QUARTA EDIÇÃO DA CANTATA MACAU

QUARTA EDIÇÃO DA CANTATA MACAU ARRANCA HOJE

Quatrocentas vozes para mudar a imagem de Macau.

Mais de uma dezena e meia de coros, de sete países e regiões, participam entre hoje e Domingo na quarta edição do Cantata Macau. O Festival Internacional de Coros da RAEM é este ano disputado por dezassete grupos corais provenientes de nações e territórios como Hong Kong, República Popular da China, Filipinas, Indonésia, Sri Lanka ou Singapura.

No total são mais de quatrocentos os cantores, maestros e músicos que vão dar voz e corpo à edição de 2019 da Cantata Macau, um certame criado há quatro anos pelo Coro de Santo Agostinho com o propósito de ajudar a mudar a imagem do território. «O facto do nome de Macau aparecer em grande medida associado ao jogo criou um certo desconforto dado o grande historial de Macau enquanto cidade católica e enquanto centro de espiritualidade», explicou o padre Jiji Kandamkulathy em declarações a’O CLARIM. «Dizer que Macau é uma cidade de casinos não representa nem a história, nem as aspirações das pessoas de Macau. Quando partilhei este meu desconforto com o Barrie Briones, responsável por dirigir o Coro de Santo Agostinho, surgiu a ideia de avançarmos para a criação de um festival de coros e começámos a planear o evento em conjunto com outras pessoas», acrescentou o sacerdote claretiano.

Os acordes iniciais da quarta edição da Cantata Macau – Festival Internacional de Coros são dados ao início da tarde desta sexta-feira, com a competição relativa à categoria de música sacra, a decorrer na igreja de Nossa Senhora de Fátima a partir das 14 horas da tarde. O templo acolhe, às 18 horas e 30, um concerto com alguns dos grupos em competição. No sábado e no Domingo o Festival muda de instalações, para o Auditório da Escola São Paulo.

Este ano, pela primeira vez, o grande vencedor da competição leva para casa um prémio no valor de cinquenta mil patacas. O concurso vai ainda distinguir o vencedor de cada uma das categorias e premiar tanto o melhor maestro como o coro que mais agradou aos espectadores. «A partir desta edição o Festival também abrange um segmento competitivo com um Grande Prémio da ordem das cinquenta mil patacas. A exemplo do que já acontecia, os grupos vão competir em quatro categorias: Open, Coro Infantil, Música Folclórica e Música Sacra. Este ano temos também dois grupos convidados que vão tocar com um agrupamento de cordas e ainda um grupo acapela», sublinhou o padre Jiji Kandamkulathy, que adiantou um pormenor: «Também introduzimos um mecanismo electrónico que vai permitir que os espectadores votem, através do telefone, no seu grupo preferido. O resultado fica disponível em tempo real e o coro mais votado é distinguido com um galardão especial durante a cerimónia de entrega de prémios».

VOZES DA CASA

“Gensan Youth Choir”, Coro da Universidade de Cebu, “Quorista”, Coral “Anima Christ”, Coro Unima, Saint Gabriel Vocal Ensemble e “The Harmonics” são alguns dos dezassete coros e agrupamentos corais que vão disputar a quarta edição do Festival Internacional de Coros. Macau está este ano representado no certame em dose dupla, pelo Coro Choi Ng e pelo Coro da Fundação Rui Cunha, organismo que entra na competição pelo terceiro ano consecutivo. «A Cantata é um projecto muito interessante que envolve vários grupos, uns mais profissionais do que outros, mas que partilham uma característica que faz a diferença, que é a aposta no mais belo e mais acessível dos instrumentos – a voz – para criar música», disse a’O CLARIMum dos membros do Coro da Fundação Rui Cunha, Elias Colaço. «O Coro da Fundação Rui Cunha foi criado há cerca de quatro anos e esta é a terceira vez em que participa no Festival Internacional de Coros. Junta pessoas com jeito e com vontade de cantar e o objectivo é trabalharmos em benefício da sociedade de Macau», acentuou.

Composto por cerca de trinta vozes, todas amadoras, o Coro da Fundação Rui Cunha ensaia duas vezes por semana, à sexta-feira à noite e ao sábado de manhã, sob a direcção coral de Barry Briones, co-fundador da Cantata Macau. Ao repertório clássico o coro junta temas mais modernos, interpretados em várias línguas, e a vontade de levar a música aos quatro cantos de Macau. «Temos o repertório clássico, mas não só. Cantamos o “My Way”, do Frank Sinatra, um tema do Gilbert Bécaud, músicas em Chinês e até em Filipino [Tagalo]. Somos muito multiculturais nesse sentido. O Barry Briones teve a preocupação de introduzir vários estilos musicais e uma sonoridade mais moderna», explicou Elias Colaço, que contribui para a harmonia do grupo com a extensão vocal de um baixo: «O nosso propósito é o de não nos cingirmos à Fundação e sairmos à rua. Queremos levar um bocadinho de alegria aos lares de idosos, a instituições de solidariedade, quem sabe ao Estabelecimento Prisional de Coloane. O carácter social do coro também passa por aí».

Apoiado desde a primeira hora pela diocese de Macau, o Festival Internacional de Coros conta ainda com o apoio institucional da Fundação Macau, do Instituto Cultural e da Direcção dos Serviços de Turismo. A iniciativa começou a ser preparada no início do Verão por uma comissão organizadora composta por duas dezenas de pessoas, a que se juntam agora outros tantos voluntários. «Cerca de vinte pessoas têm vindo a trabalhar desde há quatro meses para colocar de pé este festival. Nos próximos dias, mais de vinte voluntários e amigos vão trabalhar connosco para levar a Cantata a bom porto. O certame dificilmente se realizaria sem o apoio de outras pessoas que não fazem directamente parte da equipa. Não podemos ignorar o apoio dado pela Fundação Macau, pelo Instituto Cultural e pela Direcção dos Serviços de Turismo», disse o padre Jiji Kandamkhulaty, concluindo de seguida: «No circuito coral internacional, o Festival Internacional de Coros de Macau é uma aposta recente e ainda não conseguiu ganhar notoriedade a nível internacional. No entanto, e uma vez que temos conseguido atrair os vencedores de outros festivais internacionais, a Cantata já é conhecida no circuito internacional de festivais. Estou convicto que o Festival Internacional de Coros de Macau vai conseguir conquistar um lugar entre os mais reputados festivais de coros do mundo. Já é um grande festival, se tivermos em conta o número de coros e de músicos que nele participam».

Marco Carvalho

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