Prontos para seguir viagem

Agora que estamos de regresso às bancas é altura de fazer um pequeno balanço do que se passou nestes dias de interregno. Continuamos nas Ilhas Virgens Americanas, na ilha de St Thomas, ancorados em Long Bay, na histórica cidade de Charllote Amelie, outrora um dos maiores entrepostos comerciais do negócio da cana do açúcar e dos escravos. Hoje em dia a cidade é conhecida como destino de excelência para compras sem impostos nas Caraíbas e paragem obrigatória de todos os navios de cruzeiro que navegam nestas águas.

Rota dos 500 anos

Por semana passam pelos seus dois terminais mais de 15 navios, todos eles carregando sempre mais de dois mil passageiros. É fácil perceber-se porque é que a ilha vive para os turistas dos cruzeiros. Em dia em que não há barcos nos terminais tudo pára e parece que a cidade adormece. Uma dependência que não parece incomodar quem aqui vive nem as autoridades, visto que o filão de turistas, mesmo em tempo de crise como a que atravessamos, continua forte e saudável. Um paralelo feito com a dependência do Jogo em Macau que o Governo tenta mascarar com a diversificação da oferta turística. Pelo menos aqui há coragem de assumir que vivem dos turistas e que tudo depende de quem chega via marítima, não há hipocrisia nem tentam mascarar os números.

Nós estamos em fase de preparação para rumar para a ilha de Grenada, já muito perto da Venezuela. Temos o veleiro quase pronto para partir e em breve iremos mudar de ancoradouro para uma praia, onde iremos aguardar por uma janela meteorológica de uma semana de tempo favorável e sem depressões vindas da costa de África, que afectam esta zona das Caraíbas nesta altura do ano com os famosos tornados ou tempestades tropicais. Nas últimas semanas fomos afectados por três, sendo que duas delas chegaram mesmo a ser classificadas como tempestade tropical e a terceira, após ter passado por nós ainda apenas como depressão, acabou transformada num tornado quando passou pelas Bahamas. Felizmente temos passado sem grandes problemas, apesar do muito vento e chuva. Esperamos que assim se mantenha.

Entretanto, gerindo o nosso magro orçamento, fomos capazes de reparar a vela do enrolador que se tinha danificado numa das últimas passagens de alto mar, estando agora pronta para ser usada na viagem de cinco dias rumo a Grenada. Fomos também capazes de encomendar um gerador eólico para nos ajudar a produzir mais alguma energia, sempre necessária para ir mantendo pelo menos o frigorífico a funcionar em pleno. Tínhamos tentado contactar a empresa portuguesa que fabrica o gerador SilentWind mas não estiveram disponíveis para nos oferecer um preço acessível, pelo que tivemos de optar por outra marca que nos disponibilizou um aparelho por menos de metade do preço original e dentro das nossas possibilidades financeiras neste momento.

Nestes últimos dias também, finalmente, fui capaz de resolver o problema que vinha afectando o nosso dessalinizador. Desde o início da viagem que não funcionava como devia ser e estava inoperante há já algumas semanas porque sempre que o metíamos a funcionar parava constantemente, tornando o processo de produção de água muito lento e desperdiçava muita energia. Depois de ter vários especialistas da marca a bordo, cada um com a sua teoria e que apontavam sempre para facturas acima das dez mil patacas, usei a famosa técnica de testar e errar. Sabia que a bomba de alta pressão estava boa porque quando funcionava fazia água e tinha sido alvo de manutenção por mim assim que colocámos o veleiro na água; sabia que o motor estava bom porque o tinha mandado testar numa oficina; sabia que as membranas estavam boas porque a água, apesar de pouca, era de boa qualidade e, no entanto, a máquina parava. Entre o cabo que traz a energia das baterias e o interruptor do aparelho havia um pequeno relai que aquecia excessivamente. Experimentei tirá-lo e instalei um novo com um pouco mais de potência. Problema resolvido! Agora o único problema é que precisamos de energia porque o “fazedor de água” consome imenso e só o usamos uma hora por dia quando ao fim do dia ligamos o motor para carregar as baterias para a noite. Nesse período de uma hora faz cerca de 15 a 20 litros de água potável, mais ou menos os nossos gastos diários.

Relativamente à tripulação, está tudo bem! A pequena Maria foi recentemente às vacinas, visto que passou a barreira dos 18 meses, e teve de ir ao médico porque apresentou uns vermelhões na pele dos braços e do peito que nos deixaram algo alarmados. Afinal não passava de uma reacção ao calor. Com um xarope e uma pomada o mal passou. Quanto ao nosso membro canino, está já preparado para seguir viagem com toda a documentação. Certificados de raiva, testes de laboratório, etc., tudo feito e pronto. Afinal esta tinha sido a razão de termos regressado a St Thomas!

JOÃO SANTOS GOMES

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