CERIMÓNIA DEVERÁ SER PRESIDIDA POR D. STEPHEN LEE
A 9 de Agosto, dia da festa do seu padroeiro, a igreja de São Lourenço acolhe uma cerimónia com uma dimensão pouco habitual em Macau. O bispo D. Stephen Lee deverá baptizar catorze pessoas e impor o Sacramento da Confirmação (Crisma) a outras onze. Na Paróquia, uma das mais antigas do território, o coronavírus deixou marcas, mas não desviou os fiéis dos caminhos da fé.
Um desafio inequívoco, mas também uma oportunidade. É este o balanço que o padre James Ryu Jae Hyoung traça dos cinco meses que transcorreram desde que um novo e estupendo inimigo – um letal coronavírus com tanto de desconhecido, como de devastador – sequestrou o mundo e transformou Macau num imenso presídio a céu aberto. Em conformidade com as directrizes impostas pelo Governo para conter a disseminação da pandemia, a diocese local ordenou o encerramento das igrejas e a suspensão dos serviços litúrgicos e religiosos e apostou nas novas tecnologias para levar a Palavra de Deus aos fiéis.
A paróquia de São Lourenço, onde se ergue a mais antiga igreja do território, a forçosa mudança de hábitos e a perspectiva de ver a casa de Deus encerrada causou estranheza em alguns fiéis e gerou tristeza noutros tantos. «Alguns deles aceitaram, outros não. Alguns dos fiéis pareciam não entender muito bem porque é que a Igreja não podia estar de portas abertas ou porque razão tínhamos que cumprir este tipo de regras: lavar as mãos, usar máscara. Também não sou muito entusiasta destas restrições, mas parece-me inevitável que tenhamos que as acatar, até porque a situação é verdadeiramente grave», disse o sacerdote coreano. «Uma pessoa infectada pode transmitir o vírus a dez outras. Estas dez podem infectar cem. Basta ter consciência deste aspecto para compreender porque razão a nossa sociedade tinha que parar. Macau tem dois hospitais, o Conde de São Januário e o Kiang Wu. Não são suficientes», acrescentou.
Para o padre James Hyoung, a disrupção a que a crise de saúde pública condenou boa parte da Humanidade não é necessariamente uma maldição. Pode, pelo contrário, ser encarada como uma bênção, se a espiritualidade que nos é inata for bem direccionada. «Mesmo que as pessoas não tenham podido assistir à Missa ou que outras cerimónias tenham sido canceladas, acredito que este período também teve uma faceta positiva. Penso que Deus nos propiciou algum tempo para que pudéssemos descansar e cuidar de nós mesmos. Andamos sempre demasiado ocupados. Temos sempre demasiado para fazer, demasiado em que pensar, mas Deus concedeu-nos esta oportunidade para nos interrogarmos sobre a nossa missão, sobre a natureza de Deus e da criação. Quando celebro Missa, quando digo a homilia, sublinho sempre este aspecto», assumiu.
Na igreja de São Lourenço as portas permanecem semicerradas e para entrar é necessário cumprir à risca os procedimentos de prevenção delineados pelo Governo e adoptados pela Diocese (o uso da máscara é obrigatório, a lavagem das mãos aconselhadas e as multidões continuam a ser presença indesejada), mas aos poucos os caminhos da fé alargam-se e abrem-se para a normalidade possível. No auge da pandemia, os cerca de dez grupos litúrgicos que têm a igreja como quartel-general – dois capítulos da Legião de Maria, coros ou a catequese, entre outros – viram-se forçados a interromper por inteiro as actividades que desenvolviam. Alguns começam agora a ser reactivados, com o propósito de recuperar o tempo e alguma da dinâmica entretanto perdidos. «Estamos a preparar a festa da nossa paróquia. Para esse dia estão previstos vários baptizados e ainda a imposição do Sacramento da Confirmação a alguns paroquianos. Reiniciei também recentemente a catequese, mas o número de crianças que a frequentam é muito pequeno», admitiu o pároco.
Agendada para 9 de Agosto, a festa de São Lourenço é a prova de que, nem mesmo com as igrejas encerradas, os fiéis se desviaram dos caminhos da fé. Para o segundo fim-de-semana de Agosto está agendada uma celebração pouco habitual em Macau, pelo número absoluto extraordinário de devotos que envolve. No dia da festa de São Lourenço, o bispo D. Stephen Lee deverá baptizar catorze pessoas e impor o Sacramento da Confirmação a onze outras, adiantou a’O CLARIMo padre James Hyoung: «No dia da festa da nossa paróquia, a 9 de Agosto, para além do Sacramento da Eucaristia, celebraremos também os Sacramentos do Baptismo e da Confirmação. Pelas minhas contas, há catorze novos fiéis que serão baptizados e posteriormente crismados, e há outros onze a quem vai ser imposto o Sacramento da Confirmação. Estes onze são alunos da catequese que já foram baptizados, mas não receberam ainda o Sacramento da Confirmação».
Para além do impacto espiritual, o surto epidémico teve também um impacto social iniludível, a exemplo do que sucedeu, de resto, noutras paróquias. O pároco de São Lourenço assegurou que os casos de fragilidade económica extrema de que teve conhecimento são escassos, mas elegeu como uma prioridade o desígnio de colocar a igreja ao serviço da comunidade, também em termos de acção social. «De quando em quando, somos informados de que algumas pessoas precisam de dinheiro ou deparam-se com algum tipo de problema de saúde e procuramos responder a esses necessidades. Se precisam de dinheiro, entro em contacto com a Cáritas e tento direccioná-los para lá. Felizmente, não há muitos casos desta natureza na paróquia de São Lourenço», disse o padre James Hyoung. «A minha principal preocupação passa por perceber de que forma me posso colocar ao serviço da comunidade. A Paróquia, por exemplo, tem algumas casas e a Paróquia está a arrendá-las a metade do preço. Temos de apoiar os que mais precisam e esta é uma das formas como podemos fazer isso. Queremos que saibam que somos irmãos, que estamos disponíveis para os ajudar, não apenas espiritualmente, mas também para os ajudar a fazer face aos problemas do quotidiano. Da próxima vez que o Conselho Paroquial se reunir, quero colocar esta questão sobre a mesa. Quero perceber, em conjunto com os demais membros, de que forma podemos ajudar quem mais necessita», concluiu.
Marco Carvalho