O Castelo de Schoenfels e a Igreja de São Vilibrordo
A nossa viagem pela Rota do Vale dos Sete Castelos leva-nos, esta semana, até à vila de Schoenfels, uma viagem de pouco mais de cinco minutos de carro desde a nossa primeira paragem, junto da igreja de São Miguel em Mersch, de que vos falei na crónica anterior.
O Castelo de Schoenfels é outro dos grandes exemplos do dinheiro e dos recursos despendidos pelo Governo do Luxemburgo na preservação do património histórico, estando o castelo em obras que o irão levar ao esplendor original.
Os registos históricos referem que foi edificado em 1292, mas não nos esclarecem a cem por cento acerca do seu antigo proprietário; apenas se sabe que foi um “certo Friedrich de Schonevels”. Registos mais recentes dizem que anos mais tarde a sua posse passou para os senhores de Ansembourg, através de um casamento.
A entrada da torre de menagem está decorada com as armas de Schloeder von Lachen, que era o senhor destas terras. No Século XVII, o castelo foi despojado das suas fortificações por Luís XIV, perdendo todo o seu valor estratégico. Numa guerra feudal travada entre Théodore De Neunheuser e o senhor de Brandenbourg, em 22 de Junho de 1690, a vila e o castelo ficaram reduzidos a cinzas.
Setenta anos volvidos, novamente por meio de um casamento, Pierre-François de Gaillot de Genouillac tornou-se senhor de Schoenfels, sendo que o seu herdeiro, em 1774, vendeu as propriedades a Jean-Baptiste Thorn, governador da Província do Luxemburgo durante o período da regência belga (1831-1839).
Depois de passar por diversas mãos, ora por compra ora por dote de casamento, em 1971 o Estado do Luxemburgo adquiriu finalmente o edifício. A mansão que havia sido construída por um dos seus proprietários, e que pode ser apreciada em diversas pinturas antigas, foi destruída em 1976, durante obras de reforma das masmorras.
A reconstrução e remodelação que está actualmente em curso tem como objectivo instalar um centro de recepção aos visitantes e escritórios da Administração de Águas e Florestas, no intuito de dar mais vida ao local e torná-lo útil para a população.
Sem necessidade de obras de remodelação e em plena actividade está a igreja contínua ao castelo. A igreja de São Vilibrordo é o centro religioso desta vila, agregando toda a comunidade católica local que acorre às cerimónias religiosas com grande frequência, como nos foi possível constatar numa missa de Domingo. Ali almoçámos numa pizzaria, sendo esta propriedade de portugueses. Fica precisamente do outro lado da estrada, em frente à igreja.
Foram os funcionários, na sua maioria provenientes do Norte de Portugal, que nos disseram que a igreja é o ponto central de todas as actividades religiosas e culturais da vila. Pela sua centralidade, era aqui onde os mais jovens se reuniam e os idosos colocavam a conversa em dia, ao final da tarde.
A igreja de São Vilibrordo tem uma arquitectura interessante, pois é simples, não deixando de ser algo austera mas de aparência bastante elegante. Por se encontrar inserida num local algo exíguo – a estrada tem pouca largura e logo ao lado está o Castelo de Schoenfels – os automobilistas têm dificuldade em parar, o que obriga os fiéis e outras pessoas a visitaram a igreja de forma apressada. O templo religioso é utilizado diariamente por centenas de devotos, estando de portas abertas ao longo do ano.
A proximidade da igreja à cidade de Mersch, a capital do cantão, faz com que esteja sob a regência da missão da igreja de São Miguel em Mersch e jurisdição da arquidiocese do Luxemburgo.
De cores suaves, a igreja de São Vilibrordo tem nave única, encimada por um altar com uma enorme cruz e um vitral redondo que permite a entrada de variadas cores de luz, presenteando quem se senta na fila única de bancos de madeira que ocupa todo o espaço central. Do lado direito, podemos admirar uma estátua de São Vilibrordo – santo nascido no ano de 658, em Northumbria, no Norte do Reino Unido – e alguns quadros alusivos à vida de Cristo, espalhados pelas paredes.
No Luxemburgo as missas são celebradas, maioritariamente, em Alemão e Luxemburguês, mas há outra língua oficial que também é usada na celebração da Eucaristia e em outras manifestações religiosas: o Francês. Claro está que devido ao grande número de portugueses que vivem no País, o Português é outra das línguas usadas pelas Igreja Católica.
A primeira vez que passámos em Schoenfels foi nas primeiras semanas depois de termos mudado para o Luxemburgo. Andávamos à procura de casa e desde então ficámos com vontade de voltar. É um passeio que vale a pena, mas meio-dia chega perfeitamente para ver o que de mais importante a vila tem para oferecer. Infelizmente, enquanto o castelo não for aberto ao público, Schoenfels não deixará de ser um local de mera passagem, embora seja um lindíssimo local a desbravar.
Por enquanto, para além da igreja, um dos pontos de maior interesse é um centro pioneiro, que abriu há menos de uma década mas que tem feito um excelente trabalho na reintegração dos sem-abrigo. O Centro de Pós-terapia de Schoenfels oferece uma nova esperança aos sem-abrigo, tendo o projecto a chancela da associação Stëmm vun der Stross, a qual trabalha com esta franja da população há várias décadas. Localizado na zona rural do Castelo de Schoenfels, o Centro, que sempre contou com o apoio das autoridades religiosas, presta apoio a quem completou o tratamento de combate à toxicodependência ou ao álcool e tenta encontrar formas de os restituir à sociedade nos moldes em que se sentirem mais úteis. Este equipamento social, o primeiro do género no Luxemburgo, de acordo com a sua responsável – conhecemos a senhora durante o almoço na pizzaria –, foi recebido com muita resistência por vários sectores da conservadora sociedade luxemburguesa. Contudo, completados quase dez anos, com muito trabalho e depois de provada a eficácia do método, finalmente começa a ser aceite a apoiado pelas autoridades governamentais.
João Santos Gomes