A Família Cristã e a Vida Humana

REFLEXÃO

A Família Cristã e a Vida Humana

Tendo como pano de fundo a Sagrada Família de Nazaré, desejo reflectir sobre a Família Cristã e a Vida Humana.

A família cristã – cada família – é a célula básica da sociedade. A família cristã, além disso, é uma Igreja doméstica e – com outras famílias – uma testemunha essencial e promotora da dignidade e da sacralidade de cada vida humana. Como comunidade de vida e de amor, a família cristã contribui com outras famílias, associações e povos interessados na defesa e promoção da cultura da vida.

A família é o santuário da vida, isto é, “o lugar onde a vida – dom de Deus – pode ser devidamente acolhida e protegida contra os numerosos ataques a que está exposta, e pode desenvolver-se de acordo com o que constitui o autêntico crescimento humano” (João Paulo II). “Se a família é o santuário da vida, o lugar onde a vida é gerada e cuidada, constitui uma contradição lancinante fazer dela o lugar onde a vida é negada e destruída” (Papa Francisco, Amoris Laetitia).

O papel da família na construção de uma cultura de vida é “decisivo e insubstituível”. A família cristã está empenhada em “anunciar, celebrar e servir o Evangelho da Vida” (João Paulo II, Evangelium Vitae).

Aos casais cristãos é pedido que anunciem a vida tendo consciência do verdadeiro sentido da procriação, que revela que a vida humana é “um dom recebido para ser doado”. Com Deus, os pais dão origem a uma nova vida. Como cristãos, eles praticam a paternidade responsável e a maternidade responsável. A família proclama o Evangelho da Vida, parte essencial do Evangelho de Cristo, criando os filhos e educando-os nos valores e nas virtudes humanas e cristãs, e também na fé e moral cristãs. Os pais ensinam aos filhos, em particular, o sentido da vida, da saúde, do sofrimento e da morte.

A família é convidada, pela sua fé em Cristo, a celebrar a vida através da oração diária – oração individual e familiar. Na verdade, a família que reza unida permanece unida. É chamada a celebrar a vida dando graças a Deus pelo dom precioso da vida, ouvindo a Palavra, participando na Eucaristia Dominical e recebendo o perdão e a graça para perdoar no Sacramento da Reconciliação. Na sua adorável Carta Apostólica “O Rosário da Virgem Maria”, João Paulo II recomenda vivamente às famílias que rezem o Rosário, uma oração da e para a família: “Precisamos voltar à prática da oração familiar e da oração pelas famílias, continuando a usar o Rosário”. A família celebra a vida através da vida quotidiana dos seus membros – “se for uma vida de amor e de doacção”. Os membros da família também são “pessoas de vida e pessoas para a vida”. Além disso, a família cristã, em particular, celebra a vida ajudando outras famílias a celebrar a vida.

Servir a vida é a terceira tarefa da família, em particular da família cristã: servir a vida através da solidariedade dentro e em torno da família. A solidariedade manifesta-se no cuidado atento e amoroso, e deve ser integral. A solidariedade integral exprime-se também na participação – unida a outras famílias e associações familiares – na vida social e política. Trabalhando em rede entre si, as famílias trabalham por leis justas que protejam e promovam a dignidade e os direitos da família, incluindo “o direito à vida, desde o momento da concepção até à morte natural”.

Servir o Evangelho da Vida implica também servir todas as outras famílias e, sobretudo, as famílias necessitadas. Na Familiaris Consortio, João Paulo II pede à família que faça uma opção preferencial pelas famílias pobres e desfavorecidas: “O apostolado da família irradiar-se-á com obras de caridade espiritual e material para com as outras famílias, especialmente aquelas mais necessitadas de ajuda e de amparo, para com os pobres, os doentes, os mais velhos, os deficientes, os órfãos, as viúvas, os cônjuges abandonados, as mães solteiras e aquelas que em situações difíceis são tentadas a desfazerem-se do fruto do seu seio, etc.”.

As famílias servem todos os membros que a constituem, em especial as crianças e os idosos. Nas nossas sociedades materialistas e seculares, “no mundo”, parece que os idosos são cada vez mais considerados como fardos inúteis, candidatos ao que o Papa Francisco chama de “cultura do descartável”. O Papa argentino afirma: “A família protege a vida em todas as fases da mesma, incluindo o seu ocaso” (Amoris Laetitia). As famílias cristãs, em particular, devem demonstrar grande respeito e amor pelos seus membros mais velhos, que são – afirma João Paulo II – “fontes de sabedoria e testemunhas de esperança e de amor”. E acrescenta: “os nossos irmãos e irmãs mais velhos merecem uma vida digna e uma morte digna”.

A vida humana possui essencialmente um valor e uma dignidade únicos. Dignidade humana significa dignidade fundamental ou essencial, uma dignidade que é igual em todos os seres humanos e não pode ser perdida. Implica necessariamente a posse dos direitos humanos, a começar pelo direito fundamental à vida: “Antes do direito à liberdade está o direito à vida” que é inalienável e inviolável (cardeal D. Elio Sgreccia).

Para defender e promover o direito indivisível à vida, humanistas e crentes apelam para o que é chamado de uma ética de vida consistente, simbolizada para os cristãos pela vestimenta sem costura que nosso Senhor Jesus Cristo usava antes de ser crucificado. Os soldados ao pé da cruz não cortaram o manto inconsútil do Senhor para não o destruir. Da mesma forma, a vida humana, toda a vida humana não deve ser cortada nem no início nem no fim. Portanto, a vida humana deve ser respeitada desde o momento da concepção (contra o aborto) até ao momento da morte natural (contra a eutanásia e a pena de morte). Sublinhamos: a Igreja, a comunidade dos discípulos de Jesus, defende e promove, também – e isto deve ser sublinhado – uma vida humana digna para todos.

A família é uma comunidade de vida e de amor. O amor é o valor da vida, e a tarefa de todos – em particular da família e dos seus membros – é construir a civilização do amor.

Fausto Gomes, OP

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