Quatro ilusões de felicidade mundana
Existe um sentimento unânime entre as pessoas: todas desejam ser felizes. Contudo, se conversarmos com diferentes grupos, de diferentes lugares, percebemos que a maioria delas traz consigo sérios incómodos no coração e, no fundo, não alcançaram a felicidade. Qual será o problema? Seguramente o maior problema está no meio pelo qual as pessoas a procuram. Como resposta para este desejo natural que cultivamos, o Evangelho deste Domingo apresenta-nos o caminho para a verdadeira felicidade.
O texto apresenta-nos o Evangelho das Bem-aventuranças. Ao contrário do texto de São Mateus, em que Jesus proclama oito Bem-aventuranças, no alto da montanha e apenas para os seus discípulos, no Evangelho de hoje, narrado por São Lucas, Jesus desce da montanha, juntando-se ao seu redor uma imensa multidão de pessoas de diferentes lugares, e ali apresenta quatro Bem-aventuranças e quatro alertas de falsa felicidade, que quando buscados como a finalidade da nossa vida nos conduzem apenas ao vazio e frustração. Vejamos os quatro alertas por Ele feitos.
«Ai de vós, os ricos! Pois já ganharam toda a vossa consolação» (Lc., 6, 24). Neste primeiro alerta, Jesus revela que o dinheiro não é fonte de felicidade. O dinheiro traz apenas uma segurança relativa, porque é visto como um meio que pode comprar coisas materiais e até mesmo fama. Porém, tudo tem um limite. Podemos comprar as melhores roupas e bens materiais, mas tal traz-nos uma alegria limitada. Podemos fazer as melhores viagens, mas depois de algum tempo apercebemo-nos que o lugar mais confortável é o aconchego da nossa casa, a cama do nosso quarto. O dinheiro, quando encarado como finalidade de segurança e felicidade, acaba apenas por conduzir à frustração. Verdade que é um meio necessário de sobrevivência e conforto, mas não preenche o desejo do ser humano por felicidade contínua e eterna.
«Ai de vós, que agora estais saciados, porque tereis fome!» (Lc., 6, 25a). Aqui Jesus revela a fragilidade da felicidade buscada nos prazeres. Existe uma máxima que diz que o ser humano procura o prazer e evita a dor. Porém, tal como o dinheiro, os prazeres são limitados e quando usados de forma desordenada trazem apenas aborrecimentos e vazio. Veja o exemplo do filho pródigo e tantas pessoas que deixaram a segurança da família, mesmo com os seus desafios, para buscar o prazer de uma paixão e aventura momentâneas. Podemos ter alegria e prazeres, o que é frágil e passageiro. Os prazeres não trazem a verdadeira felicidade porque somos incapazes de viver prazeres sem limites a toda a hora. Apenas a verdade trazida por Deus pode ser vivenciada sem limites.
«Ai de vós, que quando rides, porque conhecereis o luto e a alegria. Naturalmente Jesus não condena a alegria» (Lc., 6, 25b). Ele revela-nos que as consolações afectivas terrenas também são frágeis e falham. Obviamente que todos temos algumas insatisfações nos nossos ciclos de relacionamento, na família, na igreja e no trabalho. Às vezes não o expressamos. Porém, gostaríamos que as pessoas ao nosso redor realizassem algumas mudanças. Amamos, até aceitamos, mas queríamos no fundo ver algumas mudanças. Às vezes justificamo-lo, dizendo que é para o próprio bem delas. Na verdade, a maioria não são pessoas más, são humanas como nós e não podemos exigir delas a responsabilidade de serem como gostaríamos, de acertarem sempre e fazer-nos felizes. Seria um peso enorme sobre elas que ninguém conseguiria suportar. A felicidade que esperamos, que seria possível com a mudança dos outros, na realidade pode ser encontrada apenas em Deus.
Por último, Jesus afirma: «Ai de vós, quando todos vos louvarem! Porquanto, foi assim também que agiram os vossos antepassados com os falsos profetas» (Lc., 6, 26). Nesta passagem bíblica há uma clara alusão ao perigo da vanglória, ou à felicidade baseada na busca pelo reconhecimento dos outros. Sem nos darmos conta, o nosso humor muda facilmente dependendo da maneira como somos tratados. Quando somos elogiados facilmente motivamo-nos e sentimo-nos encorajados para avançarmos nas nossas missões. Já quando somos ignorados, corrigidos ou criticados, geralmente vem um sabor amargo de que somos injustiçados, não somos compreendidos, nem valorizados. Não é preciso muita reflexão para vermos que agindo desta forma deixamos que a nossa felicidade dependa da maneira que os outros nos tratam. Talvez essa seja uma das razões pelas quais existem tantas pessoas instáveis e inconstantes emocionalmente. Contra esta tentação se faz actual o pensamento da doutora do amor e padroeira das missões: “Eu sou o que Deus pensa de mim” (Santa Teresinha). Quanta verdade nessa frase. Não somos o que os outros imaginam, falam ou até desejam, mesmo que isso deva ser levado em consideração.
Resumindo: somos o que Deus pensa de nós, pois só Ele nos conhece verdadeiramente. Por tudo isto, renovemos a nossa fé no Senhor e tenhamos clareza que as seguranças humanas são meios sedutores incapazes de nos trazer a verdadeira felicidade. A sede de felicidade humana só pode ser saciada pelo seu Criador quando repousarmos e confiarmos Nele como finalidade última do nosso existir, mas sem esquecer de sermos luz para o mundo, com a certeza de que se nos amarmos uns aos outros, Deus permanecerá em nós.
Pe. Daniel Ribeiro, SCJ