Quando os Símbolos Nacionais estão na Ordem do Dia

“Marcha Pontifical”, há 70 anos o hino da Santa Sé.

Dois Papas, três letras. História de um hino peculiar.

A Lei do Hino e da Bandeira Nacional foi aprovada na especialidade na Assembleia Legislativa, no final da semana passada, ainda que a aplicação de sanções penais a quem “pública e intencionalmente, ultraje os símbolos e representações nacionais” não tenha convencido todos os deputados.

Sulu Sou insurgiu-se contra a criminalização de eventuais abusos, mas a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, reiterou que a defesa dos símbolos nacionais não é um desígnio exclusivo da República Popular da China e lembrou que são muitas as nações que aprovaram legislação similar. O Vaticano, porém, não é uma delas!

A Santa Sé não dispõe de qualquer articulado legislativo que especifique a forma como o “Hino e Marcha Pontifical” podem ou não ser interpretados, disse a’O CLARIMo maestro e compositor italiano Aurelio Porfiri.

Composto no final da década de 1860 pelo músico francês Charles Gounod e oferecido ao então Papa Pio IX por ocasião do jubileu sacerdotal do Pontífice, o hino da Santa Sé é peculiar por mais do que uma razão.

Executado pela primeira vez a 11 de Abril de 1869, na Praça de São Pedro, por sete bandas marciais, o “Hino e Marcha Pontifical” só se tornou o salmo oficial do Vaticano no final de 1949 – cumprem-se este ano setenta Primaveras. «O hino foi oferecido por Charles Gounod ao Papa Pio IX em meados do século XIX. O Pontífice agradeceu a honra e até nem terá desgostado da música, mas como já havia um outro hino, da autoria de Vittorino Hallmayr, a “Marcha Pontifical” só foi adoptada oficialmente oitenta anos depois, pelo Papa Pio XII», explicou Aurelio Porfiri.

A composição de Gounod foi executada pela primeira vez como hino oficial do Estado da Cidade do Vaticano a 24 de Dezembro de 1949, aquando da abertura, por parte do Papa Pio XII, da Porta Santa da Basílica de São Pedro, iniciativa que pautou o arranque do Ano Santo de 1950.

Aurelio Porfiri, colaborador da edição em Inglês d’O CLARIMe antigo professor da Universidade de São José, vincou ainda que o hino oficial da Cúria Romana é dos poucos que dispõe de mais do que uma letra. «Charles Gounod compôs a música, mas não deixou qualquer letra escrita. Ainda assim, em diferentes instâncias foram utilizadas pelo Vaticano três letras diferentes», salientou, acrescentando: «Há uma versão italiana que foi escrita há algumas décadas por monsenhor Antonio Allegra, que era um dos organistas da Basílica de São Pedro, e há uma outra versão, em Latim, que foi concebida por alguém que eu conheci muito bem, o cónego Raffaello Lavagna. A Rádio Vaticano fez um novo arranjo musical para a versão em Latim, que eu executei por muitas ocasiões».

Aurelio Porfiri lembrou, no entanto, que apesar de contar com nada mais, nada menos, do que três letras – a outra é adaptada da antiga “Marcha Pontífica” – o hino oficial do Vaticano quase nunca é cantado: em ocasiões oficiais o habitual é que apenas a composição musical seja interpretada.

Marco Carvalho

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