O Dom Incomparável da Graça Divina – 1

REFLEXÃO

O Dom Incomparável da Graça Divina – 1

Quem é cristão? Um cristão pode ser correctamente definido como “pessoa baptizada”, que é fiel à Santíssima Trindade – à graça e ao amor do Espírito Santo. A graça divina é o fundamento do nosso ser e agir como cristãos, que são chamados a uma vida de graça, virtudes, amor, oração e compaixão: à Santidade. De seguida, apresento os ensinamentos fundamentais sobre a graça divina. (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1996-2005).

Para um cristão, a graça é uma grande força para a sua plena realização como ser humano, criatura e filho de Deus, e irmão/irmã de todas as pessoas. Como cristãos, somos convidados a fazer boas acções, a adquirir virtudes pelo esforço humano e/ou a receber as virtudes (virtudes infusas) de Deus. A nossa bondade fundamental é dada pela graça, que eleva a alma ao nível sobrenatural ou ao nível de Deus como Deus. A graça divina está sempre unida ao amor. A nova lei do crente é a lei da graça e do amor.

A graça é o dom dos dons: um dom totalmente imerecido e gratuito de Deus. No Baptismo, o Ser Humano recebe de Deus o dom criado da graça e o dom incriado do Espírito Santo (a Santíssima Trindade), como está claramente expresso na Revelação.

Escreve São Gregório de Nissa: “Que palavras, pensamentos ou voos do espírito podem louvar a superabundância desta graça? O homem ultrapassa a sua natureza: mortal, torna-se imortal; perecível, torna-se imperecível; efémero, torna-se eterno; humano, torna-se divino”.

De facto, “é pela graça que sois salvos” (cf. Ef., 2, 4-6). Com o dom da graça, vem a habitação da Santíssima Trindade no fundo da alma (cf. Jo., 14,23).

A graça na alma é graciosidade, encanto, graciosidade, favor, bondade, piedade, gratidão. A graça é um amor especial de Deus por todos os seres humanos. Deus ama com amor comum toda a criação, e com amor especial (graça e amor), a Humanidade.

A graça é uma participação real e limitada na própria natureza de Deus: “Para que por eles vos torneis participantes da natureza divina” (cf. 2 Pd., 1, 4). As consequências desta incrível participação real e limitada na natureza divina são verdadeiramente espantosas: tornamo-nos filhos de Deus, herdeiros de Deus, irmãs/irmãos de e em Jesus Cristo, templos da Santíssima Trindade, criaturas novas de facto (cf. Rm., 8, 15-17; 1Cor., 3, 16, Col., 3, 9-11).

Deus é a causa principal da Graça: só Ele, que é divino, nos pode tornar divinos. Cristo é a causa meritória da graça: todas as graças passam por Jesus que nos redimiu, satisfez os nossos pecados e nos resgatou. Cristo é o único mediador de todas as graças. Todas as graças fluem de Cristo: em particular da sua Humanidade e também dos Sacramentos; de um modo único da Sagrada Eucaristia, e também dos pobres, que são “os representantes de Cristo” (São Basílio). Até ao fim dos tempos, o Espírito Santo – o Espírito da graça – fará fluir a graça de Cristo na Igreja e no mundo.

O principal efeito da graça é a justificação: A justificação é o movimento da criatura racional do estado de pecado para o estado de justiça/santidade (São Tomás de Aquino). A justificação comporta os seguintes elementos: o perdão dos pecados, a renovação e a novidade de vida: “A justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos os que crêem. Porque não há distinção, uma vez que todos pecaram e carecem da glória de Deus; agora são justificados pela sua graça como um dom, através da redenção que está em Cristo Jesus” (Rm., 3, 22-45).

O mérito é um efeito secundário da graça: É um título para uma recompensa sobrenatural. Um ponto essencial: a primeira graça não pode ser merecida. A graça pertence a um nível superior – o nível sobrenatural – ao qual não podemos subir sozinhos, mas apenas com a ajuda misericordiosa de Deus, com a sua graça divina. Os santos, os místicos, sublinham não o mérito ou a recompensa pessoal (parece um pouco egocêntrico), mas a união amorosa com Deus no céu, vendo-o face-a-face. São Francisco de Sales comenta: “A caridade é o amor desinteressado da amizade, o amor a Deus por si mesmo”, e não principalmente pela recompensa ou pelo mérito.

Existem diferentes tipos de graça: A graça “gratum faciens” é “a graça que torna a pessoa agradável a Deus, tornando-a santa (graça habitual ou santificante), ou a graça que a prepara para a santificação ou a conserva ou a faz crescer nela (graça actual)”.

A graça é criada e incriada: Os justos recebem de Deus na alma o dom criado de Deus ou graça, e o dom incriado da Santíssima Trindade – se houver amor nos seus corações, como claramente expresso na Revelação. A habitação da Santíssima Trindade, apropriada pelo Espírito Santo, pressupõe e causa – ou é dada simultaneamente – a graça criada que torna o coração pronto para receber Deus. Porque a vinda do Espírito Santo (a habitação da Santíssima Trindade) ao homem pressupõe uma mudança na pessoa, uma base real e sobrenatural (real, porque a presença do Espírito Santo é real; sobrenatural, porque é uma presença sobrenatural), que é a graça santificante (São Tomás de Aquino).

Outra distinção da graça: A graça santificante, que se destina principalmente à santificação pessoal, e as graças gratuitas, “gratis datae”, que são dadas para a salvação dos outros – como as diferentes vocações e as graças especiais. Estas graças especiais, ou carismas – como o dom dos milagres ou das línguas – são também “orientadas para a graça santificante e destinam-se ao bem comum da Igreja” (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1999-2003).

Bonhoeffer falou de graça barata e cara. Ele explica: a graça barata significa o seguinte: Deus faz tudo, sem qualquer mérito da nossa parte; nós não fazemos nada; isto aparece como uma espécie de manipulação de Deus. Graça cara: Deus continua a fazer tudo, sem qualquer mérito da nossa parte; mas, uma vez que temos a graça de Deus, começa um movimento dinâmico que nos leva a deixar tudo e a seguir Cristo de uma forma cada vez mais profunda e próxima.

Pe. Fausto Gomez, OP

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