Pascale Warda, ex-ministra do Iraque para as Migrações e Refugiados

«Se a ONU não reconhece o genocídio, participa nele».

Pascale Warda critica o reconhecimento do genocídio apenas contra yazidis pela Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Síria. Católica caldeia é actualmente a voz dos cristãos perseguidos no Iraque.

«As Nações Unidas parecem minimizar o sofrimento dos cristãos tentando não reconhecer o genocídio como fazem com os yazidis. Nós, os cristãos, temos de reagir e exigir os direitos do nosso povo, que foi o primeiro alvo», explica Pascale Warda em declarações à Família Cristã. Foi isso mesmo que a levou a escrever já ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

A antiga ministra do Iraque defende que o genocídio contra cristãos acontece desde 1915 e que «estas atrocidades são condenadas ao silêncio e este silêncio deu a possibilidade de repetir o genocídio e não de acabar com ele. Por isso, a prevenção é possível responsabilizando os autores». Por tudo isso, afirma que «a ONU tem o dever moral de reconhecer estes crimes contra a humanidade. Os crimes contra os cristãos e yazidis são genocídio contínuo desde 2014. Foi isso mesmo que pedi a este Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas».

Pascale Warda acaba de chegar a Erbil, no Iraque. Não fica surpreendida com a notícia do reconhecimento. Tem denunciado os crimes e a perseguição às minorias pelo autoproclamado Estado Islâmico em conferências, palestras e entrevistas por todo o mundo. «O reconhecimento de genocídio contra os cristãos é um passo importante, não apenas para levar os criminosos à justiça e aqueles que os ajudaram e para dar a possibilidade às vítimas de ter os seus direitos nos países onde estão indefesos. É mais importante para prevenir este tipo de genocídios e pôr-lhe um fim».

Ainda recentemente, Pascale Warda esteve em Portugal e denunciou em entrevista à Família Cristã os crimes contra cristãos e outras minorias no Iraque: «Na organização Hammurabi Direitos Humanos registámos mais de cem casos de cristãs e yazidis. Ouvimos histórias de violência sexual… piores do que selvagens. Não consegui continuar a escrever o que ouvia da boca de meninas de doze, vinte ou dez anos que contavam coisas terríveis. Dei-lhe o papel e disse: “És mais corajosa do que eu. Escreve”. Documentei tudo, publiquei e exigi ao Governo que fizesse algo. Mas até agora ainda ninguém fez nada. As mulheres vêm quase nuas, mortas de fome, de calor, de sede. É verdadeiramente uma história negra a que se passa neste momento com as mulheres que estão às mãos do Daesh».

A activista não poupa nas palavras: «As Nações Unidas devem reconhecer o genocídio! Devem! É o seu dever! Se não reconhecem o genocídio no Iraque com cristãos e yazidis também estão a participar nesse genocídio. Para mim é imperdoável. São crimes continuados e que é preciso que o mundo entenda e veja o que se passa».

 

Genocídio

A Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Síria, das Nações Unidas, conclui que a minoria yazidi é alvo de genocídio por parte do autoproclamado Estado Islâmico (ISIS). O relatório “Eles vêm para destruir: os crimes do ISIS contra os yazidis” revela que em, pelo menos, cinco províncias da Síria, meninas e mulheres são oferecidas e vendidas em mercados de escravos. As que tentam fugir são espancadas e, em alguns casos, alvo de violações colectivas. O documento refere ainda transferências e conversão religiosas forçadas.

A Comissão Internacional entrevistou sobreviventes, líderes religiosos, contrabandistas, activistas, advogados, pessoal médico e jornalistas. Conclusão: o Daesh está a cometer genocídio contra a minoria yazidi.

Este relatório, agora divulgado, diz que “o ISIS tem procurado apagar os yazidis através de assassinatos, escravidão sexual, escravidão, tortura e tratamentos desumanos e degradantes, transferência forçada, causando sérios danos físicos e mentais e imposição de condições de vida que provocam uma morte lenta”.

Mas ainda há mais atrocidades reveladas. São impostas “destinadas a evitar que as crianças yazidis nasçam, incluindo a conversão forçada de adultos; a separação de homens e mulheres yazidis e o trauma mental; e a transferência de crianças yazidis de suas famílias, tornando-as combatentes do ISIS, separando-as das crenças e práticas da sua própria comunidade religiosa”.

A Comissão das Nações Unidas apelou ao Conselho de Segurança para levar “urgentemente” a situação na Síria ao Tribunal Penal Internacional, salientando que não pode haver impunidade.

O mandato da Comissão é apenas para violações contra yazidis em território da Síria.

Cláudia Sebastião

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