CONTINUA A CORRIDA AOS SUPERMERCADOS EM PORTUGAL

Quem fica em casa, avia-se com moderação

CONTINUA A CORRIDA AOS SUPERMERCADOS EM PORTUGAL

Quando em Portugal foi decretado o Estado de Emergência, ou dias antes do mesmo ser decretado, registou-se uma inacreditável corrida aos supermercados para compra de bens de primeira necessidade. Tendo presenciado esse pânico generalizado na primeira pessoa, primeiro na capital, depois em cidades mais pequenas, senti-me afortunado por não ter entrado em pânico nem ter enveredado por compras desenfreadas de todo o tipo de produtos, mesmo os considerados de primeira necessidade.

Muitos fizeram chacota do facto de tantos portugueses terem açambarcado rolos e rolos de papel higiénico. Pessoalmente, compreendo melhor a urgência de comprar papel higiénico do que a de encher o carrinho de compras com chocolates, bolachas e outras guloseimas que, sinceramente, dificilmente se podem considerar como bens de primeira necessidade. Pelo menos o papel higiénico tem uma finalidade que dificilmente pode ser substituída… Tendo em conta a experiência que adquirimos, como família, a abastecer o nosso veleiro para viagens de longa duração, acreditem que o papel higiénico foi sempre algo que nunca faltou. Mas, também, especialmente na vida em terra, passámos dias sem o usar porque, certamente por influência asiática, usámos a famosa torneirinha que se encontra ao lado da sanita nas casas-de-banho dos tailandeses. Aqui na Europa havia o bidé mas nas últimas décadas caiu em desuso.

Mas voltando ao abastecimento da despensa e do congelador. Durante a nossa viagem de veleiro era essencial saber quanto se comia e bebia diariamente, semanalmente e mensalmente. Esse trabalho foi feito diariamente durante todos os meses que passámos a bordo e felizmente, ainda hoje, sabemos quanto precisamos ter para comer e beber durante uma semana. Algo que se perguntarmos à maior parte das pessoas, elas não fazem a mínima ideia. Em momentos como o que estamos a viver, muitas pessoas acabam por fazer compras sem saber exactamente o que adquirir e as respectivas quantidades.

Nós sabemos que um quilo de arroz, base da nossa alimentação enquanto família euro-asiática, é suficiente para cinco refeições para três pessoas. Portanto, fazendo-se duas refeições com arroz por dia, precisamos de cerca de onze quilos de arroz para um mês. Sendo que compramos aos sacos de vinte quilos de cada vez, o mesmo seria suficiente para dois meses. Isto porque nem todas as refeições são à base de arroz. E esta fórmula dos hábitos alimentares que descobrimos durante a nossa vida no Dee aplica-se a tudo. Sabemos quanta carne comemos, quanto açúcar e farinha consumimos, quanta água bebemos, e até quanto vinho e cerveja precisamos comprar. Pelo que ir às compras num panorama epidemiológico como o actual não foi desculpa para compras descabidas nem paranoia desnecessária. Como vivemos em casa com outras duas pessoas que já há muito tempo se habituaram a ter as arcas frigoríficas completamente cheias, pouco ou quase nada é urgente comprar. Tirando os vegetais que ainda não há no quintal, ou a fruta que ainda não abunda nas nossas árvores, pouco mais precisamos de ir buscar ao supermercado.

Esta segunda-feira foi dia de compras e coube-me a tarefa de ir ao supermercado, pois tentamos a todo o custo que os meus pais contactam de forma desnecessária com outras pessoas. Já lhes basta o facto de serem proprietários de umas bombas de gasolina e não lhes ser permitido encerrar por se tratar de um sector considerado essencial.

A ida ao supermercado ao pé de casa deveu-se mais ao facto de nesse dia ter sido o aniversário da minha mãe. Foi uma celebração atípica – completou 71 anos – mas ainda assim comprámos uma prenda e um ramo de flores para assinalar a data. Aproveitando a ida ao supermercado, acabei por adquirir outros produtos que ela acabou por incluir na lista de compras. Como na semana passada, mais precisamente no Dia do Pai, o meu fez 75 anos, havia também alguns bens – de “segunda” necessidade – que precisavam de ser reabastecidos. Principalmente produtos que são vitais para a confecção de bolos e outras sobremesas, algo que raramente fazíamos no barco. Por isso, a referida lista foi engrossada com farinha de mandioca, cacau em pó, leite condensado e outros extras.

Olhando a realidade que se vai vivendo em Portugal, parece que as medidas que o Governo aprovou relativas à necessidade da população ficar em casa têm de ser reforçadas. As pessoas, pura e simplesmente, não estão a levar este problema de saúde pública a sério.

Enquanto o pessoal ligado à Saúde, Forças de Segurança, Forças Armadas, distribuição e venda de produtos, e a outros sectores considerados essenciais, são obrigados a sair de casa e levam este problema muito a sério, ainda se vêem milhares de pessoas a circular nas vias públicas sem que nada lhes aconteça. No passado fim-de-semana foram captadas várias fotografias a centenas de pessoas a passearem nos parques (como o Choupal, em Coimbra), nas praias ou nos jardins espalhados por todo o País.

Os meus pais, que estão obrigados a manter as bombas de gasolina abertas, todos os dias dizem que são mais os clientes a conduzir carro particular do que carro de serviço. Só isto diz tudo da mentalidade com que muitos dos portugueses estão a encarar esta crise e a brandura com que o Governo está a dizer às Forças de Segurança para implementarem as medidas aprovadas.

É preciso, de uma vez por todas, obrigar as pessoas a ficarem em casa, principalmente as que foram dispensadas do trabalho ou cujas empresas adoptaram o teletrabalho.

João Santos Gomes

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *