Portugal à nora
E, finalmente, o coronavírus chegou a Portugal! Não fosse a gravidade da situação e até poderia parecer o relato de um qualquer encontro desportivo.
O que se passou nas últimas semanas em Portugal, nos dias que antecederam a descoberta do primeiro caso positivo de Covid-19, mais pareceu uma corrida a ver quem seria o primeiro Órgão de Comunicação Social a noticiar o primeiro infectado.
Foi triste ver os noticiários e os programas de entretenimento, quase 24 horas sobre 24 horas, a fazer as mais disparatadas coberturas dos hipotéticos casos, dissertando de forma completamente irresponsável sobre este grave problema.
Em causa não está se Portugal se preparou ou não, no âmbito do Serviço Nacional de Saúde, para lidar com uma pandemia de larga escala como esta. Sinceramente, acredito que esteja, pois os profissionais que trabalham no SNS têm toda a preparação necessária. No entanto, já a forma como o Ministério da Saúde e outras entidades oficiais têm lidado com o assunto deixa muito a desejar.
As medidas preventivas, que já deveriam estar no terreno há muito tempo, quer seja no controlo da temperatura nos locais mais frequentados pelas pessoas, quer através de medidas de prevenção de potenciais riscos, nem agora – no momento em que vos escrevo – funcionam. E isto tudo a par com a histeria que os Meios de Comunicação Social continuam, irresponsavelmente, a alimentar. A verdade é que muitas pessoas andam alarmadas com a situação por não estarem informadas quanto ao que fazer perante um hipotético caso ou possíveis infecções.
Macau, neste campo, deu o exemplo ao mundo em como lidar com a situação. O que se aprendeu com a SARS e com o H5N1 fez com que agora não houvesse qualquer tipo de facilidade no terreno.
Muitos aqui, em Portugal, dizem que Macau fez o que fez porque as reservas financeiras são o que são e dão para tudo e mais alguma coisa. É capaz de ser verdade, mas também é sabido que, por exemplo, a decisão de fechar os casinos (a galinha dos ovos de ouro da RAEM) deixou muita gente mal disposta. Chegou-me a informação, por vias não oficiais, que o facto de ter sido obrigado a fechar o Casino Lisboa não deixou o clã Ho muito contente. Afinal, foi a primeira vez na história de tão emblemático espaço que tal aconteceu, facto que era motivo de orgulho na família.
Em Portugal continua a completa falta de rumo quanto às medidas a tomar e recomendações a dar à população e aos agentes de cuidados de saúde. Depois acontece que a falta de coordenação e de directivas claras e objectivas levam a que sucedam casos como o da senhora que foi isolada numa casa de banho de um centro de saúde durante horas, com a agravante de não se terem lembrado que, para além de desumano, a referida casa de banho iria voltar a ser usada por outros utentes do centro de saúde.
Não há quaisquer directivas para alertar, ou prevenir, que as pessoas não viajem para zonas afectadas, assim como não há qualquer tipo de controlo sobre os cidadãos que viajam dessas zonas para Portugal. Por outro lado, também o facto de Portugal pertencer ao espaço Schengen, e as suas respectivas fronteiras estarem escancaradas, dificulta tudo o resto. Contudo, as directivas da União Europeia prevêem que em casos excepcionais, como este aparenta ser, a liberdade de circulação no espaço europeu possa ser restringida. Se assim foi durante o Campeonato Europeu de Futebol, por que razão não há coragem para que volte a ser feito, com a reactivação do controlo de fronteiras. Tanto mais que já existem alguns países europeus a fazê-lo.
Nós (eu, NaE e Maria) vivemos numa aldeia, numa vila mais concretamente, fora dos grandes centros urbanos, pelo que se torna mais fácil evitarmos zonas com grandes aglomerações. A nossa actividade profissional obriga-nos a frequentar espaços com um elevado número de pessoas e a com elas contactarmos directamente, mais não seja quando procedem a qualquer pagamento, seja a dinheiro ou a cartão. Temos lavado as mãos com frequência, com álcool ou com água e sabão, o que já era prática nossa porque lidamos com alimentos não embalados. Embora contactemos com imensas pessoas, as aglomerações são ao ar-livre, o que também torna o contágio menos provável.
Tal como nos períodos da SARS e do H5N1, não nos deixamos levar pela paranóia de que há uma infecção generalizada. À semelhança de qualquer pessoa sensata, mantemos bons hábitos de higiene, lavamos as mãos com muita regularidade e, sempre que possível, não frequentamos locais fechados com grande número de pessoas. Isto incluí centros comerciais, hospitais, autocarros, o metropolitano, etc. Caso estejamos com sintomas de doença, seja ela qual for, não vamos a correr para as urgências do hospital ou de um centro de saúde. Se for impossível, é sair de casa sempre com a máscara colocada com vista a não contaminarmos outras pessoas.
Se formos a ver bem, estes não são afinal os procedimentos que devemos adoptar em qualquer situação? Eu sempre assim o fiz! Se tenho de me deslocar às urgências uso uma máscara porque não quero espalhar a maleita pelos outros doentes e profissionais de saúde. É que infelizmente estes últimos não podem optar por ficar em casa.
O bom senso tem que imperar nestas situações, pois só assim se pode tentar evitar uma histeria colectiva como a que se vê com corridas aos supermercados e às farmácias. Haja pois bom senso que o vírus desaparecerá assim que vier o calor como qualquer outra “influenza”. Assim o desejamos….
João Santos Gomes