Natal é paz e pacificação
Enquanto crentes, sabemos que “o aniversário de Cristo é o aniversário da paz… porque Ele é a nossa paz” (São Leão Magno). Entre as oito bem-aventuranças, há uma sobre a pacificação: «Bem-aventurados os pacifistas» (Mt., 5, 3-10).
Como ser um pacifista no nosso mundo? A paz é um dom de Deus e uma tarefa para as suas criaturas e filhos. Paz significa “tranquilidade da ordem”, harmonia pessoal e social; boas relações consigo mesmo, com Deus, com os outros e com a natureza. Esta a receita simples para a pacificação (deixamos nota que os seus elementos constitutivos não são praticados sucessivamente, mas interactivamente – eles fecundam-se). Quais são os elementos, os ingredientes principais da receita para a paz?
A) Estar em paz consigo mesmo e com Deus –Para estar em paz com os outros, tenho que estar em paz comigo mesmo, ou seja, tenho que ter paz individual ou interna: «A paz começa no coração» (Paulo VI). A paz individual é fundamental: para estar em paz comigo mesmo, eu (um pecador) preciso estar em paz com Deus. Pecado é divisão, quebra, uma traição do amor. Por meio de Cristo devo estar em paz com Deus, que é o Deus da paz. Como diz a letra da conhecida canção, “haja paz na terra, e que comece por mim”.
B) Estar em paz com a família ou comunidade mais próxima, com todos –Assim, do mesmo modo que o amor ao próximo se pratica em primeiro lugar com os vizinhos mais próximos, também a paz social deve ser vivida, em primeiro lugar, com os membros das nossas famílias, das nossas comunidades, das nossas paróquias, das nossas associações profissionais, dos nossos povos, do mundo. São Paulo aconselha-nos: “Façam tudo o que puderem para viver em paz com todos” (cf. Rm., 12, 18). Para estar em paz com os outros, devo ser justo para com eles, amá-los, perdoá-los e pedir-lhes que me perdoem. Para ser um pacifista, enquanto membro de uma comunidade, devo ser verdadeiro e responsável; respeitoso e atencioso, e não violento em pensamentos, palavras e acções. Com todos os homens e mulheres de boa vontade devo promover a paz, sempre de forma pacífica: «Não há caminho para a paz, a paz é o caminho» (Mahatma Gandhi).
C) Estar em paz com os pobres e necessitados –“Não posso amar a Deus sem amar o próximo” (cf. 1 Jo., 4, 7-20). “Não posso amar a todos os que me são próximos sem amar, principalmente, os mais próximos e os mais fracos” (cf. Mt., 25, 31-36). São Paulo afirma: «Fazei amizade com os pobres» (Rm., 12, 16). Os pobres representam Cristo de maneira especial. O Senhor continua a dizer-nos: “O que fizerdes ao menor dos meus irmãos, a mim o fazeis” (cf. Mt., 25, 31-46).
D) Estar em paz com toda a criação –A pessoa humana é uma criatura de Deus, do universo: “ele e ela foram criados por Deus para cuidar de toda a terra” (cf. Gén., 1, 28), que é a nossa “casa comum” (Papa Francisco), e não para destruí-la e explorá-la. O bispo D. Fulton Sheen (1895-1979) escreveu: “O lixo moral é a causa do lixo ecológico”. Num mundo, aparentemente, tomado pelas mudanças climáticas – muitas vezes uma ideologia que esquece os pobres –, é bom lembrar as palavras de um teólogo: “a espécie mais ameaçada da terra são os pobres” (Leonardo Boff). Para estar em paz com a criação, também precisamos estar em paz com Deus, que é a paz fundamental: «Se o homem não está em paz com Deus, nem a terra está em paz» (São João Paulo II).
O método dos pacifistas é este: de dentro para fora; da pequena comunidade à grande comunidade; da paróquia à diocese; da diocese à região; da região à nação; da nação para mundo. Palavras sábias de um monge budista (anónimo) do Camboja: A ternura traz paz ao coração. / Um coração tranquilo põe paz no Ser Humano. / Um ser humano pacífico coloca paz numa família. / Uma família pacífica traz paz a uma comunidade. / Uma comunidade pacífica traz paz a uma nação. / Uma nação pacífica fomenta a paz no mundo.
Carentes e fracos que todos somos, rezamos pela paz. Os cristãos, em particular, rezam pela paz e pela obtenção dos elementos essenciais da paz: justiça, amor, liberdade e verdade, e um respeito inquebrantável pela vida humana, desde o seu início até ao seu fim. A nossa oração é uma oferenda agradável a Deus, se for precedida de um esforço sincero de reconciliação com os irmãos. Os cristãos rezam pela paz na Celebração Eucarística e oferecem uns aos outros – e a todos – um sinal de paz.
Deus, é o Deus da paz; o Espírito Santo, é o Espírito da paz; e Jesus, é o Príncipe da Paz: “Cristo é a nossa paz… Já que pensamos em Cristo como a nossa paz, podemo-nos chamar de verdadeiros cristãos somente se as nossas vidas expressarem Cristo pela nossa própria paz” (São Gregório de Nissa).
Que Deus nos abençoe com a bênção que deu a Moisés: “Que o Senhor te abençoe… Que o Senhor faça resplandecer o Seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti…”.
Que Maria, a Mãe de Deus e nossa Mãe, Regina Pacis(a Rainha da Paz), nos ajude a estarmos comprometidos com a paz nas nossas comunidades, no nosso mundo – um mundo em guerra em diferentes lugares, que anseia pela paz! Este ditado de São Serafim é como um mantra para mim, caro leitor: “Adquira paz interior e milhares ao seu redor encontrarão a libertação” (São Serafim).
Pe. Fausto Gomez, OP