Como médicos, procuremos levar Deus aos outros

Como médicos, procuremos levar Deus aos outros

MENSAGEM DO ASSISTENTE ESPIRITUAL DA ASSOCIAÇÃO DOS MÉDICOS CATÓLICOS PORTUGUESES (AMCP) AOS SEUS ASSOCIADOS

Na Mensagem de Páscoa enviada aos associados (médicos e estudantes de Medicina), o assistente espiritual da Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP), padre Miguel Cabral, deixou uma palavra de esperança, ânimo e fé, em tempos que descreveu “de incerteza, de dúvida, de angústia quanto ao futuro”. “Deus sabe mais. Podia parecer que está ausente, que se esqueceu de nós. Mas está em todo o lado. Sabemo-lo pela fé. Ele não nos abandona. Jesus é o ressuscitado: a Vida venceu a morte!”, escreveu. O sacerdote, que também é médico, reiterou a nobreza da profissão médica, destacou o reconhecimento público que está a ser feito à profissão e pediu aos médicos associados da AMCP um testemunho cristão: “Como médicos, procuremos levar Deus aos outros. Mesmo cansados, que nunca falte uma palavra de fé e de esperança para os nossos colegas e para os doentes”. “É tempo de acreditar a sério em Deus”, exortou. O CLARIMpublica na íntegra a mensagem do padre Miguel Cabral.

Cristo, nossa esperança, ressuscitou!

Tempos estranhos os que estamos a viver. Tempos de incerteza, de dúvida, de angústia quanto ao futuro. Tempos em que nos damos conta da graça enorme do que significa ter saúde e que vale a pena tantos sacrifícios para a preservar e recuperar. Tempos em que um vírus invisível irrompe na nossa vida e põe a descoberto a nossa vulnerabilidade. Tempos em que, talvez como nunca, o trabalho sacrificado dos médicos é reconhecido por todos. Que profissão tão nobre a dos médicos!

A civilização ocidental está perplexa: o ideal moderno de controlo sobre a natureza desmoronou-se. À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Construímos a nossa torre de Babel demasiado alta e agora cedem as fundações, as próprias bases do progresso. Porque não podemos edificar sem Deus. Jesus já no-lo tinha dito há dois mil anos: «Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer» (Jo., 15, 5).

Felizmente, no meio desta pandemia podemos ver tantas manifestações de verdadeira humanidade, mensagens que na tragédia fazem-nos ver rostos e não apenas números ou curvas. Quantos exemplos heroicos e discretos de médicos que se entregam generosamente para tratar dos seus doentes. Quando ainda recentemente muitos falavam de morte e de legislar a eutanásia, agora toda uma civilização trava uma batalha pela vida.

Deus sabe mais. Podia parecer que está ausente, que se esqueceu de nós. Mas está em todo o lado. Sabemo-lo pela fé. Ele não nos abandona. Jesus é o ressuscitado: a Vida venceu a morte! Confunde-nos o mistério da doença e do sofrimento, mas confiamos em Deus. Porque a esperança em Jesus é diferente da esperança do mundo. Coloca no coração a certeza de que Deus sabe transformar tudo em bem, pois até do túmulo faz sair a vida. Deus respondeu à pergunta sobre o motivo da dor e da morte, do sofrimento inocente, fazendo-a experimentar ao seu Filho, para que jamais estivéssemos sozinhos.

Cristo, minha esperança, ressuscitou!, disse o Papa Francisco na mensagem Urbi et Orbi. Não se trata duma fórmula mágica, que faça desvanecerem-se os problemas. Não! A ressurreição de Cristo não é isso. Mas é a vitória do amor sobre a raiz do mal, uma vitória que não “salta” por cima do sofrimento e da morte, mas atravessa-os abrindo uma estrada no abismo, transformando o mal em bem: marca exclusiva do poder de Deus.

Como médicos, procuremos levar Deus aos outros. Mesmo cansados, que nunca falte uma palavra de fé e de esperança para os nossos colegas e para os doentes. E, sempre que possível, façamos tudo o que estiver ao nosso alcance para que os doentes possam beneficiar da alegria da visita do Capelão hospitalar. Que nunca falte o conforto e a graça dos sacramentos!

É tempo de acreditar a sério em Deus. «É o tempo, de decidir o que conta e o que passa, de separar o que é necessário daquilo que não o é. É o tempo de reajustar a rota da vida rumo a Ti, Senhor, e aos outros» (Papa Francisco, homilia na Praça de São Pedro, 27 de Março de 2020). É tempo de deixar que Cristo actue através das nossas palavras e dos nossos gestos. É tempo para rezar. É tempo de sacrifícios. É tempo de interioridade. É tempo para deixar as correrias duma vida sem parar e encontrar tempo para olhar para o fundo do nosso coração, ali onde está Deus. E, com Ele, dar um sentido mais profundo para a nossa vida de cristãos.

Peçamos a Nossa Senhora, Mãe do Ressuscitado e nossa Mãe, que abrevie este tempo de provação e, entretanto, que nos conceda a serenidade e a alegria dos filhos de Deus.

Pe. Miguel Cabral

Assistente Espiritual Nacional da AMCP

Abril de 2020

 

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