Paul Spooner sobre a eleição de Donald Trump para Presidente dos Estados Unidos

Sistema sofre pesado revés.

Os interesses das diferentes comunidades nacionais venceram os interesses corporativistas da comunidade global, é a opinião do analista financeiro norte-americano Paul Spooner, no rescaldo da eleição de Donald Trump para Presidente dos Estados Unidos. Em entrevista a’O CLARIM, refutou a ideia generalizada de que o republicano seja um pesadelo para o mundo, visto ser impossível que tivesse construído um império de negócios a partir de Nova Iorque sem ser pluricultural e ter mente aberta.

 

O CLARIMO republicano Donald Trump venceu as presidenciais americanas. Está surpreendido com este desfecho?

PAUL SPOONER – Julgo que as pessoas que ouviram o que ele dizia sabiam que estava a falar para uma grande audiência e que teria uma viva reacção, mas ninguém poderia realmente saber quem seria o mais forte. O controlo por parte do sistema, a resposta dos americanos e os media dos Estados Unidos eram anti-Trump. Diria mesmo, eram fortemente anti-Trump. Mas será que a maioria das pessoas responderia a esta mensagem anti-Trump que vinha da maior parte dos media? Ou será que teriam elas próprias uma visão mais independente? Pessoalmente, a sua eleição é um desenvolvimento interessante, sendo um pouco surpreendente que tenha ganho no Wisconsin e na Pensilvânia. É notável!

CLFoi Donald Trump quem ganhou ou Hillary Clinton quem perdeu?

P.S. – Os dois candidatos tiveram problemas com a interacção pública. Houve dois grandes grupos a lutar pelo poder. De um lado, havia a existente comunidade global que apoia a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, a NAFTA [Tratado de Livre Comércio da América do Norte] e a Organização Mundial do Comércio – forças globalizantes que redefinem a comunidade de comércio mundial. Do outro lado, estavam as pessoas mais focadas nas suas próprias comunidades dentro da nação e etc. Estes dois grupos batalharam. Hillary foi a porta-voz dessa comunidade globalizante, enquanto Donald Trump tornou-se no porta-voz daquelas pessoas mais focadas nas suas comunidades nacionais…

CLE se o candidato republicano tivesse sido derrotado?

P.S. – É claro que Trump criou um movimento. Mesmo que perdesse, teria uma posição bastante poderosa dentro do Partido Republicano e seria capaz de moldar o diálogo a partir da sua base em Nova Iorque, ficando ainda as duas Casas [Senado e Congresso] sob o controlo republicado. Uma nova estrutura nuclear foi criada nos Estados Unidos, liderada por Trump. Por isso, e voltando à questão: foi ele quem ganhou.

CLA sociedade americana está profundamente dividida. Há o perigo de tumultos?

P.S. – Poderá haver pequenos distúrbios, mas Trump tem uma grande rede de apoio por todo o País. É algo óbvio. Donald Trump cresceu e começou a sua carreira profissional em Nova Iorque. Não há cidade mais internacional e etnicamente mais diversificada nos Estados Unidos do que esta. Os nova-iorquinos sabem que ninguém pode ser nova-iorquino sem ter uma visão étnica, pois lida-se e trabalha-se com todo o tipo de pessoas. Donald Trump terá à sua volta pessoas que lidam com muitos destes grupos que talvez estejam desapontados. Um dos principais grupos será o de afro-americanos, mas terá consigo Ben Carson e o xerife de Milwaukee County, David Clack Jr. Ambos são afro-americanos, extremamente respeitados e bons líderes, capazes de agir em qualquer tipo de distúrbios e moderá-los.

CLDonald Trump parece ser uma pessoa bastante questionável…

P.S. – O mais importante é não ser apanhado na grande probabilidade de lutas políticas causadas especialmente durante a sua campanha. É preciso ir muito atrás e ver quem Donald Trump é, onde começou o seu negócio, que negócio era, o quanto difícil foi geri-lo e o sucesso que atingiu, com diferentes organizações e tipos de pessoas.

CLHouve denuncias públicas de racismo, de intolerância, de assédio sexual e de não ser um empresário honesto…

P.S. – É importante diferenciar a retórica e a híper-linguagem que circula na classe política e nos media a partir da realidade.

CLE as palavras fortes que saíram da sua boca!?

P.S. – Não tão fortes como as dos democratas, que o acusaram fortemente de ser intolerante, racista, anti-semita. Não se pode gerir um negócio, como ele tem feito em Nova Iorque e noutras partes do mundo, com o grau de sucesso atingido, sem ser extremamente inteligente e ter mente aberta. É impossível consegui-lo.

 

Incertezas para Macau (Caixa)

A vitória de Donald Trump pode representar, a médio e longo prazo, um decréscimo do poder e influência americana em Hong Kong e Macau, sustentou a’O CLARIM o advogado Carlos Lobo.

«Focando-me nas consequências a médio prazo para Macau, julgo que vêm aí tempos algo conturbados. Em primeiro lugar, acredito que o Trump não irá cumprir com várias promessas que fez durante a campanha eleitoral. Não vai construir o muro entre o México e os Estados Unidos, muito menos fazer com que o México pague o muro. E não vai conseguir afastar-se da política externa de segurança, por exemplo em relação ao seu papel na NATO e nos seus acordos de cooperação com países asiáticos, por causa da própria segurança nacional dos Estados Unidos», disse.

Ou seja, os acordos com o Japão e a Coreia do Sul «serão para manter», ao invés da «política isolacionista», que «permitiria o crescimento da China».

«Significa isto que em termos de política externa Donald Trump terá poucas metas para cumprir relativamente às suas promessas eleitorais. Todavia, dado o controlo do Congresso e do Senado pelos republicanos, uma delas que será capaz de tentar – e de conseguir – é criticar a China no seu comportamento global, mais concretamente por alegada manipulação do renmimbi», explicou.

«Após a tomada de posse, julgo que a curto e médio prazo será mais fácil que tome uma posição de força contra a China, talvez com acusações de “roubar” empregos, manipulação monetária e espionagem industrial», frisou Carlos Lobo, referendo que «se assim for, a China deverá reagir com cuidado, dado que parece pretender manter relações estáveis com os Estados Unidos, mas terá que reagir. Muito provavelmente, tentará diminuir com mais vigor a força dos americanos em Hong Kong e Macau, o que em determinados momentos poderá ser problemático».

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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