QUARTO DOMINGO DO ADVENTO – Ano A – 18 de Dezembro

QUARTO DOMINGO DO ADVENTO – Ano A – 18 de Dezembro

Totalmente alerta, totalmente receptivos. O grande discernimento do Advento

Neste fim-de-semana, os adeptos do futebol estarão focados na última etapa do Campeonato do Mundo no Qatar. Aqui em Macau, devido ao fuso horário, muitos irão passar noites em claro para viver a emoção dos últimos jogos. Após um mês de competição, vamos finalmente conhecer a equipa vencedora.

Esperamos que o Campeonato do Mundo não nos distraia excessivamente, pois também entramos nos últimos dias do Advento. À semelhança do que fazemos com o futebol, também nesta matéria é necessário muito foco. Felizmente, ainda temos uma semana inteira pela frente antes da Missa do Galo, dado que este ano o Natal calha num Domingo. Agora é chagada a hora de aumentarmos o nosso foco espiritual.

O protagonista do Evangelho deste Quarto Domingo do Advento (Mateus 1, 18-24) é José – perturbado depois de descobrir que a sua noiva, Maria, está misteriosamente grávida.

José precisa de discernir sobre o que fazer nesta situação, muito delicada. Tal como as selecções competem arduamente para avançarem até à final do Campeonato do Mundo, também quando discernimos sobre alguma situação nas nossas vidas há diferentes sentimentos e pensamentos que competem ferozmente entre si, sendo que não necessariamente o que é inicialmente mais forte prevalecerá no final.

Na sua Catequese semanal das quartas-feiras, o Papa Francisco vem-nos elucidando sobre este tema, vindo a destacar, especialmente, a necessidade de compreendermos os papéis da “desolação” e da “consolação” na hora de tomarmos uma determinada decisão. Recorrendo aos ensinamentos de Santo Inácio de Loyola, o Papa Francisco explicou que, em cada momento, tanto o “bom espírito” como o “mau espírito” trabalham para nos atrair para as suas áreas de influência: o bom espírito ajuda-nos a tomar boas decisões, enquanto o mau espírito separa-nos de Deus. A parte complicada do processo é que o mau espírito, muitas vezes, se disfarça de bom espírito, levando-nos a optar por algo mau, pensando nós que estamos a escolher algo de positivo para as nossas vidas. Mais uma vez, à semelhança de uma partida de futebol, nada pode ser dado como adquirido até ao final do jogo…

Tomemos como exemplo o Evangelho deste Domingo: apesar de estar arrasado com a notícia da gravidez de Maria (desolação), José iniciou o seu processo de discernimento com uma boa intenção: o desejo de ser justo e de permanecer no marco da lei de Moisés (consolação). José ficou triste (desolado) ao pensar que a sociedade iria encarar Maria de forma negativa – envergonhada publicamente e apedrejada até à morte, o que a lei previa se o crime fosse oficialmente denunciado. Mas não! O seu esposo encontrou alguma paz (consolação) ao tomar a decisão de a mandar embora discretamente, em privado. Todos os seus sentimentos de consolo e desolação eram claramente alimentados por Deus, o que ajudou José a tomar a decisão de proteger Maria.

O “jogo”, porém, ainda não havia terminado para o mau espírito. Estamos em crer que este terá recorrido a formas subtis para tentar José, ao afirmar: “Bom, vós já fizestes muito por esta mulher. Agora esquecei-a e começai a vossa vida de novo, com outra esposa!”. De um ponto de vista superficial, este não é um “mau pensamento”; pelo contrário, parecia até uma escolha muito razoável, mas não foi o que Deus quis para José. Curiosamente, foi através do subconsciente de José – através de um sonho – que Deus alimentou José no seu processo de discernimento.

Segundo o bispo D. Fulton Sheen (1895-1979), «Deus fala com mais frequência por meio da nossa mente subconsciente, do que por meio da nossa mente consciente, simplesmente porque a nossa autoconsciência a Ele [Deus]coloca obstáculos». Com grande maturidade espiritual, José compreendeu que a mensagem perturbadora (desolação) que recebera no sonho vinha, na realidade, de Deus, e aceitou o facto de que somente aceitando-a poderia encontrar uma paz profunda e duradoira – sinal da verdadeira consolação.

Desperto, José recebeu e aceitou a mensagem de Deus, indo do estado subconsciente à plena consciência, e assumiu toda a responsabilidade para a qual foi mandatado. Tomou então a decisão final de acolher Maria e seu filho para o resto da sua vida, algo que poderia ser impensável no estágio inicial do processo de discernimento.

Ao se referir a José, o Papa Francisco referiu: “Na nossa vida, muitas vezes sucedem coisas, cujo significado não entendemos. E a nossa primeira reacção, frequentemente, é de desilusão e revolta. Diversamente, José deixa de lado os seus raciocínios para dar lugar ao que sucede e, por mais misterioso que possa aparecer a seus olhos, acolhe-o, assume a sua responsabilidade e reconcilia-se com a própria história. […] A vida espiritual que José nos mostra, não é um caminho que explica, mas um caminho que acolhe. Só a partir deste acolhimento, desta reconciliação, é possível intuir também uma história mais excelsa, um significado mais profundo” (Patris Cordenº 4).

Concluído o Campeonato do Mundo de Futebol, outra competição será lançada em breve. Ora, o processo de discernir a vontade de Deus para connosco é também um compromisso contínuo para toda a vida. “Não tenhais medo”, disse o anjo a José, como já havia dito a Maria. Vamos, pois, encarar esse compromisso sem medo. Consolos e desolações conscientes ou inconscientes podem ir e vir. Mas, ao tomarmos decisões, estejamos totalmente despertos e totalmente acolhedores, como José, almejando o prémio final de cumprir a vontade de Deus: vivermos uma profunda e duradoura paz interior.

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

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