Relações Sino-Vaticanas atingem momento decisivo

João Evangelista Lau

Diplomacia suave ou dura?

A aproximação entre a China e o Vaticano atingiu um momento decisivo. A Igreja Católica tem em cima da mesa duas formas distintas de lidar com o processo: a via suave e uma via mais dura.

Em declarações a’O CLARIM, os padres Jojo Ancheril e João Evangelista Lau explicam o que está em jogo e as causas para ambas as vias.

«Na minha opinião, assim como é entendido pela maioria dos nossos membros, a abordagem suave é sempre a melhor. Quando falei com um dos nossos membros sobre o assunto ele respondeu-me imediatamente desta forma: “A minha posição sobre a China e o Vaticano tem sido sempre de amor e cura”», descreve o superior dos claretianos em Macau, padre Jojo Ancheril, para quem esta «também será a abordagem do Papa Francisco».

«Apoio sempre a abordagem suave, porque toda a vez que visito a China evangelizam-me através do seu amor, amizade, cuidado, compreensão, perdão e generosidade. E enquanto houver amor genuíno todas as divisões ficam curadas», refere o mesmo sacerdote, o qual diz «acreditar firmemente que o povo chinês tem um coração suave e adorável, que só pode ser conquistado através de uma abordagem muito suave».

Já o padre João Evangelista Lau sustenta que o principal problema nas relações Sino-Vaticanas até nem é a nomeação de bispos pela China, mas sim a diferença de mentalidades. «A China tem uma mentalidade e o Vaticano tem outra. Não é tão fácil conjugar ambas. O ponto principal nem é a nomeação de bispos. [A diferença entre] nós, Igreja Católica, no aspecto pastoral, e o Governo da China é muito diferente, dado que eles exercem um grande controlo sobre tudo», explica o padre Lau.

De igual forma, «há pessoas no Governo da China que não compreendem muito bem a Igreja Católica», visto «desconhecerem a tradição e cultura», o que no seu entender cria entraves à aproximação. «São mentalidades diferentes, por exemplo, em relação a outros países onde o Catolicismo tem a sua tradição», justifica o sacerdote.

«Não é fácil», admite, razão pela qual desaconselha a via muito suave. «O ideal é haver um meio termo. Nem muito suave, nem muito dura», vinca.

Admitindo que o normalizar das relações passa sempre por um processo «difícil», acrescenta que «o Papa Francisco é uma pessoa com quem pelo menos se pode dialogar», algo que tem dado os seus frutos. «É positivo continuarmos o diálogo. Já não acontece como anteriormente, em que o Governo da China negava tudo», conclui o padre João Evangelista Lau.

 

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

 

PAPA ENVIA MENSAGEM AOS CATÓLICOS DA CHINA (Caixa)

 

Comunhão com Roma

O Papa Francisco dirigiu uma mensagem de «comunhão» aos católicos na China, por ocasião do dia anual de oração que a Igreja dedica a estas comunidades, a 24 de Maio.

«Digo aos católicos chineses: levantemos o olhar para Maria, nossa Mãe, para que nos ajude a discernir a vontade de Deus a respeito do caminho concreto da Igreja na China e nos ajude a acolher com generosidade o seu projecto de amor», declarou no passado Domingo, após a recitação do Regina Coeli, na Praça de São Pedro, perante milhares de pessoas.

A intervenção acontece num momento em que se verificam sinais de aproximação entre o Vaticano e Pequim.

Francisco disse que a Igreja Católica iria estar unida «espiritualmente» aos fiéis da China na festa da Virgem Maria, Ajuda dos Cristãos, venerada no Santuário de Sheshan, em Xangai.

«Maria encoraja-nos a oferecer o nosso contributo pessoal para a comunhão entre os crentes e para a harmonia de toda a sociedade. Não nos esqueçamos de testemunhar a fé com a oração e com o amor, mantendo-nos abertos ao encontro e ao diálogo, sempre», concluiu.

In ECCLESIA

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *