Rogério Varela Afonso, Director d’O Século de Joanesburgo

Urge uma agência noticiosa para as comunidades portuguesas.

Rogério Varela Afonso, director d’O Século de Joanesburgo, o mais importante órgão da imprensa escrita da comunidade portuguesa radicada na África do Sul, mostrou satisfação ao constatar que em Macau se mantêm no activo vários jornais em língua portuguesa, pois considera salutar a competição. «Se houver viabilidade económica e se forem de certo modo auto-suficientes, acho óptimo», diz a’O CLARIM.

Academicamente originário do Instituto Superior Técnico, curso de Engenharia, que não concluiu, Varela chega a Moçambique em 1968. Tira aí o curso de Jornalismo, «no Notícias de Lourenço Marques», e de tal modo mergulha no mundo da Comunicação Social, que aos 24 anos é designado chefe de redacção de um outro jornal, o Diário de Lourenço Marques.

«Suponho que tenha sido, ao nível dos diários, o chefe de redacção mais jovem de todo o espaço português daquela altura», salienta.

Depois, em 1974, sai de Moçambique e radica-se na África do Sul. O Século de Joanesburgo, «que já nessa altura pertencia ao Diário de Lourenço Marques», transfere de novo a sua sede para Joanesburgo, e Varela ali continua a trabalhar tendo logrado atingir o cargo de director e ainda de administrador da empresa.

Esteve pela primeira vez em Macau, em Maio de 2004, num encontro da imprensa da diáspora promovido pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas que juntou no território 37 jornalistas. Na altura, achou que não fazia sentido a presença de representantes dos jornais de Angola e Moçambique, «onde também existem comunidades portuguesas, embora não muito grandes», porque todos os jornais daí, «embora fossem de expressão portuguesa, eram estatais e não estavam ligados à comunidade portuguesa». Esse encontro, na sua opinião, foi um momento excepcional, «pois permitiu o reencontro de camaradas de profissão dos Órgãos de Comunicação Social que servem as comunidades portuguesas, troca de experiências, de impressões e a defesa de interesses comuns». Na altura, tal como os restantes participantes, demonstrou espanto pelo desenvolvimento que o território estava a ter, estranhando, no entanto, o facto da população não falar o idioma luso, «embora se notasse o Português escrito».

Será que se justifica voltar a promover um encontro, passados quase treze anos?

Resposta pronta: «Sim, em Macau ou noutro local onde existam marcas históricas de Portugal e diásporas da nossa nacionalidade». Varela considera que nesta parte do mundo «existem relações de amizade que podem ser potenciadas», sobretudo se integradas no conceito da CPLP. Sabe que neste momento (tendência das últimas duas décadas) há um grande fluxo de famílias chinesas, «dezenas de milhares delas», para Moçambique. «Entre outras obras, a China construiu a ponte sobre o Maputo e Catempo, na baía de Maputo, com inauguração prevista no decorrer deste ano», informa.

Também na África do Sul a comunidade sínica cresce de ano para ano, «principalmente em Joanesburgo, onde, nalguns centros comerciais, é notória a predominância de lojas de chineses, além da presença destes nos casinos sul-africanos».

Quanto aos portugueses locais, «continuam muito mal informados acerca do nosso legado histórico na Ásia e das potencialidades comerciais com a China via Macau». Através do jornal que dirige, Varela tenta reverter a situação, dando a conhecer aos leitores «as diversas facetas dessa porta de oportunidade». A comunidade lusa totaliza 500 mil pessoas, «contando já com as segundas e terceiras gerações». É, pois, uma comunidade significativa e está inserida em todos os sectores da actividade económica e profissional. «Há portugueses na administração pública, nas universidades, no sector comercial e áreas de relevante importância como sejam a informática, a hotelaria e agências de viagem. É uma comunidade estabelecida há muitos anos», especifica. Se bem que maioria dos seus membros tenha origem na Madeira, «muitos vieram de Angola e Moçambique, após o desastroso processo de descolonização». Foi gente que viria a estabelecer-se definitivamente não só na África do Sul mas também na Namíbia e no Botswana.

Agora que as duas ex-colónias portuguesa estão pacificadas, Varela acredita que voltará a haver um fluxo comercial bastante grande, «uma triangulação comercial tendo por base a África do Sul, que é um país economicamente bastante desenvolvido e industrializado».

E de que forma sobrevivem os jornais da comunidade lusa na África Austral? Varela explica: «O Século de Joanesburgo, fundado em 1963, é um jornal auto-suficiente que a partir de 1981 criou a sua própria gráfica, hoje uma das maiores da África do Sul, com quatro rotativas ao seu dispor». O semanário Século de Joanesburgo tem projecção em toda a África Austral. «Distribuímos o jornal na África do Sul, Angola, Moçambique, Zimbabué, Namíbia e Suazilândia, cobrindo todas as comunidades portuguesas presentes nesses países». Rogério Varela Afonso considera que os jornalistas da diáspora têm uma enorme responsabilidade de transmitir aos seus leitores a dimensão e a importância das outras comunidades fora do país de acolhimento. Contudo, esse intuito «esgota-se numa edição de jornal», e se não houver continuidade o futuro está comprometido. Daí que o jornalista termine a conversa com um apelo: «Quanto a mim teria que ser repensada a missão de uma agência noticiosa portuguesa que nos fizesse chegar, com frequência e com alguma constância, fluxos noticiosos sobre as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo».

Joaquim Magalhães de Castro

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