Vidas por Cristo: contemplação, missão e martírio
O legado espiritual e o percurso de vida do jesuíta alemão Alfred Delp e de Watchman Nee, líder evangélico chinês que morreu num campo de trabalho da província de Anhui em 1972, foram esta quinta-feira evocados no início dos trabalhos do simpósio anual do Instituto Ricci de Macau, certame que decorre nas instalações do Seminário de São José até ao final da tarde de hoje.
Tanto Delp como Nee foram apresentados como exemplos de uma entrega incondicional a Cristo, não apenas por terem dado a vida pelos seus princípios, mas também por terem reforçado convicções a partir do expediente da contemplação.
Contemplação e martírio são, de resto, os temas centrais do simpósio com que o Instituto Ricci de Macau assinala o seu vigésimo aniversário. A escolha, sustentou o padre Stephan Rohtlin, constitui um apelo, numa altura em que a própria vivência da fé por parte dos católicos é pautada por uma certa superficialidade. «Parece-me que também nos tornamos superficiais na forma como vivemos a fé. As apresentações que aqui ouvimos constituem para nós um alerta e lembram-nos que temos de nos reconectar com a profundidade da acção contemplativa. Foi muito inspirador tomar conhecimento do exemplo de Alfred Delp frente ao regime nazi e poder perceber de que forma a sua experiência de contemplação o ajudou a resistir às forças do mal», disse o director do Instituto Ricci. «Na minha perspectiva, esta dimensão contemplativa faz-nos falta. Fico surpreendido ao ouvir que, por vezes, nem os religiosos encontram tempo para a contemplação. Espero que este simpósio nos possa inspirar a todos, de modo a que possamos ver na globalidade a importância da contemplação para a percepção da experiência de Deus», acrescentou o jesuíta suíço.
A edição de 2019 do Simpósio Internacional do Instituto Ricci de Macau, no ano em que organismo completa vinte anos, reúne no território cerca de seis dezenas de académicos, religiosos e especialistas. Entre os convidados do Instituto está D. Anton Jamnik, bispo-auxiliar de Ljubljana e professor de filosofia e de ética na capital eslovena, para quem tanto o martírio, como a contemplação estão na ordem do dia «Nos dias que correm é muito importante falar directamente ao coração. Se nos sentirmos livres, se nos sentirmos felizes, se tivermos um mar de esperança dentro de nós, estaremos também disponíveis para os outros, para os nossos vizinhos, qualquer que seja a religião deles», defendeu o epíscopo. «A meditação e a contemplação são muito importantes para a nossa vivência do quotidiano. Esta sexta-feira vou falar sobre isso. No mundo globalizado em que vivemos, esta sede cega de dinheiro, dinheiro, dinheiro, de poder e de prazer, acaba por ser uma doença. O que podemos fazer? Antes de mais, temos de ter consciência de que o maior milagre é o milagre da vida. Temos de ser uma dádiva para os outros, de ter um impacto positivo na nossa sociedade, nos nossos vizinhos», exortou D. Anton Jamnik.
O bispo auxiliar da capital eslovena vai falar ao início da tarde desta sexta-feira da importância do misticismo e da contemplação na fé cristã. Para hoje está previsto ainda um painel, da responsabilidade do jesuíta alemão Martin Maier, sobre os conceitos de contemplação, missão e martírio em El Salvador e um debate que aborda o desígnio da contemplação, tanto em termos teóricos como práticos.
Marco Carvalho