Privando com Deus

Por que me hei-de importar se forem três pessoas?

Poderão vós ter reparado que durante algumas semanas não nos afastámos dos dois primeiros capítulos do Génesis (eu não tinha reparado o quanto se pode aprender com as leituras sobre “o início”, até que li o que os Papas São João Paulo II e Bento XVI escreveram).

Nós sabemos que “no início” Deus quis fazer-nos à sua imagem e semelhança (Génesis 1:26). Ele deu-nos uma alma espiritual, imortal, investida de inteligência e vontade própria, o que nos torna livres, Ele fez-nos Senhores e Donos da criação; e Ele fez-nos Homem e Mulher, para que assim pudéssemos participar no seu trabalho de Criação.

Deus quis fazer-nos à sua imagem e semelhança, e assim fez de cada um de nós uma pessoa individual. O filósofo romano Boethius (480-524) definiu “pessoa” como «uma substância individual de natureza racional». Mas, de facto Deus revelou-nos que não era apenas uma única pessoa, mas três! Este é o mistério que acabámos de celebrar no último Domingo – a Festa da Santíssima Trindade.

O Antigo Testamento apenas se refere a este facto de forma velada. Alguns exemplos são:

– No Génesis 1:1, o termo utilizado para referir Deus foi “Elohim”, uma palavra que está no plural (apesar dos verbos e adjectivos utilizados estarem no singular, um fenómeno apenas encontrado nos escritos em Hebreu, mas que não se encontram nas outras línguas semitas);

– No Génesis 1:2 lemos sobre “o Espírito de Deus”;

– Quando Ele criou o Homem, Deus disse “Façamos” e não “Eu farei” (Génesis 1:26);

– ou ainda, quando apareceu a Abraão, Ele mostrou-se na forma de três Homens (Génesis 18).

Este facto apenas nos foi claramente mostrado quando a Segunda Pessoa se fez Homem. Jesus falou sobre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Por exemplo, na Última Ceia Ele disse aos seus discípulos: «E Eu rezarei ao Pai, e Ele enviar-vos-á um outro Conselheiro, que ficará convosco para sempre, o mesmo Espírito de Verdade, que o Mundo não pode receber, porque nem O pode ver, nem O conhece. Vós conhecei-O, porque está entre vós, e estará convosco… Mas o Conselheiro, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas (João 14:16-17,26)».

É este, o Mistério da Santíssima Trindade, o maior mistério da nossa Fé. O Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus, mas há apenas um único Deus, e não três. Além disso, o Pai, não é o Filho , nem o Filho é o Pai. E o Espírito Santo, não é nem o Filho nem o Pai. Eles são, na realidade, três Pessoas distintas, e não apenas formas ou maneiras diferentes de Deus se nos apresentar a Ele próprio.

Mas, poderemos perguntar: O que é que isso tem a ver comigo?

Deus deseja estabelecer connosco um relacionamento “pessoa a pessoa”. Podemos ver esse relacionamento de duas diferentes maneiras:

Por um lado, Ele não quer que me esconda na multidão, para desaparecer na massa anónima de pessoas sem identidade. Ele procura falar comigo, individualmente. Ele concede-nos essa Graça através da recepção individual dos Sacramentos.

Por outro lado, Deus não deseja que nos refiramos a Ele apenas como o Poderoso Senhor de tudo. Ele deseja que lidemos com Ele numa base de “pessoa a pessoa”. Ao revelar-nos a Santíssima Trindade, Deus apresentou-nos a sua própria vida interior. É como termos sido apresentados aos membros da família. E cada um deles deseja falar connosco!

Assim, quando rezamos… com quem é que estamos a falar? É com o Pai, ou com o Filho, ou o Espírito Santo?

Pe. José Mario Mandía

(Tradução: António R. Martins)

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