Portugal, o “País das Maravilhas”

Os portugueses começam a sentir-se num país feito à imagem de muitas das telenovelas a que assistem nas televisões. Os ingredientes estão lá todos: amor e ódio entre os políticos; inveja e sedução por lugares públicos; mentiras e promessas de governantes; surpresas e ilusões criadas por homens políticos e, para que o painel fique completo, corrupção e crime de altas figuras do poder.

No entanto, a realidade do País parece ser muito pior do que a ficção televisiva.

Ainda a braços com os resultados dos julgamentos de toda uma série de trapaças financeiras com que temos sido “brindados” pelos “colarinhos brancos”, que antes estavam acima de qualquer suspeita.

Ainda não esquecidos da trapalhada provocada pelo ministro da Educação, que só recentemente conseguiu colocar os professores a dar aulas aos nossos alunos e que, depois ter assumido a “mea culpa”, não tirou as necessárias consequências políticas.

Ainda a digerirmos as consequências da epidemia de legionella, que continua a afectar 317 pessoas e que já provocou oito mortos, apesar de já ter sido detectada a sua causa nas torres de refrigeração de algumas fábricas da região de Vila Franca, resultado da negligência dos seus responsáveis.

Surpreendidos e indignados com uma ministra que, com o seu célebre sistema informático CITIUS, colocou o sistema judicial português em “estado de sítio”, vindo a acusar de sabotagem dois informáticos da Polícia Judiciária, que depois de estes terem sido ilibados da acusação não teve a coragem de se demitir.

E agora, o que se seguiu? Agora, mais um escândalo e, desta vez, a envolver altas figuras da Administração Pública: o caso dos “Vistos Gold”. Um sistema que permite conceder aos estrangeiros a autorização de residência no País e a liberdade de circular na Europa (espaço Shengen), desde que invistam em Portugal, por exemplo, 500 mil euros na compra de uma casa.

Uma operação lançada pela Polícia Judiciária levou à detenção de onze pessoas, entre as quais, o director do SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras); o presidente do Instituto de Registos e Notariado; a secretária-geral do Ministério da Justiça; a secretária-geral do Ministério do Ambiente; alguns cidadãos chineses e outros intervenientes num esquema fraudulento, sob a acusação de corrupção, tráfico de influências, peculato e branqueamento de capitais.

Trabalhando “em rede” com os acusados estavam algumas empresas imobiliárias, pertencentes a familiares seus, e há a suspeita de favorecimento destes negócios ilícitos por parte do antigo e do novo director do SIS (Serviço de Informações e Segurança) – a polícia secreta portuguesa – por terem ajudado um dos acusados (vigiado pela PJ) a livrar-se das escutas.

Segundo foi noticiado, o “esquema” baseava-se, por exemplo, na venda de um imóvel, avaliado em 200 mil euros e escriturado na venda por 500 mil, sendo que os 300 mil da diferença eram para pagar luvas aos intermediários.

A relação de confiança e amizade entre alguns dos acusados e o ministro da Administração Interna, conduziram a que o ministro, embora não tivesse sido até agora acusado, se sentisse enfraquecido politicamente, levando-o a demitir-se. Situação perante a qual outros seus colegas, como antes afirmei, não tiveram a coragem de o fazer…

Raras vezes Portugal assistiu a uma situação desta natureza, envolvendo altas figuras da máquina do Estado e, desta vez, responsáveis de topo das polícias portuguesas.

Não se sabe ainda, uma vez que o processo de inquirição ainda está a decorrer, se toda a matéria de acusação se confirma ou não, ou se vai envolver ainda mais fraudes e acusações, mas o comum dos cidadãos portugueses, depois de tudo o que tem passado, é levado a pensar que, com tais polícias, não precisamos de ladrões.

Neste “País das Maravilhas” não há semana que passe que não nos traga mais desgostos.

Quando se perde a consciência dos valores morais, que fazem parte do património da nossa consciência cívica individual, para dar lugar apenas a uma mão cheia de leis, que podem ser contornadas por quem tem poder, como posso condenar o pequeno comerciante da esquina, apanhado por um fiscal das finanças, por ter vendido um café e um bolo sem passar factura!?

Os exemplos vêm de cima. De quem deveria ter uma moral “gold”, mas que afinal não passa de uma “lata” corrompida!

Luis Barreira

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