Nunca pensei dizer isto, mas depois de quase um ano de calor estava com um pouco de saudades do frio. E Nova Iorque veio mesmo trazê-lo. Temperaturas sempre a roçar o negativo – infelizmente sem neve. Apesar de todo o frio, chuva e vento, abraçámos o calor humano da comunidade portuguesa local, que nos fez sentir como se estivéssemos em casa e aqueceu a nossa estadia.
Como fazemos em qualquer lugar que visitemos, damo-nos a conhecer à comunidade lusa aí radicada. Mostramo-nos sempre disponíveis para conhecermos os seus membros e lhes falarmos da nossa experiência. Foi neste contexto que contactei a Academia do Bacalhau de Long Island, em Nova Iorque, tendo eles respondido com um convite para estarmos presentes no jantar de Natal que organizam anualmente.
Para nós foi uma honra termos sido convidados e dissemos que sim com uma grande alegria. Foi pena ter sido uma visita tão curta porque a comunidade lusa local merecia que tivéssemos mais tempo para com ela partilhar a nossa aventura.
O jantar em si foi excepcional e fez-nos matar saudades da verdadeira comida portuguesa. Sopa de legumes, que me fez lembrar as de minha avó e de minha mãe; bacalhau assado com batatas a murro, tão tradicional da minha zona em Portugal; pastéis de bacalhau, rissóis, Sumol, vinho tinto e branco e até água do Luso. Não esquecendo o fabuloso pão – só eu comi quatro, ainda antes de chegar a comida.
Ainda havia mais pratos: carne de porco à alentejana, asas de frango grelhadas e saladas. Deixei-me ficar pela sopa e pelo bacalhau, depois das entradas. Havia que salvar algum espaço para a sobremesa, composta por inúmeros bolos: pão-de-ló, bolo-rei, etc… E uma “bica” acompanhada de uma água de Carvalhelhos… e mais não digo!
E se a comida teve um papel importante na noite, o calor de todos os membros da Academia do Bacalhau de Long Island e do Clube Lusitano, que é o proprietário do local onde tudo se realizou, fez-nos sentir em casa, desde logo pelo facto de termos sido conduzidos pelo próprio presidente da Academia, que nos foi buscar e levar ao hotel, com a sua esposa. Aqui a comunidade portuguesa é coesa e não olha a posições sociais. Tal foi-nos dado a apreciar logo desde o início, visto ser tradição nas tertúlias da Academia todos se tratarem por comadres e compadres, deixando de lado os doutores, os engenheiros e o senhor fulano tal…
Sinceramente, depois de tanto tempo sem ter estado na companhia de uma grande comunidade de portugueses, fiquei surpreendido, pela positiva, com a forma como interagem entre eles e como recebem completos desconhecidos, como nós. Assim como fiquei surpreendido com o apoio genuíno que dão a quem precisa. Durante o jantar foram entregues subsídios a várias escolas portuguesas da zona e a um cidadão português necessitado.
De facto, vamos tendo inúmeras surpresas por onde passamos. No final do jantar, já depois de termos sido visitados pelo Pai Natal para deleite da criançada, tivemos a confirmação de que o mundo é mesmo pequeno. Até nestas paragens viemos encontrar pessoas que connosco têm amigos em comum. Um casal aproximou-se de nós para nos felicitar pela viagem, pelo trabalho de promoção da nossa cultura e para nos perguntar se conhecíamos um amigo que têm em Macau. Por coincidência, é a mesma pessoa com quem passámos o último Natal em Macau, em 2013. A pessoa em questão é o Marco Policarpo, pela maioria conhecido pelo seu trabalho no restaurante Boa Mesa.
Quando esta crónica for publicada deveremos estar já em St. Lucia. Esperamos ter a oportunidade de conhecer o casal português que participou na Atlantic Rally for Cruisers. Se assim acontecer, disso daremos conta na próxima semana.
João Santos Gomes