4º DOMINGO DO ADVENTO E DIA DE NATAL – Ano B – 24 e 25 de Dezembro

4º DOMINGO DO ADVENTO E DIA DE NATAL – Ano B – 24 e 25 de Dezembro

Do Ventre à Manjedoura: a dimensão eucarística do Natal

Liturgicamente falando, este fim-de-semana será muito intenso. A Quarta Semana do Advento durará apenas algumas horas porque no Domingo à noite iniciaremos a celebração da véspera de Natal. É verdadeiramente um avanço litúrgico do ventre de Maria até a manjedoura da Natividade.

De facto, a Palavra de Deus que ouviremos durante estas duas celebrações narra os momentos cruciais da Encarnação do Filho de Deus: a Sua concepção (Lc., 1, 26-38) e o Seu nascimento (Lc., 2, 1-14). Nos dois episódios que acabei de mencionar, os destinatários do corpo humano de Cristo são o ventre de Maria e a manjedoura, uma caixa de madeira ou pedra que contém feno para alimentar os animais da quinta. Enquanto o ventre é um espaço reconfortante e protegido, a manjedoura é o lugar onde o Jesus recém-nascido é oferecido à Humanidade como “o pão da vida”, alimento para o mundo. O lugar onde Cristo nasceu, Belém, significa em Hebraico “a Casa do Pão”! Manjedoura, pão, comida… é impossível não notar as conotações eucarísticas do Natal.

A concepção que Maria tem de Jesus já reflecte o mistério eucarístico. O Catecismo da Igreja Católica (nº 1106), ao citar as palavras de um dos Padres da Igreja, João Damasceno, explica: “Tu perguntas como é que o pão se torna corpo de Cristo, e o vinho […] sangue de Cristo? Por mim, digo-te: o Espírito Santo irrompe e realiza isso que ultrapassa toda a palavra e todo o pensamento. […] Baste-te ouvir que é pelo Espírito Santo, do mesmo modo que é da Santíssima Virgem e pelo Espírito Santo que o Senhor, por Si mesmo e em Si mesmo, assumiu a carne”.

Em ambos os acontecimentos (na Anunciação e nascimento de Cristo, e na Eucaristia), o protagonista é, portanto, o Espírito Santo que entra na criação e a transforma no Sacramento da Sua Presença e da Sua Salvação. «O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra» (Lc., 1, 35), disse o Anjo a Maria. Da mesma forma, durante a Oração Eucarística, o sacerdote, estendendo as mãos, pronuncia uma oração especial chamada Epiclesis (“invocação sobre”), na qual invoca o Pai para que envie o Espírito Santo, para que as ofertas de pão e vinho se tornem o corpo e sangue de Cristo.

«Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc., 1, 38): o “sim” de Maria durante a Anunciação representa a abertura necessária para que o Espírito Santo entre e permeie a sua existência humana. A oferta de si mesma tinha que ser gratuita porque o Espírito Santo nunca força a Sua entrada nas nossas vidas: Ele precisa de mãos e corações abertos para entrar e nos transformar.

Da mesma forma, durante a Eucaristia, os fiéis são convidados a oferecer livremente a si mesmos as suas obras e toda a criação em união com Cristo. A oferta de pão e vinho na Eucaristia são “fruto da terra e obra das mãos humanas”, como diz o sacerdote durante o ofertório. Eles simbolizam o trabalho que fazemos para manter as nossas famílias, as lutas que enfrentamos diariamente e o nosso compromisso social para construir um mundo melhor. O “Amém” que pronunciamos antes de recebermos a comunhão faz eco ao “fiat” que Maria pronunciou durante a Anunciação, para que também nós nos tornemos sinais e instrumentos da acção salvífica de Deus no mundo.

Como explica o Catecismo, no ponto 1109, “a Igreja pede ao Pai que envie o Espírito Santo, para que faça da vida dos fiéis uma oferenda viva para Deus pela transformação espiritual à imagem de Cristo, pela preocupação com a unidade da Igreja e pela participação na sua missão, mediante o testemunho e o serviço da caridade”.

Estamos a viver um momento difícil da História da Humanidade. Há guerras e divisões por toda a parte. A verdade é pisoteada pela sede de poder e pela ganância que é galopante na sociedade. Os pobres estão indefesos. Mas ainda durante o Natal Jesus será colocado na manjedoura e oferecido como sinal de esperança à humanidade sofredora: Ele é o Emanuel, Deus connosco!

O leitor já percepcionou que a palavra inglesa “Christmas” significava originalmente “Missa de Cristo”? Podemos então imaginar a manjedoura como “o primeiro altar” onde Cristo é oferecido como um presente cheio do Espírito ao mundo.

Que cada um de nós, no final da Missa do Galo, sinta que também é enviado como “um presente ao mundo”, este mundo confuso, para anunciar a Boa Nova de que o amor de Deus é o “alimento” que pode nutrir e sustentar a vida em todos os seus aspectos: as nossas famílias e amizades, dores e alegrias, sonhos e desejos, lutas e até a nossa morte. E que o Espírito Santo, através da oferta das nossas vidas, penetre e transforme este mundo que tanto necessita de redenção.

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

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