A vela é mesmo assim. A última crónica escrevi de Fort-de-France, na ilha de Martinica, sem grandes planos para visitar outras ilhas. No entanto, quando rumámos a Norte, na viagem para Sainte Pierre (por onde passámos apenas), decidimos visitar, mais uma vez, a ilha de Dominica, juntamente com a tripulação do El Caracol. Mas, chegados a Dominica, pensámos: porque não seguir até Guadalupe?
E assim foi! Durante a navegação rumo a Norte decidimos, via rádio, continuar até à outra ilha francesa. Para nós foi uma decisão facilmente tomada, dado que não tínhamos tido a oportunidade de visitar esta ilha. Estamos agora em Pointe à Pitre, a sua maior cidade e um dos maiores portos comerciais desta parte das Caraíbas. Estaremos por aqui durante uma semana. Os nossos companheiros de viagem, depois de terem pernoitado no arquipélago de Les Saintes, comunicaram-nos, via telemóvel, que iriam continuar viagem mais para Norte, aproveitando o bom tempo, o bom moral da tripulação e para conhecerem melhor a embarcação.
Daqui iremos visitar outras ilhas pertencentes a Guadalupe, nomeadamente a ilha de Gosier, que fica a apenas quatro milhas do local onde estamos, depois iremos visitar o arquipélago de Les Saintes e, de regresso a Sul, deveremos parar em Marie Galante.
À primeira vista Guadalupe é uma ilha igual a Martinica, com toda a influência francesa que durante séculos aqui se fez sentir. Mas, na verdade, Guadalupe é uma região autónoma do poder de Paris, enquanto que Martinica é um departamento francês como Bordéus ou Colmar. Esta diferença de status é visível em tudo, desde os preços dos produtos até à maneira de ser das pessoas que aqui se afirmam mais insulares e mais orgulhosas de pertencerem a Guadalupe, enquanto que em Martinica se sentem e afirmam mais francesas.
Pessoalmente, entre os dois locais, prefiro Martinica e toda a ambiência europeia que contrasta com o cariz caribe que se vive em Guadalupe. A passagem de Sainte Pierre para Guadalupe foi feita sem grandes problemas.
Na saída de Fort-de-France planeámos ficar em Sainte Pierre durante alguns dias, ou mesmo semanas, mas ficámos desapontados com o que vimos. Sainte Pierre foi, em tempos, a capital de Martinica, mas após o terramoto e erupção vulcânica do início do século passado (1902), que arrasou por completo a cidade e matou quase toda a população, os franceses decidiram elevar Fort-de-France a capital da ilha por ser mais segura e ter um porto de mar mais acessível. Sainte Pierre hoje nada mais é do que um repositório das memórias dessa época, se bem que a governança local tente dar outra vida à cidade, deslocando para ali alguns serviços. Sinceramente esperávamos mais, pelo que decidimos seguir viagem para outras paragens.
Relativamente ao ancoradouro também não impressionou – profundo, fundo de erva e corrente acentuada. No segundo dia, por falta de corrente e escassez de espaço, arrastámos âncora. Valeu-nos a tripulação de um barco ao nosso lado que foi capaz de parar o veleiro quando estávamos na cidade a almoçar.
Quanto à praia, sobre a qual muito tínhamos ouvido falar, nem vale a pena perder tempo a descrever o que vimos. A areia é preta, muito semelhante à de Hac-Sá. Se bem que aqui a cor é de origem vulcânica…
Deste local onde estamos, Pointe à Pitre – um excelente porto comercial, onde se encontra a maior marina das Caraíbas (aqui termina a famosa regata Route du Rhum, que sai de Saint-Maló, em França, todos os anos, com os mais modernos veleiros) – temos a dizer que é aprazível mas pouco mais oferece. Já tivemos a oportunidade de visitar o seu aquário, que serviu para mostrar à Maria muitos dos peixes que só conhecia em livro, mas pouco mais existe.
Curiosamente, temos tido a companhia de um enorme navio de nome português (Pedro Álvares Cabral), registado no Luxemburgo, e que anda no porto a fazer trabalhos de pesquisa. Ficámos intrigados com a sua presença e iremos ver se será possível apurar mais alguma coisa para a próxima semana.
João Santos Gomes