Silêncio Sino-Vaticano.
Não são conhecidos muitos pormenores, mas a nomeação de bispos terá sido a questão que mais dividiu os representantes da China e do Vaticano no último encontro entre os dois Estados, realizado em Abril deste ano. Tanto Pequim como a Santa Sé não querem fazer concessões no que respeita à gestão da actividade religiosa, o que constitui um impasse na aproximação política e diplomática iniciada pelo Papa Francisco e pelo Presidente Xi Jinping em 2013, ano em que foram empossados nos respectivos cargos. Uma coisa é certa: o silêncio sobre os trabalhos, que decorrem sempre à porta fechada, continua a imperar.
O Vaticano realizou um segundo encontro este ano com representantes do Partido Comunista Chinês, poucos dias depois do Presidente da China, Xi Jinping, ter imposto um novo modelo de gestão para os assuntos religiosos, durante a Conferência Nacional do Trabalho Religioso, ocorrida em Pequim nos dias 22 e 23 de Abril.
Personalidades ligadas à Igreja em Roma e na China avançaram que a segunda reunião à porta fechada terá tido lugar em Pequim na última semana de Abril.
Embora sejam conhecidos poucos pormenores sobre a Conferência Nacional – a primeira nos últimos quinze anos – pareça haver a intenção por parte da China de apertar o controlo em relação a diferentes aspectos da vida e da actividade religiosa, em nome da política de sinização.
O Papa Francisco deixou claro que uma efectiva reaproximação à China é uma das prioridades-chave do seu papado, sendo que o Vaticano retomou o diálogo interrompido com a China em Junho de 2014. Depois desta data foram organizadas outras reuniões, entre 11 e 16 de Outubro de 2015, e nos dias 25 e 26 de Janeiro deste ano.
«Considero notável que este segundo encontro tenha acontecido pouco tempo depois da última ronda de negociações, realizada em Janeiro», disse uma fonte que confirmou a reunião de Abril, citada pela UCAN.
Outra pessoa liga à Igreja explicou que o Vaticano não tem pressa em alcançar um acordo, tendo proposto a criação de um grupo de trabalho para que ambos os lados possam estudar as questões mais sensíveis no tempo devido.
O secretário de Estado do Vaticano, D. Pietro Parolin, afirmou à revista San Francesco, no início de Maio, que o diálogo entre a China e o Vaticano «é um longo caminho que tem conhecido altos e baixos. Não está terminado e apenas chegará ao fim quando Deus o quiser».
O cardeal Parolin chefiou as negociações com a China, em representação da Secretaria de Estado, quando estas foram interrompidas em 2009. Segundo ele, «neste momento estamos numa fase positiva. Há sinais de que ambos os lados têm vontade de prosseguir o diálogo e de trabalhar em conjunto na busca de soluções para o problema da presença da Igreja Católica neste grande país».
Outra fonte desvendou que um dos assuntos que estão a ser estudados é a possibilidade do Papa vir a perdoar os oito padres que foram ordenados bispos de forma ilícita na China – o primeiro passo no sentido de regularizar a sua situação. Também fora da China algumas pessoas ligadas à Igreja têm promovido a reconciliação dos bispos “ilícitos” com o Vaticano.
O presidente da Conferência dos Bispos da Igreja Católica na China, Joseph Ma Yinglin, e os seus dois vice-presidentes, D. John Baptist Yang Xiaoting e Vincent Zhan Silu, foram convidados a visitar os Estados Unidos durante Setembro do ano passado, mês em que o Papa Francisco e o Presidente Xi Jinping estiveram no País, a convite do Presidente Barack Obama. Joseph Ma e Vincent Zhan foram ordenados sem mandato papal.
John Worthley, antigo vice-chanceler da Universidade de Seton Hall, em Nova Jérsia, e especialista sobre a Igreja na China, descreveu a visita dos bispos como uma «santa peregrinação em busca da reconciliação com a Igreja universal».
Segundo o académico, foi entregue uma bíblia a um bispo americano, com o intuito de ser oferecida ao Papa Francisco, contendo uma mensagem assinada pelos três bispos: «Nós vos amamos; rezamos por vós; esperamos por vós na China». Na ocasião, um investigador chinês disse antever que o Vaticano pudesse estar mais receptivo a perdoar os bispos “ilícitos” que integram a Conferência dos Bispos da Igreja Católica na China, apesar desta não ser reconhecida pelo Vaticano.
O mesmo académico acrescentou que tal pretensão do Vaticano poderá não ser suficiente para reduzir as diferenças entre Pequim e o Vaticano. É que se o lado chinês quer que o Vaticano perdoe os oito bispos que foram ordenados de forma ilícita, Roma quer ser chamada a aprovar cerca de vinte sacerdotes entretanto nomeados bispos, que ainda têm de ser ordenados à luz da Santa Sé.
In Sunday Examiner