Das Bahamas para os festivais de Verão

ROTA DOS 500 ANOS

Das Bahamas para os festivais de Verão

O retorno à vida em terra, na velha Europa, custa-nos sempre um pouco. Desta vez não foi mais fácil e a diferença de trinta graus centígrados entre Eleuthera e Mira também não ajudaram muito. Estavam 39 graus centígrados quando deixámos a ilha de Eleuthera, nas Bahamas, e nove quando, passadas quase 48 horas, chegámos à minha vila natal. O facto de termos passado um dia em Miami, à espera do voo da TAP que nos levaria a Lisboa, para a ligação ao Porto, não ajudou a diminuir o impacto do choque térmico.

A primeira vez que saímos de casa ainda vestimos casacos, gola alta, mas por vergonha deixámos as luvas no armário. Vontade não faltou de as usar, só que depois de vermos os nossos conhecidos, apenas de camisa, a aproveitarem os raios de sol que se vão fazendo sentir por Portugal durante estes dias de Primavera, chegámos à conclusão que é uma questão de tempo até nos voltarmos a habituar. Ainda assim, durante a noite tivemos de acender a lareira e ligar o aquecimento nos quartos…

Também pouco tempo tivemos para nos aclimatizar. É que passadas pouco mais de 24 horas após a chegada a Portugal já estávamos totalmente embrenhados no nosso negócio de comida. Muito há para fazer, especialmente a nível da mecânica, pois a velhinha carrinha Iveco tem um mal de motor. Enquanto este está a ser “reconstruído”, vamos metendo mãos a todos os outros trabalhos preparatórios, tendo em vista começarmos a nossa actividade de venda de comida tailandesa em meados de Abril. A época de festivais está a começar e queremos estar a cem por cento este ano.

Nos últimos dias instalámos um novo piso de alumínio no interior da carrinha. Um melhoramento que queria fazer desde que começámos este negócio há dois anos e que irá facilitar em muito a limpeza do veículo. Sendo de metal, o chão pode ser lavado com água quente da torneira, o que vai contribuir para uma melhor higiene. A partir de agora é mais fácil remover a gordura que se vai acumulando durante a cozedura dos pratos que vamos servindo.

Estes dias também têm sido aproveitados para contactar com os amigos que ficaram para trás nas Bahamas e nas Caraíbas. Se entre 2014 e 2016 fizemos muitas amizades e conhecemos imensos locais, os últimos meses não foram diferentes. Desde a chegada a Curaçao, à passagem por Aruba e pelo Haiti, até decidirmos parar nas Bahamas, muitos foram as ocasiões em que conhecemos novas pessoas e com elas travámos amizade, que esperamos perdurar no tempo. Assim que aterrámos em Portugal a todos informámos que estamos sãos e salvos, e que a partir daqui há outras etapas a calcorrear. Afinal, trata-se de pessoas que se preocupam connosco e querem saber como nos iremos readaptar à vida em terra.

Passados dos dias, a Maria regressou à rotina da escola, onde já não ia desde Dezembro. Segundo nos confessou, já estava com «saudades». No entanto, ainda a primeira semana não havia terminado e já estava a perguntar pelo barco, porque não gosta da escola. Quando estava no barco, especialmente na hora de escola a bordo, gritava e resmungava dizendo que tinha saudades da escola em Portugal. Bem, a verdade é que em uma ou duas horas de escola a bordo acabava por aprender mais do que num dia inteiro na escola em terra. O facto de ser apenas ela, a aluna, e nós, eu e a mãe, o professor, e de nela estarmos exclusivamente focados, contribuía para o seu avanço rápido nas matérias que o sistema de ensino nos aconselhou a seguir. Quando chegámos a Portugal informámos a professora que a Maria já atingiu todos os objectivos do corrente ano lectivo. Sempre que chegava a casa dizia que já tinha aprendido no barco o que a professora em terra lhe estava a ensinar.

Entretanto, a NaE voltou a contactar o Instituto de Oncologia de Coimbra, tendo em vista o seu acompanhamento. Tal foi feito directamente com o seu médico, tanto mais que precisávamos de saber se teria de ir ao IPO para a administração dos implantes que tem de fazer mensalmente. No barco tínhamos procedido à injecção de três deles mas trouxemos outros três connosco porque acabámos por regressar mais cedo. O médico disse que não havendo outras queixas pode proceder à administração do implante em casa, assim como fazia no barco, ou ir ao Centro de Saúde. Ou, caso quisesse, ir ao IPO. Optámos pela “opção caseira”, pelo que irei estar de serviço a mais três injecções.

Na vida do mar temos de ser um pouco de tudo. A mim cabe-me ser o capitão, para além de mecânico, electricista, canalizador e também enfermeiro.

Nestes primeiros dias em terras lusas fiquei com a missão de recolocar o negócio a funcionar. Procedi então a todos os contactos relativos a eventos e fornecedores, tendo ainda coordenado com a oficina de mecânica a reparação da viatura e procedido à limpeza, pintura e instalação de todo o equipamento que havia sido retirado quando deixámos Portugal no ano passado. Até ao momento está tudo a correr a bom ritmo, devendo tudo encarreirar dentro de alguns dias, prontos para seguirmos estrada fora, de evento em evento, de Norte a Sul de Portugal.

Tudo indica que o primeiro evento será em Quiaios, perto da Figueira-da-Foz, seguindo-se Vila do Conde. Após este aquecimento inicial, irá começar uma maratona de quilómetros e mais quilómetros, que nos levará do Algarve ao Minho e, muito provavelmente, a Espanha.

Se vier a Portugal procure por nós e experimente os nossos pratos de comida de rua tailandesa.

João Santos Gomes

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