REFLEXÃO SOBRE A NATUREZA DA PESSOA HUMANA – 2

REFLEXÃO SOBRE A NATUREZA DA PESSOA HUMANA – 2

A minha responsabilidade social

Enquanto pessoa humana, sou um ser social, membro de uma família, étnico, cidadão de uma nação e do mundo. O outro pode ser para mim um “isso”, um “ninguém”, um “ele/ela” ou um “tu” – um “você”!

Se eu considero o outro como um “isso” ou um objecto, então desumanizo esse alguém; desrespeito a ele e a ela, trato-os como “meios”. Devo considerar o outro como ele e ela o são: uma pessoa humana que, portanto, nunca deve ser transformada num objecto, num “meio”, porque ele/ela é um fim e nunca um meio (Kant).

“Nenhum homem é uma ilha!”. Além disso, como cristão, não estou sozinho. Como diziam os primeiros cristãos: “Solus Christianus, nullus Christianus” – um cristão solitário não é um cristão. O cristão também é membro da Igreja, comunidade dos discípulos de Cristo. A Igreja é o Povo de Deus composto pelo Papa, bispos, sacerdotes, religiosas e religiosos, e fiéis leigos. Todos são iguais em dignidade, pois há um só Deus, Uno e Trino, e um só baptismo para todos.

Se considero o outro como um “ninguém”, então sou-lhe indiferente, e tal é desumano. Se tomo o outro como “ele ou ela”, então respeito-o na justiça, com igual dignidade e direitos, mas não “o” ou “a” amo, necessariamente. Se considero o outro como “tu”, amo-o como membro da família humana. Como pessoa humana, ser individual e social, crente, em que o propósito da vida é viver com os outros na justiça e no amor: viver com e para os outros. Somente a verdadeira justiça e o amor compassivo nos conduzem à harmonia pessoal e social, à paz e à felicidade.

Na perspectiva religiosa, na perspectiva cristã, o outro não é apenas um igual, mas um irmão ou uma irmã em Cristo. Cristo, Deus/Homem, é o nosso Salvador e irmão: a nossa relação com Ele é uma relação de fraternidade: somos filhos de Deus Pai, irmãos e irmãs em Jesus (cf. Rm., 8, 12; 1 Jo., 3, 11-14; CIC nº 1931). Cada próximo é “como outro eu” (GS, 27).

Qual a minha responsabilidade ao viver com os outros? A minha responsabilidade fundamental é respeitar e defender os Direitos Humanos, começando pelo fundamental: o direito à vida de todo o ser humano, desde o momento da concepção até a morte natural. Portanto, e com o devido respeito por todos, defendo pacificamente a vida humana contra o aborto provocado, a eutanásia directa, o suicídio, o homicídio e a pena de morte. A minha responsabilidade em relação à vida do “outro” é defendê-la e promovê-la. Não apenas a sua vida física, mas também proporcionar que tenha uma vida digna no mundo.

Os Direitos Humanos, os direitos que pertencem a toda a pessoa humana, pelo facto de pertencer à espécie humana, incluem o direito à educação, à saúde básica e à liberdade, incluindo a liberdade de consciência e a liberdade religiosa. Devo ser justo e promover a justiça, ser solidário com todos, especialmente com os necessitados e pobres. Em solidariedade, devo trabalhar pela liberdade e pela verdade: liberdade na verdade, mas não liberdade da verdade (São João Paulo II).

Todos queremos ser felizes. A busca pela felicidade é um direito humano básico. O que me faz verdadeiramente feliz? O que me faz feliz e dá sentido à minha vida é tornar-me mais do que sou, ou seja, tornar-me um ser humano próspero, vivendo com os outros e para os outros. Recentemente, afirmaram os bispos da Ásia: “Nós, asiáticos, buscamos não apenas o sentido da vida, mas a própria vida. Falamos da vida como um devir – crescimento, caminho para a vida e fonte da vida” (FABC). A vida tenta-nos muitas vezes, para que deixemos de ser bons seres humanos, cristãos, o que implica que devemos seguir os princípios da ética nas nossas vidas pessoal e social. A minha mente e o meu coração estão totalmente convencidos que só fazendo o bem me sinto feliz e alimento essa felicidade. Pelo contrário, fazer o mal deixa-me infeliz e acentua a minha infelicidade.

A 5 de Outubro de 2011 faleceu Steve Jobs, o fundador da Apple. Jay Elliot, ex-vice-presidente da Apple, afirmou: “O Steve era a pessoa mais ética e moral que conheci. Isto somado à paixão pelos seus projectos era uma combinação que já mais havia visto. (…) Ele nunca fez nada que não fosse próprio do mais nobre entre os seres humanos”. Maravilhoso!

Em Outubro de 2011, a revista Forbespublicou os resultados de uma pesquisa realizada pela Universidade de Chicago. A principal pergunta que os investigadores fizeram foi: “Quem é a pessoa mais feliz?”. As respostas mais comuns foram: o mais feliz é o padre ou pastor; em segundo lugar, o bombeiro; em terceiro, o fisioterapeuta; depois, o professor de educação especial, o professor, o artista (escultor, pintor), o psicólogo, etc.

A conclusão de que geralmente os padres ou pastores são os mais felizes em comparação com outras pessoas que exercem as mais variadas actividades, pode ser explicado com o facto dos padres ou pastores se sentirem mais felizes em virtude da sua relação com Deus e com os outros, e pela sua habitual paz interior. Tenho para mim que os santos são – depois de Jesus – os seres humanos mais felizes do mundo. Como alguém disse: o maior dos seus dons [dos santos] são os sorrisos, símbolo da sua alegre paz interior e exterior.

Qual é então o propósito da vida? É o amor! É a maior virtude, pois o amor dá sentido à nossa vida e aumenta a nossa felicidade. De facto, como escreve R. Tagore, “a vida é-nos dada, e nós a merecemos ao devolvê-la” aos outros – acima de tudo, à nossa família e aos necessitados.

Depois de tentar responder à segunda pergunta, ou seja, quem sóis vós para mim, estou pronto para enfrentar a terceira e última pergunta da próxima coluna: Quem é Deus para mim?

Pe. Fausto Gomez, OP

LEGENDA: Steve Jobs

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