Santa Teresa de Ávila

Espiritualidade, Mística e Santidade

A festa litúrgica de Santa Teresa de Ávila decorreu já em 15 de Outubro passado. Já estamos quase em Novembro. O Sínodo da Família e o Jubileu tomaram a atenção. O primeiro pelo seu decurso, importância, para se procurar perceber melhor o que essa magna assembleia representa. O Jubileu, igualmente importante, mas nem sempre bem conhecido. Um jornal como O CLARIM tem o múnus de procurar formar, esclarecer, ser veículo de cultura, cristã e universal, reflexo mas também eco e canal da mundividência legada pelos que fazem o seu caminho de procura de Cristo, todos os dias, sempre. Como esta Santa mística, arrebatadora, Doutora da Igreja, alguém que ensina a ser-se «testemunha de Deus, da Sua presença e acção» como referiu Bento XVI.

Desde há quatro séculos que muitos a imitam, tentam desvendar, estudar, descobrir. Creio mesmo que mais séculos volverão com outros tantos a procurar saber mais desta monja carmelita descalça, enclausurada num mosteiro, mas com um impacto universal que poucos vivendo no século atingiram ou igualaram sequer. A reverência de um erudito como Bento XVI enfatiza ainda mais a excelência do exemplo, das virtudes, da força, da espiritualidade, do trilho de vida que aquela monja traçou como ideal. Como uma escada para subir, degrau a degrau, na demanda de Deus. A líder, a lutadora também, empreendedora e sagaz, qualificativos estes também servem na descrição de Teresa. Uma flor do Carmelo, como outra Teresa, intemporal, crística também… Mas porque escrevemos hoje sobre Teresa de Ávila? Temos a data de 2 de Novembro de 1525, quando opta pela vida religiosa. Mas Teresa é toda ela santidade e espiritualidade, mística.

Acima de tudo o que ela representa, imana, inspira e ensina. S. Teresa de Ávila, ou Teresa de Jesus, nasceu Teresa Sánchez de Cepeda y Ahumada, em 28 de Março de 1515, em Gotarrendura, Ávila, em Espanha, em cujo reino também faleceria em 4 de Outubro de 1582, em Alba de Tormes, no dia de outro “apaixonado” por Cristo, S. Francisco de Assis. Era filha de Alonso Sánchez de Cepeda, descendente de marranos (cristãos-novos) e Beatriz d’Ahumada, que lhe proporcionaram uma educação cuidada, pelo facto de possuir posses mas acima de tudo no seio de uma família com nobreza na postura, virtudes e forma de vida. Esta família seria truncada pela morte de D. Beatriz. Teresa fica órfã de mãe aos 14 anos, numa tristeza profunda. Seu pai internou-a por isso, dois anos depois, no Mosteiro das Agostinhas em Ávila, para ali estudar, em 1531. Em 1532 adoece, abandonando o mosteiro. Três anos depois, a 2 de Novembro de 1535, com 20 anos, recolhe-se, por sua vontade, na comunidade de monjas carmelitas da Encarnación, em Ávila. As “Cartas” de S. Jerónimo, que lera nas Agostinhas, marcaram a opção monástica da jovem, embora contra o desejo de seu pai. A forte personalidade de Teresa evidenciava-se. Seu pai, a 31 de Outubro de 1536, um ano depois, entrega o dote para que Teresa tome o hábito no Carmelo da Encarnación. A 3 de Novembro de 1537 Teresa professa como monja. Mas a doença persegue-a, entre 1538 e 1542 padece, temendo-se pela sua saúde, chegando seu pai a levá-la para casa. Segundo Teresa, foi S. José que a curou. Em 1543 falece seu pai.

Esta parte da vida de Teresa que aqui recordamos serve para demonstrar a tenacidade e determinação da jovem noviça, da monja, da mulher. Caminho de santidade, difícil, duro, com lágrimas, mas com exaltação também, com fervor e graça. Como a sua transverberação mística, gozosa, perante o “Cristo em chagas”, em 1554. Depois as suas “visões intelectuais” e as imaginárias de Cristo, a partir de 1559. No ano seguinte inicia o seu labor da escrita mística, na mesma época em que os trabalhos do Concílio de Trento (1545-63) se aproximam do fim. A sua veia reformadora, porém, afirma-se em 1562, antecipando-se às conclusões do Concílio: nesse ano funda o primeiro Carmelo reformado, o de S. José, em Ávila, em que a pobreza das monjas causou choque na população. A pobreza como caminho da perfeição espiritual foi marcante em S. Teresa. Apesar da fraqueza de saúde e do labor como autora espiritual e mística, até ao fim da vida fundará quase vinte carmelos reformados na descalcez, para Monjas Carmelitas Descalças, forma de vida que influenciou também S. João da Cruz, como Fr. António de Jesus, a impulsionarem a reformar as comunidades carmelitas masculinas (Ordem dos Carmlitas Descalços, fundada em 1593). A primeira comunidade de frades carmelitas descalços (mendicantes) foi fundada por aqueles dois santos em 1568, em Duruello, inspirada por S. Teresa.

A sua energia reformadora, estribada numa vida contemplativa e na oração mental, tornam-se a sua marca, para sempre. Como os seus êxtases, as suas elevações místicas, a sua ascese, o Amor absoluto! O seu “Caminho de Perfeição” (publicado em Évora, em 1583), uma entre várias das suas obras de espiritualidade, como as de carácter fundacional e normativo, exponenciam a dimensão de santidade de Teresa, uma monja de clausura com um coração trespassado de amor mas uma energia e capacidade de luta, pragmatismo, notáveis. Recolhida sempre, activa até ao fim. Lutou pela afirmação do ramo descalço do Carmelo, feminino e masculino, que se afirmaria depois da sua morte. De facto, em 1593, Clemente VIII oficializou o projecto de S. Teresa e de S. João da Cruz, separando os Carmelitas Descalços dos Carmelitas da Antiga Observância (ou Calçados).

Foi proclamada Doutora da Igreja em 1970, pelo Beato Paulo VI, tendo sido beatificada em 24 de Abril por Paulo V e canonizada por Gregório XV em 12 de Março de 1622.

 Vítor Teixeira 

Universidade de São José

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