O Grande Castelo de Ansembourg e a Capela do Monte Maria
A paragem seguinte da Rota do Vale dos Sete Castelos fica a pouco mais de uma dezena de quilómetros do Castelo de Hollenfels, de que vos falámos na última edição. É o local mais inacessível da Rota, mas é provavelmente o mais bonito.
O Grande Castelo de Ansembourg é privado e está fechado ao público. No entanto, os interessados podem sempre reservar uma noite neste castelo através da plataforma Airbnb ou da rede de hotéis Temps D’Or.
Oficialmente, a página do Governo que publicita o Vale refere que o castelo é propriedade da família do Conde de Ansembourg, no entanto, facilmente se descobre que o seu verdadeiro proprietário é a organização japonesa Sukyo Mahikari. Segundo a Wikipedia, trata-se de um “movimento religioso moderno, ou uma arte espiritualista ecuménica e sem dogmas, fundado em 1959 por Yoshikazu Okada em Tóquio, baseada no budismo e em revelações divinas de Deus, tendo como objectivo a renovação espiritual e qualidade de vida elevada da humanidade com o uso da Luz Divina e uma vida centrada em Deus independentemente da religião”. Ora, já para não falar na péssima qualidade do Português empregue, só pela descrição percebe-se que estamos perante algo muito pouco teologicamente sustentável ou idóneo.
Embora seja privado, todos os dias o castelo abre os seus jardins ao público. Construído pelo industrial Thomas Bidart em 1639, o Grande Castelo de Ansembourg foi baptizado pelo primeiro proprietário como “Casa das Forjas”, em alusão à sua actividade principal, a de empresário ligado à indústria do aço e do ferro. A família Bidart subiu na sociedade local graças à enorme fortuna que fez durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), ao fornecer todo o tipo de metal às forças em conflito. A fortuna contribuiu, entre outras honrarias, para a obtenção do título “Conde de Ansembourg”, até então detido pela família Raville.
O Grande Castelo de Ansembourg, localizado no vale do Eisch, no centro do Luxemburgo, sofreu uma transformação significativa no Século XVIII, quando os seus herdeiros receberam os títulos de Barão e Conde de Marchant e Ansembourg, e de Conde do Sacro Império Romano. Os referidos jardins foram construídos em 1750, estando embelezados com estátuas, escadas e fontes decorativas.
Thomas Bidart morreu em 1670, tendo a sua filha, Marie-Anne Bidart herdado as forjas. Em 1678 construiu a Capela do Monte Maria, criando uma fundação caritativa para a educação das crianças pobres da região, a qual esteve em actividade entre 1688 e 1844.
Coube à família De Marchant empreender uma surpreendente transformação ao castelo, depois de o ter herdado por casamento. Desde então, mantém a aparência actual. Entre 1740 e 1750, Lambert Joseph de Marchant et d’Ansembourg continuou a embelezar o castelo, melhorando ainda mais os jardins e ampliando os edifícios no lado norte do pátio principal.
No início da década de 1970, o castelo albergou estudantes estrangeiros de três faculdades católicas privadas norte-americanas, no âmbito de um programa académico. Os alunos residiam nos dormitórios recém-criados no segundo andar, participando durante o dia em aulas de Literatura, História da Arte, Educação Musical e Língua Estrangeira.
Como já referimos, desde 1987 que o castelo pertence à Sukyo Mahikari, servindo este como sede para a Europa e África. Ali são realizadas cerimónias e seminários para os seus membros, ao longo do ano. A organização efectuou trabalhos de renovação substanciais no castelo, com a ajuda do “Service des Sites et Monuments Nationaux” do Luxemburgo. Inicialmente os trabalhos centraram-se no reforço das fundações e paredes, e no restauro da escada de honra do terraço superior dos jardins. Em 1999 começaram a ser reparadas as estátuas e as fontes do jardim, e reconstruídas as coberturas das duas alas e do corpo central.
A Capela do Monte Maria é o local que atrai mais visitantes, depois do castelo e dos seus jardins. Depois de ter sido edificada em 1678, foi ampliada em 1687. A sua mentora, Marie-Anne Bidart, foi enterrada na capela em 1711; após a sua morte foram erguidas duas torres junto à entrada barroca, cuja escadaria conduz ao castelo. Ao pé da escada encontra-se a antiga casa do capelão, datada de 1731, que também serviu de escola.
A capela, a velha escola, a escadaria e a casa do capelão estão classificadas como monumentos nacionais desde 22 de Junho de 2000.
A partir de uma breve pesquisa – apenas encontrámos informações sobre a história da capela em Alemão e Luxemburguês – descobrimos que certo dia o Senhor de Ansembourg encontrou uma pequena imagem de Nossa Senhora num carvalho em frente ao castelo. Depois de orar, retirou a imagem da árvore e levou-a para a igreja paroquial de Tétange. Nesse mesmo dia o pároco atribuiu à imagem um lugar digno no altar. Na manhã seguinte, o pároco ficou horrorizado ao descobrir que a imagem havia desaparecido. Foi então que um funcionário do Senhor de Ansembourg a encontrou exactamente na mesma árvore, sem se saber como ali “regressou”. O mesmo viria a acontecer nos dos dias seguintes, apesar de todas as medidas de segurança para que a imagem não fosse levada da igreja.
Este episódio foi encarado como um desejo de Deus para que a imagem da Virgem Maria fosse adorada no Monte Maria. Por isso, a montanha foi dedicada à Virgem Maria e a capela erguida pela filha do Senhor de Ansembourg.
Até à Revolução Francesa, todos os anos, por ocasião da festa do nascimento de Maria, realizava-se uma grande procissão entre a Capela do Monte Maria e a capela do castelo. Entretanto, a procissão e respectiva veneração à Virgem Maria cessaram, até que em 2013 o pároco Joël Santer retomou a antiga tradição com a organização de uma procissão de velas.
João Santos Gomes