Oração, esmola e penitência marcam início da Quaresma
Milhões de católicos em todo o mundo celebraram na quarta-feira o início do Tempo da Quaresma e Macau não foi excepção. Nas nove paróquias do território, foram milhares os fiéis de várias comunidades que participaram na cerimónia simbólica da imposição das cinzas, um ritual que recorda os católicos da sua condição de pecadores e os convida à penitência, à reflexão e à conversão.
Para a comunidade católica de língua portuguesa, as celebrações da Quarta-feira de Cinzas estiveram centradas na igreja da Sé Catedral, onde cerca de duas centenas e meia de fiéis receberam as cinzas das mãos dos padres Eduardo Aguero e Andrzej Blazkiewicz. O sacerdote polaco evocou, em declarações a’O CLARIM, o significado profundo do ritual, o qual define como um convite para a partilha de «um caminho de comunhão com Deus». «Nós seguimos o caminho da conversão, que é um caminho de comunhão com Deus. Várias vezes escutamos que somos pó e que voltamos a ser pó. Isto é algo que nos dá uma noção daquilo que são as nossas limitações, mas é também um incentivo, contando com a graça de Deus, para que nos possamos livrar de tudo o que nos engana: a soberba, o egoísmo, as interacções que destroem a nossa personalidade e destroem a comunhão com os outros e, principalmente, ofendem a Deus», advertiu o missionário do Caminho Neocatecumenal. «Este Tempo da Quaresma é um tempo que nos ajuda a ter uma postura equilibrada, ajuda-nos a perceber que tudo vem de Deus e tudo deve honrar a Deus», sublinhou.
Vigário paroquial da Sé Catedral para a comunidade de língua portuguesa, o padre Daniel Ribeiro presidiu, por sua vez, às celebrações na igreja de Santo Agostinho, onde decorre até hoje a Novena de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos. Segundo o sacerdote brasileiro, o período de quarenta dias de preparação para a Semana Santa constitui uma oportunidade para que os católicos possam reflectir sobre a fragilidade da condição humana. «Esta celebração recorda-nos que viemos do pó e para o pó voltaremos, que a vida humana é frágil e, sendo frágil, o ser humano precisa de Deus», salientou. «O ser humano, sem Deus, não consegue encontrar resposta para as suas questões mais profundas e, ao mesmo tempo, não consegue encontrar a felicidade verdadeira. O ser humano veio do pó, voltará para o pó e a vida; ele começa de uma forma simples e terminará de uma forma simples», recordou o missionário dehoniano.
O início da Quaresma constitui também um convite para uma maior abertura e uma maior disponibilidade para o outro, seja através da oração, seja através da esmola ou da penitência. «O período da Quaresma, principalmente a celebração das cinzas, é um convite ao nosso alto conhecimento, para que possamos perceber aquilo que nós somos. Na Quaresma teremos três exercícios quaresmais, que são descritos nos Evangelhos de hoje: a oração, a esmola e a penitência. A oração ajuda-nos a aprofundar o nosso encontro com Deus; a oração, principalmente a silenciosa, que seja uma oração com devoção e uma oração que seja verdadeira. Depois temos a esmola. A esmola ajuda-nos no nosso relacionamento com o próximo», explicou o padre Daniel Ribeiro. «Há ainda um terceiro exercício quaresmal, que é a penitência. A penitência ou o jejum – na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa. Nós temos o jejum, mas a penitência tem como objectivo educar-nos para o autocontrolo, para o ser humano ter domínio sobre si e a não viver apegado a nada que não seja a Deus», concluiu.
Marco Carvalho