Kevin Duggan inovador
«Uma outra forma de oração». É deste modo que Kevin Duggan resume a importância da Música Sacra, independentemente de ser ou não executada num contexto religioso e cerimonial. O organista e compositor inglês actuou no passado dia 8 de Fevereiro, na igreja do Seminário de São José, num recital promovido pela Comissão Diocesana da Liturgia. Foram interpretadas obras de Henry Purcell, Johann Sebastian Bach, Louis Marchand, e também de compositores contemporâneos, como o dinamarquês Jesper Madsen ou o alemão Hans André Stamm.
Cerca de meia centena de pessoas assistiram ao concerto executado no órgão de tubos da igreja do Seminário de São José. O instrumento é muitas vezes associado a um registo musical erudito, próprio da tradição religiosa católica e anglicana, contudo, Kevin Duggan defende que o alinhamento do recital com que se deu a conhecer em Macau prova que o órgão é, como sempre foi, um instrumento para todas as eras e circunstâncias.
«Não é de todo um instrumento do passado. É um instrumento muito antigo, com milhares de anos, mas o facto de ser antigo não quer dizer que seja um instrumento do passado. Há novos órgãos a serem construídos, em diferentes estilos, nos dias de hoje, e ainda há pessoas, como é o meu caso, a compor para órgão. Diria, por isso, que é um instrumento para todas as eras, como sempre foi», disse o músico de 59 anos, em declarações ao nosso jornal.
Director musical da Catedral Presbiteriana de Dunblane, na Escócia, desde 2015, Kevin Duggan admite que o órgão de tubos é, porventura, o instrumento que é associado de forma mais imediata à Música Sacra, embora nem sempre seja esse o caso. O compositor, que se notabilizou nos círculos da música erudita com o disco “Notes from a Small Island”, reconhece que as igrejas e os espaços sagrados são recintos onde a sonoridade produzida pelos órgãos ganha uma envolvência singular, elevando a música ao estatuto de oração.
«Uma igreja é um local magnífico. São muitas as composições para órgão que foram escritas para serviços religiosos. Bach era fundamentalmente um compositor de música cristã, mas nem sempre assim acontece. Há dois mil anos, havia um instrumento, o hidraulo, que já era usado pelos romanos, antes da fundação da própria Igreja. Uma das particularidades deste órgão hidráulico era o facto de ser transportado com frequência para os campos de batalha. Há, por isso, uma história muito longa que associa o órgão a diferentes usos. Nos nossos dias, há órgãos em várias salas de concerto e os concertos de órgão são frequentes», explicou Duggan.
«Um concerto de órgão numa igreja pode, no entanto, ser encarado como uma espécie de serviço religioso. É, de certo modo, uma oração. As pessoas têm diferentes perspectivas sobre diferentes coisas, mas a música é algo que as aproxima e um recital como este pode ser uma experiência bastante espiritual. Não tenho qualquer dúvida de que as pessoas, através da música, podem estabelecer uma relação com Deus», sustentou.
Depois de Kevin Duggan, a igreja do Seminário de São José recebe, a 24 de Março, o Coro da Capela do Colégio Keble, da Universidade de Oxford, para um recital com direcção de Christian Wilson, que ira combinar Música Sacra e meditação.
M.C.