálogo se insinua ao longo de todo o documento, num processo que se prefigurou, desde a primeira hora, como uma “lufada de ar fresco”. «Sinto que houve uma lufada de ar fresco em todo este processo, na forma como as pessoas responderam ou se prontificaram a responder. Antes de mais, porque é possível vislumbrar uma grande variedade de vozes diferentes. Muitas destas vozes não estão habituadas a dar a cara e foi possível perceber quais são as suas preocupações e os seus desejos. Pessoalmente, parece-me que são mais desejos do que preocupações», assume o sacerdote. «Diria que o diálogo é, muito provavelmente, a palavra-chave. E há dois tipos de diálogo: o diálogo interno, em particular entre os leigos e o clero, entre pessoas que são próximas da Diocese e exercem responsabilidades, como por exemplo padres e religiosas. E depois há o diálogo entre a Igreja e a sociedade, e esta faceta do diálogo abrange não só o diálogo com não-cristãos, com outras comunidades cristãs, com outras comunidades religiosas», complementa o padre Azpiroz.

No âmbito do diálogo interno, no seio do diversificado tecido da Igreja “local”, a própria Diocese reconhece que há margem para melhorias e que o diálogo entre as diferentes comunidades – chinesa, filipina, portuguesa, vietnamita e indonésia, para citar as mais visíveis – “pode ser desenvolvido de uma forma mais inclusiva”. Para o padre Azpiroz, o diálogo e a colaboração entre as diferentes comunidades católicas devem ser reforçados em prol da construção de uma Igreja multifacetada. «Na minha perspectiva, estas comunidades deviam ter uma ligação mais profunda à corrente dominante na diocese de Macau. Há ainda muita margem de manobra para transformar a Igreja em Macau, como o Papa costuma dizer, numa Igreja polifacetada, uma Igreja una, mas com várias faces», refere. «De tempos a tempos há cerimónias que reúnem as diferentes comunidades, mas deviam ser mais habituais. Temos de conseguir conceber e usar a criatividade para desenvolver algumas estruturas e permitir que diferentes vozes possam emergir», acrescenta.

O papel das escolas católicas do território na formação espiritual das gerações mais jovens também merece reparos, com o relatório a mencionar a necessidade de uma revisão dos critérios e meios colocados em prática nas instituições de ensino afiliadas à Igreja, em prol de uma via que possa “incidir mais sobre a formação da fé”. Em Macau, a Companhia de Jesus supervisiona dois estabelecimentos de ensino – o Colégio Matteo Ricci e a Escola Estrela do Mar – e a educação é um dos domínios que são mais gratos aos jesuítas. No entanto, o padre Azpiroz considera que nas escolas a fé não pode ser um ponto de partida, mas antes a meta mais desejada. «Não me parece que as escolas devam fazer da fé uma questão temática logo desde o início. Diria que a fé é o aspecto final que mobiliza toda a vida da escola. E isto é algo que tem que ver com uma grande diversidade de relações – entre professores e professores, entre professores e alunos – e com o espaço que se cria para que os estudantes possam expressar as suas preocupações; com o espaço que se cria para que os professores possam estar próximos dos alunos», explica. «Parece-me que a criação destes espaços de diálogo coloca, de uma forma ou de outra, a comunidade escolar a caminhar de uma forma sinodal», nota.

Entre as pequenas e grandes sugestões presentes no relatório que foi tornado público, estão apelos à criação de plataformas que ajudem as vozes das minorias, das mulheres e dos jovens a fazer-se ouvir, à constituição de coros infantis e juvenis, à preparação de jovens para que possam agir como guias turísticos paroquiais, à promoção da castidade e da teologia do corpo nas escolas ou, pura e simplesmente, ao recurso à linguagem gestual durante a Eucaristia para que os deficientes auditivos também tenham acesso à Palavra de Deus.

Contudo, segundo o padre Azpiroz, tão importante é o que o relatório mostra, como aquilo que omite. E uma das principais omissões – sustenta o jesuíta – deve ser encarada como motivo para uma reflexão aprofundada. «Como sabe, a Diocese propôs dez núcleos temáticos para reflexão e o tema menos discutido, de acordo com padre Cyril, foi o tema da celebração. Não faço ideia por que razão. Mas este é um aspecto bastante significativo, porque podemos ficar com a ideia de que, na nossa diocese, esse aspecto da vivência da fé não é suficientemente enfatizado. A celebração e alegria de se ser cristão é algo que devíamos ter orgulho em partilhar com os outros, a presença do Espírito Santo, a presença de Deus. Talvez isto seja algo em que devemos reflectir. Se a ausência desta dimensão de alegria não é algo sobre o qual devíamos estar mais conscientes…», conclui.

Marco Carvalho

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