“Prendas” de Natal

O Natal aproxima-se e com ele vem a barafunda habitual das compras e a preocupação dos nossos cidadãos, enfiados em centros comerciais ou em desfile rua abaixo/rua acima, na procura das tradicionais prendas para oferecer aos seus familiares e amigos chegados. Com mais ou menos dinheiro, todos fazem um esforço para obter os produtos que mais possam merecer o agrado dos outros e compatíveis com o preço adequado à sua própria carteira.

É o maior festival comercial do ano e, com as sugestões publicitárias a bombardearem a mente de quem compra e de quem gostaria de receber, a escolha inferniza o comportamento de muitos filhos, pais e avós que, angustiados na procura da prenda adequada e na expectativa de controlarem as suas despesas, acabam por gastar muitas vezes mais do que podem e ficam na incerteza de terem feito a melhor opção. É assim uma grande parte do Natal dos grandes centros urbanos, para gáudio de todos os comerciantes, para quem a quadra natalícia representa um verdadeiro salva-vidas de uma actividade que tem vivido dias difíceis.

Quer o admitamos ou não, o Natal das grandes urbes citadinas assemelha-se a um enorme caldeirão de sopa pagã, com todo o tipo de condimentos comerciais, salpicados por alguma espiritualidade cristã e fervendo à luz que irradia das montras das lojas. O dar e o receber transformou-se numa obrigação e dependência social, que extravasa muitas vezes o sentido simbólico da oferta recíproca, para se tornar um imperativo das normas sociais vigentes que não podemos recusar, sob pena de sermos excluídos da “grande festa” do Natal…

Claro que celebrar o Natal não é igual em todo o lado e, mesmo em Portugal, há regiões e tradições que escapam a este consumismo, salvaguardando o essencial da celebração do nascimento de Jesus. Mas, se me é permitido ironizar um pouco sobre o tema, as excepções são cada vez menores e o interesse concentra-se cada vez mais nos carregamentos suportados pelos camelos dos Reis Magos, ou seja, as prendas.

Já pouco se salvaguardou das tradições de outros tempos, dizem os velhos tantas vezes carregados de razão.

O pinheiro verdadeiro, verde e com cheiro a resina, a original árvore de Natal, é agora um emplumado arbusto de plástico, com cores a condizer com os cortinados e os sofás das salas familiares. As bolinhas vítricas e de cores garridas, que ornamentavam a árvore, são agora de plástico carregado de purpurina, e de plástico são igualmente as figurinhas do presépio, que antes eram de barro tosco e pintadas de forma patusca. Tudo era mais imperfeito para nos incentivar a sonhar. Agora, o plástico invadiu o Natal e a plástica dos seus ornamentos, plastificando o nosso comportamento.

Neste transformado mundo, o Pai Natal tornou-se a figura mais proeminente desta época, conduzindo tudo e todos à “adoração” das prendas de Natal, sob o efeito sedativo das luzinhas multicolores que piscam à nossa volta.

Até em Portugal, uma espécie de “presépio político” tem uma nova configuração, com uma parte das suas figurinhas a comportarem-se como figurões, enquanto no céu brilham alguns candidatos a estrelas do novo firmamento presidencial.

A figura central do actual Governo, o novo “Pai Natal”, esforça-se por gerir os parcos recursos que lhe deixaram, na compra de algumas prendas à população, prometidas até ao Dia de Reis. No entanto, alguns dos seus actuais discípulos nunca estão satisfeitos com a quantidade e valor das prendas, ameaçando retirar-lhe algumas das “renas”, ou seja, impedindo-o de continuar a viagem até ao fim da legislatura.

Uma outra “tribo”, a dos “Vendilhões do Templo”, que nos cortejos de Natal deixaram de poder representar a figura do “pére fouettard”, continuam a manifestar-se nos mercados de Natal, tentando impedir que nos forneçam crédito, ao mesmo tempo que tentam vender-nos os “doces” que não nos quiseram oferecer.

Na observação mais atenta desta representação simbólica, os portugueses têm constatado a falta dos Reis Magos (de Bruxelas) e os baús de ofertas, que permitiriam embelezar o “presépio político” do nosso pequeno país e o numeroso rebanho que nele pasta. No entanto e se bem que tais oferendas tivessem acabado e só tivessem sido suficientes para fazer crescer o pasto para alguns carneiros, os portugueses estranham que, entre as figurinhas deste “presépio” e após terem retirado os Magos, tenham deixado os camelos!? Será que nos estão a convidar a fazer mais uma travessia do deserto?

LUIS BARREIRA

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