Festa da Paróquia de N. S. de Fátima pode estar comprometida
Outubro é sinónimo de festa na paróquia de Nossa Senhora de Fátima. Contudo, o agravamento do panorama epidemiológico em Macau, com a descoberta de um novo surto comunitário, cobriu os planos da Paróquia com um véu de incerteza. As celebrações atingem o auge com a procissão de Nossa Senhora de Fátima, na noite do dia 13.
A diocese de Macau decidiu encerrar as igrejas e centros de culto fora dos horários das missas, “até novo aviso”, mas na igreja de Nossa Senhora de Fátima existe o temor de que o agravamento do panorama epidemiológico possa obrigar à suspensão da festa paroquial, agendada para 10 de Outubro, e da procissão de Nossa Senhora de Fátima, prevista para o final da tarde do dia 13.
«A Paróquia planeia organizar a procissão dentro da igreja e do recinto do Colégio Diocesano de São José. Mas eu não sei se o Governo vai proibir a celebração. Vamos tentar dar seguimento aos nossos planos», explica o padre José Angel Hernandez. «Às sete horas da tarde vamos organizar a Eucaristia e depois da Eucaristia vamos ter a procissão, vamos rezar o Terço no exterior da igreja e continuar para o perímetro do Colégio Diocesano. As instalações da escola estão ligadas directamente à igreja e vamos continuar a rezar lá», acrescenta o sacerdote mexicano, em declarações a’O CLARIM.
O formato adoptado para realizar a celebração repete a solução idealizada em 2020, depois de vários anos em que a procissão de Nossa Senhora de Fátima percorria algumas das principais ruas da zona norte da cidade. A pandemia de Covid-19 exigiu cuidados redobrados na forma como os católicos vivem a fé e trocou as voltas aos responsáveis pela paróquia de Nossa Senhora de Fátima, assume o padre José Angel. «Há alguns anos costumávamos fazer a procissão na rua. No ano passado, organizámos a procissão dentro do perímetro da igreja e este ano vamos optar pela mesma solução, porque ainda não temos autorização para fazer a procissão na rua. Dadas as circunstâncias, se pedíssemos ao Governo para fazer a procissão na rua, o Governo não a iria autorizar, parece-me», assinala o missionário da Congregação do Verbo Divino. «Antes da pandemia, o que fazíamos era enviar uma carta ao Governo para autorizar a procissão e o Governo não só autorizava, como também alocava agentes da polícia para orientar o trânsito», recorda ainda o pároco de Nossa Senhora de Fátima.
Três dias antes da organização da procissão, a mais eclética das paróquias da diocese de Macau acolhe a Festa de Nossa Senhora de Fátima, com a igreja a receber a visita do bispo D. Stephen Lee. «A principal celebração, a festa da Paróquia, está agendada para o dia 10 de Outubro, às nove da manhã. A festa realiza-se sempre ao Domingo. Nesse dia, teremos uma Eucaristia Solene, presidida pelo bispo D. Stephen Lee. O bispo vai estar connosco nesse dia, temos a cerimónia do Crisma e à noite temos uma celebração com os nossos paroquianos. Os paroquianos juntam-se a nós para jantar. Agora, com este novo surto de Covid, não sabemos ao certo», refere o padre José Angel.
Mais incerta é a realização do primeiro convívio das quatro comunidades a quem a paróquia de Nossa Senhora de Fátima oferece acompanhamento espiritual. Inédito, o encontro estava previsto para o próximo Domingo, 3 de Outubro, mas o surto comunitário com que Macau se depara pode inviabilizar a realização da iniciativa, que entretanto já foi adiada para 31 de Outubro. «Antes da festa da Paróquia, a 3 de Outubro temos uma actividade, entre as sete e as nove horas da noite, com as quatro comunidades que frequentam a paróquia de Nossa Senhora de Fátima. Na Paróquia recebemos paroquianos de quatro comunidades linguísticas: a comunidades chinesa, a vietnamita, a indonésia e a comunidade de língua inglesa», explica o sacerdote. «Decidimos organizar oficialmente, pela primeira vez, uma actividade para que as quatro comunidades se possam reunir e possam estar juntas, em família. É uma oportunidade para que possam partilhar. Estão previstos momentos de oração, temos jogos e actividades lúdicas e vamos comer algo juntos, em comunidade, depois».
IMPACTO DURADOURO
A paróquia de Nossa Senhora de Fátima tem sido aquela em que o impacto da pandemia mais se tem feito sentir, dado o grande número de pessoas – sobretudo trabalhadores não-residentes – que perderam o emprego e perderam a capacidade de subsistência. Desde Fevereiro do ano passado, a Paróquia fez chegar ajuda económica ou géneros alimentícios a várias centenas de pessoas. A pandemia de Covid-19 é, em Macau, uma realidade há mais de um ano e meio e continua a ser para muitos um obstáculo de monta. «Na semana passada, o padre James distribuiu arroz, especialmente entre os membros da comunidade vietnamita que estão desempregados. Agora são apenas os que costumavam trabalhar em restaurantes e em hotéis, aqueles que não têm trabalho. Dantes, havia muitas trabalhadoras domésticas na mesma situação, mas o panorama das trabalhadoras domésticas acabou por se alterar. Muitas já têm emprego», sublinha o padre José Angel. «Para as pessoas que trabalhavam nos hotéis e em outras instituições, o cenário é mais difícil. Os casinos quase não recebem clientes e os restaurantes também foram afectados e estas pessoas foram arrastadas por essas circunstâncias».
Os trabalhadores não-residentes estão entre as principais vítimas da pandemia, mas não são os únicos fragilizados. Também há famílias monoparentais a sofrer com um flagelo que se arrasta há quase dois anos. «Na semana passada, o padre James ajudou cerca de uma centena de pessoas, principalmente vietnamitas. Há também algumas famílias estrangeiras, africanas e filipinas, mas também da China Continental, principalmente famílias monoparentais», concluiu o sacerdote.
Marco Carvalho