QUANDO A EUROPA CRISTÃ DÁ SINAIS DE DESUNIÃO

QUANDO A EUROPA CRISTÃ DÁ SINAIS DE DESUNIÃO

O mais importante são as pessoas e a sua dignidade transcendente

1.Os Pais fundadores da União Europeia tinham o projecto de trabalharem juntos para promoverem a paz, a unidade e a comunhão. «No centro deste ambicioso projecto político estava a confiança no homem, não tanto como cidadão ou como sujeito económico, mas como pessoa dotada de uma “dignidade transcendente”», disse o Papa Francisco em Estrasburgo, em 2014.

“Dignidade” foi a palavra-chave que caracterizou a recuperação após a Segunda Guerra Mundial. A nossa história recente, desde meados do século passado, caracterizou-se pela promoção da inegável centralidade da dignidade humana contra as múltiplas violências e discriminações que não faltaram, ao longo dos séculos. A percepção da importância dos Direitos Humanos nasce precisamente como resultado de um longo caminho que contribuiu para formar a consciência da preciosidade, unicidade e irrepetibilidade de cada pessoa humana. Esta tomada de consciência cultural tem o seu fundamento sobretudo no pensamento europeu, no rico encontro cujas fontes provêm «da Grécia e de Roma, de substratos celtas, germânicos e eslavos, e do Cristianismo que os plasmou profundamente», dando origem ao conceito de pessoa.

2.Os seres humanos, também podem ser «tratados como objectos, dos quais se pode programar a concepção, a configuração e a utilidade, podendo depois ser descartados quando já não servem porque se tornaram frágeis, doentes ou velhos», reflecte o Papa Francisco. Promover a dignidade da pessoa significa reconhecer que ela possui «direitos inalienáveis», de que não pode ser privada por arbítrio de ninguém e, muito menos, para benefício de interesses económicos. Não produz ou dá despesas,elimina-se: este é um abuso paradoxal dos Direitos Humanos, frisa o Papa.

Falar da «dignidade transcendente» do homem significa apelar para a sua natureza, vê-lo como um ser relacional. Uma das doenças que se vê mais difusa na Europa é a solidão. É a falta de relação.

A Europa está cansada, envelhecida e é dominada pelo tecnicismo burocrático das suas instituições e por estilos de vida egoístas, caracterizados por um enorme fosso entre ricos e pobres. No debate político, constata-se lamentavelmente a preponderância das questões técnicas e económicas em detrimento de uma autêntica orientação antropológica. O Ser Humano – homem ou mulher – deixou de ser considerado o mais importante.

3.O futuro da Europa dependerá da redescoberta do nexo vital entre dois elementos: o Platónico – olhar para o alto, para o mundo das ideias – e o Aristotélico, que convida a estender a mão para a realidade concreta. A Europa fez-se do encontro permanente entre céu e terra, entre a abertura ao transcendente, a Deus, que desde sempre caracterizou o homem europeu, e a terra que representa a sua capacidade de enfrentar as situações e os problemas.

Uma Europa incapaz de se abrir à dimensão transcendente da vida é uma Europa que perdeu a sua alma e o seu «espírito humanista». «Dar esperança à Europa significa investir na educação, na família, célula fundamental e elemento precioso de toda a sociedade. A família unida, fecunda e indissolúvel, traz consigo os elementos fundamentais para dar esperança ao futuro,(…) na pessoa dos mais débeis da sociedade: as crianças e os idosos».

Deveria ter chegado já a hora de «construir juntos a Europa que deve girar, não só em torno da economia, mas da “sacralidade” da pessoa humana; a Europa que abraça com coragem o seu passado e olha com esperança para o seu futuro, para viver plenamente o seu presente».

4.Chegou o momento de promover uma Europa protagonista e portadora de ciência, de arte, de música, de valores humanos e também de fé. De promover uma Europa que assiste, defende e tutela o homem. De uma Europa que caminha em terra segura e firme, e que possa ser referência para toda a Humanidade!

Para isso é necessário centrar o Ser Humano na integridade da pessoa, com a sua dignidade transcendente e não dependente de ideias envenenadas que o depauperam mesmo dentro do reino animal. O homem não pode voltar a ser considerado como escravo que se explora ou como objecto de compra e venda.

A Europa precisa de governantes que respeitem o Ser Humano na sua identidade – ser masculino ou feminino – com os seus valores inalienáveis, os seus direitos fundamentais, os bens necessários para cada um poder viver na casa comum. Que governem os cidadãos com justiça e não tratem de resolver os seus problemas pessoais em detrimento dos do povo. Uma Europa isenta dos vícios que a tornam doente, como sejam «a corrupção, o crime, a injustiça, a falta de “educação com valores” e de saúde para todos».

O mais importante são sempre as pessoas!

ARMANDO SOARES 

Boa Nova – atualidade missionária

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