PORTUGAL COM CHEIRINHO DE MACAU

PORTUGAL COM CHEIRINHO DE MACAU

O ciclo do Búfalo de Ferro

Se ainda estivesse a residir em Macau, este ano teria festejado um segundo ciclo completo do Calendário Lunar. Aterrei no antigo território português decorria o Ano do Búfalo de Água, ali passei o Ano do Búfalo da Terra, sendo que este ano é o Ano do Búfalo de Ferro.

Ciclos de doze anos que acarretam sempre coisas boas e outras experiências menos boas. Sinceramente, Macau foi para mim uma experiência, na sua grande maioria, positiva. Fiz grandes amigos mas também conheci algumas pessoas que preferia não ter conhecido. Tive a oportunidade de trabalhar com pessoas excepcionais e com outras que não o sendo não deixaram de me fazer ver que a vida tem um lado bem sombrio… Ainda assim, com todos os altos e baixos normais de uma vida cheia, o balanço da etapa vivida em Macau é considerado positivo. Mas foi isso mesmo: uma etapa. E sendo a vida uma sequência de etapas desde o momento que nascemos, nunca se repetem da mesma forma.

Felizmente, pouco tenho com que me arrepender do que fiz na vida; se há algo de que me arrependo, é do que não fiz. Já do que fiz, bem ou mal, não guardo quaisquer arrependimentos. Os erros servem para que evoluamos e tentemos ser melhores, pelo que não vale a pena pensar naquilo que fizemos menos bem.

Depois do ciclo de Macau veio outro ciclo: viver a bordo de um veleiro (o nosso Dee) – foi um ciclo que infelizmente acabou por ser mais curto do que o inicialmente previsto, devido a problemas de saúde. Agora segue-se um novo ciclo: Portugal! Aqui, eu e a minha mulher decidimos apostar numa nova aventura, desta vez na área da culinária.

Posso garantir que em todos os referidos ciclos aprendi, ou melhor, aprendemos. No barco, aprendemos essencialmente que é preciso muito pouco para viver feliz e de forma saudável; e que o mais importante é estarmos com aqueles que amamos. O facto de ter tido a oportunidade de ver a minha filha crescer 24 horas por dia, sete dias por semana, ensinar-lhe aquilo que queríamos que fosse a base da sua personalidade, e ver agora como ela está a evoluir, valeu todos os esforços e todos as críticas negativas que ouvimos de muitos dos nossos “amigos” de então. Já na aventura gastronómica em Portugal, que ainda decorre, vamos aprendendo que se pode fazer aquilo de que se gosta e ser feliz, sem se ser doutor ou engenheiro. E quão é animador ver que as pessoas gostam daquilo que fazemos!

Esta etapa que agora vivemos, apesar de toda a pandemia, está a ensinar-nos a ser mais disciplinados em termos de planeamento a longo prazo, até porque a responsabilidade financeira e económica a isso obriga. Afinal, trata-se de um negócio que se não estiver a dar lucro, depois de seis meses de actividade, mais vale a pena encerrar e enveredar por outros caminhos. Além de que há todos os encargos com funcionários e a responsabilidade social inerente a qualquer empresa, seja pequena, média ou grande. Felizmente, mesmo com as contingências relativas ao Covid-19, no campo contabilístico temos andado sempre muito acima do previsto mensalmente.

O próximo ciclo ainda não sabemos qual será, mas certamente irá haver um novo ciclo; continuam a surgir propostas de vários sectores, tanto em Portugal como fora da Europa. A ver vamos o que o futuro nos reserva.

Entretanto, aqui em Portugal, mais precisamente em Aveiro, não quisemos deixar de assinalar mais um novo ciclo do Calendário Lunar e fizemos um jantar de Ano Novo Chinês, a primor! Apesar de estarmos em pleno confinamento, o que não nos permitiu adquirir os tradicionais adereços relativos a esta data, fizemos questão de termos uma mesa recheada de comida tradicional. Tudo por nós confeccionado, na nossa cozinha. Foram dois dias a fazer comida! Até vestimos roupas vermelhas para trazer boa sorte, etc. Infelizmente, não conseguimos arranjar envelopes de lai si, pelo que a nossa pequenota acabou por não receber o seu lai si. Mas sinceramente nem se importou, pois o que queria mesmo era deliciar-se com a comida chinesa que habilmente ajudou a cozinhar. É que embora não seja chinesa, a Maria nunca se esquece que nasceu em Macau e que, pela parte da mãe, muito provavelmente tem sangue chinês.

Neste momento, anda toda empenhada na sua nova aprendizagem de violino, instrumento que adora e que, segundo a professora, até parece ter alguma apetência. Já tivemos de lhe prometer que iremos criar um canal no YouTube para que possa ir registando as aulas e o progresso que vai fazendo.

Curiosamente, o que ela quer mesmo é aprender Chinês! No próximo ano, caso não haja mais pandemia, iremos tentar inscrevê-la no Instituto Confúcio de Aveiro – terá pois todo o nosso apoio e suporte.

Quase uma Lua depois do novo ano do Búfalo de Ferro ter começado, resta-me desejar a todos os leitores e amigos um Próspero Ano repleto de coisas boas e que todos os objectivos familiares e profissionais se realizem. Acima de tudo, que haja muita saúde e espírito de entreajuda.

Aqui neste canto deixamos a promessa de que iremos continuar a trilhar o nosso caminho, sempre a pensar em todos vós. Semanalmente, tentamos levar aos nossos leitores algo que os anime, que os informe e que os mantenha bem-dispostos.

Assim sendo, Kung Hei Fat Choi e San Nin Faai Lok para todos os nossos leitores e amigos, em Macau e espalhados pelo mundo. Que o Búfalo de Ferro vos traga muita felicidade, prosperidade e saúde!

João Santos Gomes

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