Devoção especial à Virgem Maria
Devoção no singular significa devoção a Deus, enquanto que devoção no plural (devoções) refere-se às nossas devoções aos santos, que não são necessárias para a Salvação e incluem as devoções a Maria, aos anjos e aos santos.
Entre as devoções aos anjos e santos, destaca-se a devoção a Maria. A devoção da Igreja a Nossa Senhora é “intrínseca ao culto cristão” (Paulo VI, MC, 56; cf. Lc., 1, 48; CIC nº 971). O Vaticano II afirma: “Todos devem venerá-la com devoção e confiar a sua vida e apostolado à sua solicitude materna” (AA4).
DEVOTO A MARIA
O que significa ser devoto de Maria? A devoção a Maria significa basicamente o amor filial a Maria como nossa Mãe. Porque Maria é a Mãe de Jesus e nossa Mãe, devemos acolhê-la – como João, o discípulo amado – em nossa casa, isto é, no centro das nossas almas. No Santuário da Imaculada Conceição, em Washington D.C., há uma linda estátua da Mãe com o Filho, com a inscrição: “Mais Mãe do que Rainha”. Eu amo esta ideia. Rainha também, é claro; mas sobretudo Mãe de Jesus, e nossa Mãe. Além disso, porque Nossa Senhora é a discípula dos discípulos, devemos imitá-la, e porque ela é a mais intimamente unida a Jesus, dirigimos-lhe as nossas súplicas.
Quais são as implicações da nossa devoção a Maria? Maria é uma intercessora única diante de Cristo e nosso modelo enquanto discípulos do seu Filho, o nosso único Caminho. Nas Bodas de Caná (Jo., 2, 1-11), Maria mostra-nos o seu papel: primeiro, o seu papel de intercessora: «Eles não têm vinho» (Jo., 2, 3). Em segundo lugar, o seu papel como discípula dos discípulos: «Fazei tudo o que Ele vos disser» (Jo., 2, 5).
Maria é a pessoa mais perfeita entre os anjos e os santos. Os Padres da Igreja diziam: “Só a Santíssima Trindade está acima de Maria. Nossa Senhora é nossa Mãe, nossa Mãe espiritual, ou seja, nossa Mãe na ordem da graça” (cf. CIC nº 968). Jesus, com certeza, é o único Mediador diante de Deus. Já a “madre” Maria é a nossa melhor intercessora diante de Cristo e discípula dos discípulos, porque colaborou como ninguém na obra redentora de Cristo. É por isso que na tradição cristã Nossa Senhora recebe os títulos de “Medianeira” e “Co-redentora”; mas sempre por meio de Cristo e sob Cristo, o único Mediador e Salvador.
Com efeito, Jesus é o único Mediador, e Nossa Senhora é a Medianeira de todas as graças. Como filha do Pai, a Mãe do Filho, com a graça do Espírito Santo, é canal de graças para nós: “Nela temos uma grande e fiel Medianeira diante de Cristo” (Luis de Granada). Assim, Maria conduz-nos aos Sacramentos, canais de graça e, em particular, à Eucaristia, na qual o Corpo de Cristo da Virgem Maria se torna realmente presente (cf. João Paulo II, Redemptoris Mater, 44). Em Ecclesia de Eucharistia, São João Paulo II refere que Maria é a Mulher da Eucaristia, o primeiro e o melhor tabernáculo de Cristo (Ecclesia de Eucharistia, 54 e 55).
A autêntica devoção a Maria implica a tentativa constante de imitar a sua vida virtuosa. Com a sua vida singular, Maria encoraja-nos a praticar as virtudes da fé (Elizabeth: “«Bem-aventurada aquela que acreditou…»” – Lc., 1, 45), da oração (Maria guardava no coração tudo o que acontecia à volta de Jesus e meditava sobre isso – cf. Lc., 2, 51), da obediência («Assim seja», Fiat – Lc., 1, 38), e da missão (ela levou Jesus a Isabel e a João Baptista – cf. Lc., 1, 39-45). Além disso, Maria é o nosso exemplo de solidariedade perante as necessidades dos outros (pediu vinho a Jesus nas Bodas de Caná – cf. Jo., 2, 1-11), e de compaixão para com o próximo (o seu Magnificat: “A minha alma proclama a grandeza do Senhor, porque olhou para a sua humilde serva, exaltou os humildes, encheu de bens os famintos” – cf. Lc., 1: 46-55).
COM, OU POR MEIO DE MARIA, PARA JESUS
Para Louis-Marie Grignon de Montfort, a verdadeira devoção mariana tem as seguintes características: é interior, confiante, santa, constante e abnegada. A falsa devoção, por outro lado, é a seguinte: crítica, escrupulosa, superficial, presunçosa, inconstante, hipócrita e interesseira. Grignon acrescenta: Se a devoção a Nossa Senhora nos distraísse de nosso Senhor, teríamos que rejeitá-la como uma ilusão do demónio (“Verdadeira Devoção a Maria”).
A devoção a Maria é realmente genuína se nos leva ao seu Filho Jesus. A autêntica devoção a Maria reflecte a devoção a Jesus. São Bernardo: A razão do nosso amor a Maria é o Senhor Jesus; a medida do nosso amor por ela é amá-la sem medida. Como nossa Mãe, Maria quer que acima de tudo sigamos Jesus. Como primeira discípula de Jesus, ela convida-nos a seguir o seu Filho. Que lindo: Nossa Senhora é a melhor carta de Jesus, a testemunha mais próxima da sua vida, a discípula dos discípulos (cf. Francisco María Lopez Melus, “Desierto” 1996).
Na bela Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariaeque redigiu (Outubro de 2002), o Papa João Paulo II convida-nos a encontrar Maria no Rosário. O Rosário é uma devoção popular muito especial a Maria. Somos convidados a ir à escola de Maria para “aprender” Jesus, descobrir os seus segredos e compreender a sua mensagem (RVM, 14). Somos solicitados a fazer da nossa oração do Rosário uma forma de contemplação cristocêntrica (Ibid. nº 12). O Vaticano II determina: “Enquanto honram a Mãe de Cristo, essas devoções (a ela) fazem com que o seu Filho seja justamente conhecido, amado e glorificado, e todos os seus mandamentos observados” (LG, 66).
Todos os cristãos – sacerdotes, consagrados e fiéis leigos – devem ter uma forte devoção a Maria, isto é, um amor especial por ela. A vida não é fácil e a nossa cruz pode ser pesada. Estou convencido de que, se formos verdadeiramente devotos de Maria, seremos felizes, ou pelo menos infelizes!
N.d.R.: O CLARIM encerra o mês de Maio, tradicionalmente dedicado a Nossa Senhora, com mais uma reflexão assinada pelo padre Fausto Gomez, OP, a quem agradece publicamente.
Pe. Fausto Gomez, OP